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segunda-feira, 31 de julho de 2017

“Bruna Andressa”- um suicídio “ao vivo”, seus pais e muitas agonias (Jorge Hessen)




Jorge Hessen

A jovem Bruna Andressa Borges, de 19 anos, se suicidou e transmitiu ao vivo o ato na tarde do dia 26 de julho de 2017 na casa de seus pais, na Vila Militar do bairro Bosque, em Rio Branco, Acre. O vídeo foi transmitido através do Instagram para 286 seguidores. Bruna era estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal do Acre (Ufac). Antes de se enforcar também publicou mensagens no Facebook. “Já fui abandonada e julgada pela pessoa que achei que seria minha melhor amiga, a pessoa que amei me humilhou e riu da minha cara, me chamou de ridícula. Talvez eu seja, mas não pretendo continuar perguntando para saber”, escreveu.

Os pais de Bruna foram encontrados mortos dois dias depois em casa. Os corpos do subtenente Márcio Augusto de Brito Borges, de 45 anos, e da esposa, a ex-sargento Claudineia da Silva Borges, 39, estavam na casa onde moravam, na Vila Militar. As informações da perícia dão conta de que o casal foi encontrado no mesmo local em que sua filha Bruna cometera suicídio dois dias antes.

Há 7 anos uma jovem  de 15 anos suicidou-se com um tiro de revolver, dentro de uma escola, em Curitiba. Não houve grito nem pedido de socorro. Em silêncio, ela entrou no banheiro e se trancou em uma das cinco cabines. Sentada sobre o vaso sanitário, disparou contra a boca. Três meses antes da tragédia, a jovem procurou os pais e pediu para que eles a levassem a um psicólogo. Dizia sentir-se triste e desmotivada. O pai passou a pegá-la na aula de pintura e levá-la, semanalmente, a um psiquiatra. No inquérito policial sobre o suicídio, apurou-se que ela tomava benzodiazepínicos (soníferos) para dormir, e outros medicamentos para controlar a ansiedade que sentia.

Diante dos dilemas acima indagamos: Como os pais podem proteger os filhos dos desequilíbrios emocionais que assolam a juventude de hoje? Obviamente, precisam estar atentos. Interpretar qualquer tentativa ou prenúncio de potencial suicídio como sinal de alerta. O ideal é procurar ajuda especializada de um psicólogo e, para os pais espíritas, os recursos terapêuticos dos centros espíritas. Aproximar-se com mais afinco do filho que apresenta sinais fortes de introspecção ou depressão. O isolamento e o desamparo podem terminar com aguda depressão e ódio da vida.

É evidente que sugerir serem os pais os únicos responsáveis pelo autocídio de um filho é algo muito delicado e preocupante, pois trata-se um ato pessoal de extremo desequilíbrio da personalidade, gerado por circunstâncias atuais ou por reminiscências de existências passadas. Se há culpa dos pais, atribui-se à negligência, à desatenção, a não perceber as mudanças no comportamento do filho e a tudo que acontece à sua volta. Sobre isso, estamos convictos de que a sociedade como um todo é igualmente culpada. Antes de colocar o fardo da culpa nos pais em primeiro lugar, reflitamos: quem pode controlar a pressão psicológica que uma montanha de apelos vazios faz na cabeça dos jovens diariamente?

O suicídio é um ato exclusivamente humano e está presente em todas as culturas. Suas matrizes causais são numerosas e complexas. Os determinantes do suicídio patológico estão nas perturbações mentais, depressões graves, melancolias, desequilíbrios emocionais, delírios crônicos etc. Algumas pessoas nascem com certas desordens psíquicas, tal como a esquizofrenia e o alcoolismo, o que aumenta o risco de suicídio. Há os processos depressivos, em que existem perdas de energia vital no organismo, desvitalizando-o, e, consequentemente, interferindo em todo o mecanismo imunológico da pessoa.

A religião, a moral e todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às leis da Natureza. Todas asseveram que ninguém tem o direito de abreviar, voluntariamente, a vida. Entretanto, por que não se tem esse direito? Por que não é livre o homem de por termo aos seus sofrimentos? Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que o suicídio não é uma falta somente por constituir infração de uma lei moral - consideração esta de pouco peso para certos indivíduos –, mas também um ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica. Antes, o contrário, é o que se dá com eles na existência espiritual após esse ato tão insano.

A rigor, não existe pessoa "fraca", a ponto de não suportar um problema, por julgá-lo superior às suas forças. O que de fato ocorre é que essa criatura não sabe como mobilizar a sua vontade própria e enfrentar os desafios. Na Terra, é preciso ter tranquilidade para viver, até porque não há tormentos e problemas que durem uma eternidade. Recordemos que Jesus nos assegurou que "O Pai não dá fardos mais pesados que nossos ombros" e "aquele que perseverar até o fim, será salvo". [1]

Referência bibliográfica:

[1] Mt. 24,13

domingo, 30 de julho de 2017

A TESTEMUNHA E O LEITOR (JUIZ)



Luiz Carlos Formiga

Hoje, 30 de julho, na Folha, o Dr. Sergio Moro explica que se consideram no julgamento do processo penal as provas diretas e as indiciárias, ou indiretas. Para ser didático exemplifica: uma testemunha que viu um homicídio é uma prova direta. Aquele que não viu o homicídio, mas viu alguém deixando o local do crime, com uma arma fumegando, embora não tenha presenciado o fato, contribui com uma prova indireta, pois viu algo do qual se infere que a pessoa é culpada. (1)
Advogados procuram desqualificar as provas, com o objetivo de beneficiar o cliente, que os contrataram.
Isso aconteceu com a prova direta oferecida por um cientista. Um dos advogados-cientistas chegou a declarar que aquilo que William Crookes declarava “era impossível”. (2)
Um fato recente e também muito relevante foi uma declaração de uma testemunha ocular.  O Dr. Paulo Cesar Fructuoso disse que viu um espírito materializado.
O que está bom, ainda pode melhorar. Sendo médico-cirurgião, a testemunha declara que o espírito também era médico, que na presença de outros colegas também médicos, realizou uma cirurgia cardíaca inusitada, em paciente, que também era médico.
Classifiquei como inusitada a cirurgia cardíaca porque o espírito-médico “trocou o pneu com o carro andando”. (3)
Fora de série também foi a cura de 10 leprosos e a o encontro da inteligência espiritual em um deles. (4, 5)
Foi incrível, diz a estudante de medicina, que assistiu ao depoimento, no CREMERJ, do Dr. P.C. Fructuoso. (6)
Este fato, cirurgia cardíaca sem hemorragia, lembrou a importância da declaração de William Crookes e, também, a importância de investigações que estão sendo realizadas fora dos Centros Espíritas e que de algum modo poderiam ser pensadas como “provas indiretas”. (7)
O Dr Paulo no interrogatório, feito pelos acadêmicos de medicina, disse que “viu” o espírito materializado operando e segurou a peça cirúrgica, enviada ao laboratório de Patologia. Ele viu o Dr. Espírito “com a arma na mão e ainda fumegando.” (8)
Políticos não têm interesse em combater a corrupção, assim como materialistas e incrédulos não têm interesse em pesquisas sobre mediunidade. No Brasil as pesquisas são feitas na universidade, que ainda  não vê como indissociável o binômio ensino-pesquisa. (9)

Leia toda a sentença da Testemunha-Juiz em 

Fructuoso, PC. Livro. A Face Oculta da Medicina. Educandário Social Lar de Frei Luiz. RJ.RJ. 2013. 336 p. tel (21)3539-9550 www.lardefreiluiz.org.br

Considerando que a alma não é imortal, o articulista e “seu cúmplice”(*) “não estão nem aí” para a delação premiada do Dr. Fructuoso. Se a alma for imortal não necessitaremos de “cobrar o bônus hora”(**). (10)


(*) cúmplice está entre aspas porque quem é ético não tem cúmplices, mas amigos verdadeiros.
(**) Crédito moral


quarta-feira, 26 de julho de 2017

Acatemos a dor física como educadora da alma (Jorge Hessen)


Jorge Hessen

Uma comovente batalha judicial dos pais de um bebê britânico em estado terminal acabou envolvendo até mesmo o Papa Francisco. Trata-se de Charlie Gard que sofre de síndrome de miopatia mitocondrial, uma síndrome genética raríssima e incurável que provoca a perda da força muscular e danos cerebrais. Ele nasceu em agosto de 2016 e, dois meses depois, precisou ser internado, onde permanece desde então, no Hospital Great Ormond Street, em Londres.
O serviço de saúde pública do Reino Unido (NHS) explicou que Charlie tem danos cerebrais irreversíveis, não se move, escuta ou enxerga, além de ter problemas no coração, fígado e rins. Seus pulmões apenas funcionam por aparelhos. O NHS disse que os médicos chegaram a tentar um tratamento experimental trazido dos EUA, mas Charlie não apresentou melhora. Por isso, defende o desligamento dos aparelhos que o mantêm vivo.
Mas seus pais, Chris Gard e Connie Yates - e uma comunidade de apoiadores -, lutam contra a decisão do hospital e pedem permissão para levar o bebê aos Estados Unidos para receber o tratamento experimental diretamente. No dia 27 de junho de 2017, entretanto, eles perderam a última instância do pedido na Justiça britânica, que avaliou que a busca pelo tratamento nos EUA apenas prolongaria o sofrimento do bebê sem oferecer possibilidade de cura.
A Corte Europeia de Direitos Humanos também concluiu que o tratamento "causaria danos significativos a Charlie", seguindo a opinião dos especialistas do hospital, e orientou pelo desligamento dos aparelhos. No dia 02 de julho de 2017, após a decisão da Justiça britânica, o Papa Francisco pediu que os pais de Charlie possam "tratar de seu filho até o fim". O Vaticano disse que o papa estava acompanhando o caso "com carinho e tristeza".
O serviço de saúde pública do Reino Unido (NHS) não propõe a eutanásia, mas a ortotanásia [1]. Os pais de Charlie lutam pela distanásia, ou seja, desejam o prolongamento artificial do processo de tratamento, o que para os juízes e médicos tem trazido sofrimento para Charlie, e nessa situação a medicina não prevê possibilidades de melhoria ou de cura.
No Brasil, médicos revelam que eutanásia é prática habitual em UTI’s, e que apressar, sem dor ou sofrimento, a morte de um doente incurável é ato frequente e muitas vezes pouco discutido nas UTIs dos hospitais brasileiros. [2] Nos Conselhos Regionais de Medicina, a tendência é de aceitação da eutanásia, exceto em casos esparsos de desentendimentos entre familiares, sobre a hora de cessar os tratamentos.
Médicos e especialistas em bioética defendem a ortotanásia, como no caso de Charlie Gard, que é o ato de retirar equipamentos ou medicações, de que se servem para prolongar a vida - Charlie hoje se encontra em estado terminal. Ao retirar esses suportes de vida (equipamentos ou medicações), mantendo apenas a analgesia e tranquilizantes, espera-se que a natureza se encarregue de agenciar a fatalidade biológica (morte).
Charlie está sofrendo com intensidade? Sim, está! Mas toda dor tem a sua serventia. Sob o ponto de vista espírita, aprendemos que a agonia física prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma, e a moléstia incurável pode ser, em verdade, um bem. Nem sempre conhecemos as reflexões que o Espírito pode fazer nas convulsões da dor biológica e os tormentos que lhe podem ser poupados graças a um relâmpago de arrependimento.
Entendamos e acatemos a dor física, como instrutora das almas e, sem vacilações ou indagações descabidas, amparemos quantos lhes experimentam a presença constrangedora e educativa, lembrando sempre que a nós compete, tão-somente, o dever de servir, porquanto a Justiça, em última instância, pertence a Deus, que distribui conosco o alívio e a aflição, a enfermidade, a vida e a morte no momento oportuno.
O verdadeiro cristão porta-se, sempre, em favor da manutenção da vida e com respeito aos desígnios de Deus, buscando não só minorar os sofrimentos do próximo - sem eutanásias passivas, claro! - mas também confiar na justiça e na bondade divina, até porque nos Estatutos de Deus não há espaço para dores injustas.
Notas:
[1]Etimologicamente, a palavra "ortotanásia" significa "morte correta", onde orto = certo e thanatos = morte. A ortotanásia, ou "eutanásia passiva" pode ser definida como o não prolongamento artificial do processo natural de morte, onde o médico, sem provocar diretamente a morte do indivíduo, suspende os tratamentos extraordinários que apenas trariam mais desconforto e sofrimento ao doente, sem melhorias práticas.
[2]Associação de Medicina Intensiva Brasileira nega que a eutanásia seja frequente nas UTIs no Br

terça-feira, 25 de julho de 2017

As expressões “Kardecismo” e/ou “kardecista” não devem ser desestimadas (Jorge Hessen)





Jorge Hessen

É evidente que o termo espírita só é aquele preconizado por Kardec, sem hibridezes. Entretanto, as palavras “kardecista" e/ou "kardecismo" seriam de uso censuráveis? Talvez seja ineficaz a utilização dessas palavras, no entanto jamais serão impróprias. Além disso, entendemos que há algumas ponderações plausíveis a serem expostas com relação ao assunto.

Primeiramente recorramos ao Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa [1]. Nele encontraremos as definições: kardecismo - Doutrina religiosa de Allan Kardec; kardecista - pertencente ou relativo a Allan Kardec ou ao kardecismo - adepto do kardecismo. A Enciclopédia Universal define o seguinte: kardecismo - Doutrina de Allan Kardec, espiritismo - kardecista - aquele que adota as doutrinas de Allan Kardec - Relativo a kardecismo [2]. Estamos aqui fazendo referência a duas consagradíssimas fontes do saber.

Dizem que existe uma guimba de preconceitos a substituição dos termos espírita e Espiritismo pelos termos "kardecista" e "kardecismo", visando que suas crenças não sejam confundidas com aquelas que, para tais, são "inferiores", portanto não querem ser identificados como feiticeiros ou macumbeiros. Mas vale aqui uma ponderação. Em quase todos os lugares que se pratica o mediunismo, alcunha-se de “espírita”.

Vejamos, existem instituições nomeadas como "centro ‘espírita’ caboclo beltrano", "tenda ‘espírita’ pai sicrano", "cabana ‘espírita’ vovô fulano", "centro ‘espírita’ tenda fraterna", "centro ‘espírita’ de umbanda cobra coral", "centro ‘espírita’ pai Joaquim” etc. Em tais instituições não há qualquer orientação espírita, portanto precisariam substituir o nome ‘espírita’ por espiritualista.

Apesar das apropriações indébitas do termo ‘espírita’, conquanto sem cumplicidade, pois cada coisa deve estar em seu devido lugar. Os espíritas, respeitamos todas as seitas, cultos, religiões, valorizamos todos os esforços para a prática do bem, trabalhamos pela confraternização entre todos os homens, independentemente de raça, cor, nacionalidade, crença ou nível cultural e social, e reconhecemos que, segundo Kardec, "o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza".[3]

Se o Espiritismo rejeita quaisquer cultos externos, é óbvio que não pode ser considerado espírita quem exercita cultos em “terreiros”, quem é adepto de magia “branca” ou “negra”, quem adota idolatria, conquanto se consideram espiritualistas. Com as lições de Allan Kardec, cuja literatura não poderá deixar de ser fonte básica do Espiritismo, devemos asseverar que o conceito ou o nome de espírita não podem ser aplicados aos seguidores de qualquer seita ou prática espiritualista, porém tão somente aos estudiosos e praticantes que abarcaram a Doutrina dos Espíritos e por lógica já não se vinculam mais ao ritualismo nem aos preceitos e dogmas que estreitam a inteligência, petrificam a fé e fragmentam o bom senso.

É por essas e outras que o emblemático sincretismo religioso brasileiro tem remetido as pessoas a confundirem Espiritismo com ocultismo, esoterismo, teosofia, orientalismo, umbandismo, xamanismo, exorcismo, exoterismo, ubaldismo, ramatisismo e demais mistismos iguais ao roustanguismo febiano e outros análogos. Em face disso é perfeitamente compreensível a defesa de alguns confrades para o uso do célebre "sou kardecista" para se harmonizarem de forma racional às circunstâncias cabíveis.

Kardecismo? Anos atrás, jamais se admitiria essa hipótese, pois Espiritismo só existe um. No entanto, e embora consciente de que o Espiritismo não foi obra de um homem, mas dos Espíritos Superiores, e que o mestre lionês, por isso mesmo, foi apenas o instrumento de que a espiritualidade maior se serviu para transmitir novas diretrizes de amor e paz à Humanidade, nada obsta que cheguemos ao fato concreto de que o sufixo "ismo", em seu pseudônimo, seja disseminado para designar o movimento religioso (Espiritismo) por ele codificado. Ou seja, o termo Kardecismo distinguiria a doutrina por si só.

Como exemplo dessa ordem, podemos citar o Darwinismo, Platonismo, Socratismo, Luteralismo, Calvinismo etc. E quem nos garante que os métodos desses grandes vultos da História tenham sido particularíssimos, isto é, sem a inspiração de Espíritos Superiores? É óbvio que foram inspirados. Portanto, nada mais justo, oportuno e conveniente que estudemos essa possibilidade, "também", pois os espíritos superiores, por serem superiores, representam a permanente tranquilidade interna ante as atitudes que promovam e dignifiquem o legítimo pensamento espírita.

Urge que se faça a distinção, pois não podemos admitir que a Doutrina Espírita caminhe com luzes na essência e obscurantismo na sua difusão e aplicação prática. É um fato real e digno de nossa atenção. Naturalmente a nossa presunção no texto não é modificar coisa alguma, mesmo porque não detemos poder para tanto, porém reafirmamos (sem o fantasma da culpa) que o uso das expressões Kardecismo ou Kardecista não constitui um atentado contra a Doutrina dos Espíritos, por isso mesmo não deve ser motivo de censuras, análises severas ou indignação, pois esses vocábulos estão perfeita e intrinsecamente associados ao termo Espiritismo.

 Referências bibliográficas:
[1]            Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, SP: Ed Positivo, 2010
[2]            Enciclopédia Universal.  São Paulo:  Editora Pedagógica Brasileira LTDA, 1969

[3]            KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XVII, Item 3, RJ: Ed. FEB, 2001

“Andar com fé eu vou...” Jorge Hessen



Jorge Hessen

“Andá com fé eu vou. Que a fé não costuma faiá”, diz o refrão da música do cantor Gilberto Gil. Narra a carta aos Hebreus que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Cremos que fé é a certeza da aquisição daquilo que se tem como finalidade.

Sem a fé racional, nas situações de crise, seja de ordem econômica ou agravamento da insegurança pública, as relações sociais, pessoais e familiares se deterioram. Diante das incertezas, é comum que o medo domine as mentes de uns ou de outros. Pensar que não se conseguirá enfrentar uma doença, lidar com os erros, a perda do emprego ou dos bens materiais amplia o temor de muitos. Surge o pânico nalguns ante a chegada da velhice, da solidão, da perda de um amor e assim por diante. Caminha o tímido sob as ansiedade e desconfortos psicológicos.

Os irrequietos, os estressados visitam, cinco vezes mais, médicos que uma pessoa normal. O sintoma crônico da ausência de fé e do medo estão gerando enigmas físicos e emocionais, tais como infarto do miocárdio, úlcera e insônia. Para nós, estudiosos do Espiritismo, sabemos que a solução para o enfrentamento dos embates da vida e do medo é o exercício da fé coerente, apontando-nos o rumo do equilíbrio emocional. É igualmente a certeza da reencarnação e a convicção da imortalidade que nos reforça o alimento da fé diante dos desafios do viver.

Fundamentalmente, a fé deve apoiar-se na razão sempre. Até porque a fé não é um dom fornecido por Deus para alguém em especial, nem deve ser imposta de fora para dentro. A fé é o produto da conquista pessoal na busca da compreensão do caminho correto, das verdades que permeiam a essência das próprias vidas, por meio do conhecimento, da experiência, das reflexões pessoais e pelo esforço que se faz para o auto amor e por entender que o amor é a causa da vida, e a vida é o efeito desse amor.

Na mensagem de Jesus, aprendemos a lição da fé (transportadora de montanhas) da coragem, do otimismo, do bom senso capazes de renovar nossas tendências, impedindo que o medo, a depressão e a angústia se apossem de nosso cotidiano. Até porque “a fé não costuma faiá”.


segunda-feira, 24 de julho de 2017

EXU (*)

Luiz Carlos Formiga


Um fanático deve sofrer de uma virose, mas que difere da causada pelo vírus Herpes.
          O Herpes é um vírus com afinidade dermoneurotrópica, mostrando tendência à citopatogenicidade focal. São lesões autolimitadas recorrentes de curta duração. (1)
O fanatismo lembra uma doença causada por uma bactéria, que acomete políticos, pois é de longa duração (2). Por outro lado, pode se assemelhar a AIDS (virose) ou Tuberculose (bactéria), pois também está envolvida com preconceitos.
Na medicina o preconceito pode trazer problemas diversos, como na hanseníase, que é uma doença infecciosa relativamente benigna, "pouco contagiosa" e não letal. No entanto, os pacientes sofrem com uma doença social grave, em torno de um núcleo físico relativamente pouco importante, que é a lepra. O leproestigma dá origem ao ato de evitar, discriminar e segregar. (3)
A paciente-enfermeira relatou:: ”Não contei para a minha família, que mora fora do estado, mas fui à televisão fazer reivindicações em nome dos pacientes pobres, pois eu tenho plano de saúde. Aí, meu tio me viu na TV e emergiu todo o seu preconceito e discriminação.
Para familiares, disse que "achava nobre a minha conduta, mas precisava dizer, na televisão, que tinha tido aquela doença?" (4)
No Núcleo Espírita Universitário (NEU) discutimos o que se chamou de “Ética da Tolerância”. A erradicação do preconceito não pode ser feita por decreto, pois é uma questão de inteligência espiritual, de conscientização, de educação. Para chegar-se ao objetivo da erradicação dos estigmas não podemos nos apoiar num modelo autoritário de fidelidade ideológica. Precisamos chegar voluntariamente à aceitação de que somos iguais, mas diferentes. (5)
       Pensemos na religião brasileira. Em matéria de fé, para que possamos desenvolver quaisquer convicções é necessário que haja a possibilidade de comunicação com outros e consequentemente ter acesso a diferentes pontos de vista. A liberdade religiosa só tem sentido em condições de reciprocidade e o direito de igualdade pressupõe o direito à diferença. (6)
Numa linguagem das ciências jurídicas, escrevemos um texto sobre os problemas enfrentados, entre nós, pela única religião criada no Brasil. (7)
Através da Arte se pode educar, conscientizar, colaborando para uma coexistência pacífica, entre os diferentes.
Uma boa notícia. O Grupo Corpo resiste a clichês e faz bela homenagem a Exu em nova coreografia.
Essa iniciativa lançará mão da dança e certamente ajudará, e muito, na desconstrução do preconceito.
“Gira” é o novo balé da Companhia e a 39º montagem da carreira. Com trilha sonora do trio Metá Metá a nova coreografia flerta com a Umbanda.
Rodrigo Pederneiras diz que “Gira é uma festa para Exu” e tem cerca de 40 minutos e durante todo esse tempo o Corpo resiste bravamente aos clichês de brasilidade que poderiam surgir em uma homenagem a uma entidade espiritual.
Gira fará dobradinha com Bach entre os dias 04 A 13 de agosto, Teatro Alfa em SP; 23 a 27 de agosto, Theatro Municipal do Rio de Janeiro; 02 a 06 de setembro, Palácio das Artes em Belo Horizonte; 07 e 08 de outubro, Teatro do Sesi, Porto Alegre. (8)
Sinais de “Terceiro Milênio”.
Ainda parece quase impossível curar um fanático ou o Transtorno da Personalidade Antissocial, uma vez que o portador dessa disfunção, não tem deixado a penitenciária em melhores condições. (9)
Mas, o Terceiro Milênio está apenas começando! Aí vem uma nova geração (10)

(*) Reginaldo Prandi , professor de Sociologia da Universidade de São Paulo, diz: “para que os seres humanos possam viver bem neste mundo, é preciso estar bem com os deuses e que Exu é o porta-voz dos deuses e entre os deuses. Ele faz a ponte entre este mundo e o mundo dos orixás, especialmente nas consultas oraculares. Como os orixás interferem em tudo o que ocorre neste mundo, incluindo o cotidiano dos viventes e os fenômenos da própria natureza, nada acontece sem o trabalho de intermediário do mensageiro e transportador Exu.” http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/P_autores/PRANDI_Reginaldo_tit_exu_prim.htm

Leia mais.↧










terça-feira, 18 de julho de 2017

Desarticulações emocionais

Jane Maiolo

“Quem és tu senhor?”[1]

Entre os anos 750 e 730 a.C, aproximadamente, Isaías, considerado pelos pais da igreja, o maior de todos os profetas, desponta com as suas divinas previsões. É Isaias quem primeiramente antevê a vinda D’aquele que iria alterar a trajetória e a cronologia da histórica humana, o Cristo.

Anuncia o profeta: "Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel." [2]

Zacarias registra: "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que vem a ti o teu rei; ele é justo e traz a salvação; ele é humilde e vem montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho de jumenta." [3]

Miqueias anota: "Mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade." [4]

Emmanuel, orientador espiritual de Francisco Candido Xavier, no livro O Consolador , questão 276 , elucida que “nos textos sagrados das fontes divinas do Cristianismo, as previsões e predições se efetuaram sob a ação direta do Senhor, pois só Ele poderia conhecer bastante os corações, as fraquezas e as necessidades dos seus rebeldes tutelados, para sondar com precisão as estradas do futuro, sob a misericórdia e a sabedoria de Deus.”[5]

Há 750 a.C. era anunciada a vinda do Cristo. Há dois mil anos o Governador espiritual do orbe , sob os auspícios do Pai , nasce cumprindo toda a programação elaborada por Ele mesmo a fim de lecionar o amor incondicional aos homens terrenos.

A humanidade se inquieta.Desconjunta-se.

A criatura humana sempre admitiu, concebeu e desejou a existência de um ser superior , dotado de poderes que pudesse livrá-la das teias do mal e trazer um mundo vindouro.

O homem do século XXI é o mesmo ser das mais remotas civilizações apenas com milênios de experiências acumuladas no capítulo do progresso intelectual, moral e material. Ora protagonista de experiências que o elevam, que o transformam , que o educam, ora protagonista ou coadjuvante de cenas sofríveis , perturbadoras e desarticuladoras.

As desarticulações emocionais fazem parte do processo de crescimento socio-psíquico e emocional do homem. Nossos estados íntimos alteram-se ao ritmo dos nosso humores. Nessas polivalências emotivas somos capazes de arriscar a própria vida em favor de alguém ou alguma causa, para logo em seguida ingressarmos ao estado de intranquilidade sintonizando-nos com o mal. A coragem e a covardia são estados súbitos da alma.

“Quem és tu senhor?” –interrogaria Saulo de Tarso há dois mil anos , ele um destacado rabino ,vanguardeiro da lei, dos escritos e dos profetas , foi surpreendido com o fenômeno da luminescência naquele dia de sol abrasador nos acessos que conduziam a Damasco.

“Tú es o Filho do Deus Vivo”- exclamaria Pedro. O pescador que conviveu com o mestre por três breves anos.

Coragem e covardia. Devotamento e receio. Entusiasmo e abatimento.

Quem és tu senhor?

Ainda não conseguimos compreender quem é esse Ser que nos serve de modelo e guia [6] que não nos pede nada e nos ensina tudo.Que fala sem palavras e indica sem constranger.

Quem és tu senhor?

Passam-se os milênios e não somos capazes de responder essa indagação. Entretanto tal qual o senador Públio Lentulus ainda clamamos: “Não sei compreender a tua cruz e ainda não sei aceitar a tua humildade dentro da minha sinceridade de homem, mas, se podes ver a enormidade de minhas chagas, vem socorrer, ainda uma vez, meu coração miserável e infeliz!...”[7]

Preciso é desvendar o Cristo para nos convertermos em trabalho de edificação no bem. O momento requer trabalhadores afinados com o propósito de renovação pelo qual a comunidade terrestre avança. 

O homem saberá quem é o Cristo quando suas ações diminuirem as dores , as aflições e o sofrimentos dos seus semelhantes.

Articulemos nossos sentimentos sintonizando-os com o pensamento crístico que convida a todos a servir sem exigir reconhecimento.

Quem és tu , Senhor? E disse o Senhor ao moço de Tarso: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões. [8]

Permita Jesus que possamos atingir os fins a que nos propomos,apresentando condições de convertemos ao seu amor e participar do movimento crescente de esperança no mundo vindouro.


Referências Bibliográficas:

1-Atos 9:5

2-Isaias 7:14

3- Zacarias 9:9

4-Miqueias 5:2

5-Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo espírito Emmanuel, questão 276, RJ: Ed. FEB 2000.

6- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 625- Rio de Janeiro: Ed FEB, 2007

7- XAVIER, Francisco Cândido. Há dois mil anos ,cap. V, ditado pelo Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 2001

8-Idem 1



*Jane Maiolo – É professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Dirigente da USE Intermunicipal de Jales. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora do Evangelho de Jesus. Colaboradora da Agenda Brasil Espírita- Jornal O Rebate /Macaé /RJ – Jornal Folha da Região de Araçatuba/SP –Blog do Bruno Tavares –Recife/PE e outros sites espíritas - Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita.
E-mail  janemaiolo@bol.com.br -

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Será Chico Xavier a reencarnação de Allan Kardec? (*)


AMÉRICO DOMINGOS NUNES FILHO
 amecgs@gmail.com
 Rio de Janeiro, RJ (Brasil)


Chico Xavier disse, em 28 de agosto de 1988, em entrevista ao Diário da Manhã, de Goiânia-Goiás, respondendo à pergunta se seria Kardec reencarnado: “Não, não sou. (...) digo isto com serenidade. Não sou. Consulto a minha vida psicológica, as minhas tendências. Tudo aquilo que tenho dentro do meu coração sou eu. Não tenho nenhuma semelhança com aquele homem corajoso e forte que, em doze anos, deixou dezoito livros maravilhosos”.
Pelo contrário, no programa “Pinga-Fogo 2”, Chico relatou ter vivenciado, em diversas existências, um intelectual derrocado e veio como médium para resgatar essa dívida. Assim se expressou: “... nos informamos com ele [Emmanuel] de que, em outras vidas, abusamos muito da inteligência, nós em pessoa...” e, igualmente, reproduz as seguintes palavras de Emmanuel: "Você não escreverá livros, em pessoa, porque você mesmo renunciou a isso... Seu Espírito, fatigado de muitos abusos dentro da intelectualidade, quis agora ceder as suas possibilidades físicas a nós outros, os amigos espirituais”.
Segundo essa informação, seria impossível Chico Xavier ter sido Kardec, visto que o Codificador foi vitorioso em sua missão, não se limitando apenas à observação do fenômeno da comunicação mediúnica, já que se aprofundou nesse intercâmbio e descortinou amplamente o universo espiritual, tomando conhecimento de suas leis e de suas relações com o mundo físico. 
Ao contrário do brilhante trabalho intelectual desempenhado por Kardec, Chico se caracterizou apenas como intermediário dos Espíritos, sabendo-se que a codificação kardeciana ressalta que não existe médium perfeito (Revista Espírita, fev. 1859, “Escolhos dos Médiuns”) e o melhor de todos é aquele que tem sido menos enganado (“O Livro dos Médiuns”, cap. 20, nº 226, 9ª). 
Contudo, em qualquer revelação, o critério adotado por Kardec da Universalidade dos espíritos deve ser sempre empregado, utilizando-se o crivo da coerência, passando tudo pelo bisel da criticidade, sem que seja o pesquisador possuído por qualquer forma de extremismo. É válido o pensamento esclarecedor do Espírito Erasto, encontrado, em “O Livro dos Médiuns”, 2ª parte, cap. XX, item 230:  “Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos antigos provérbios. Não admitais, pois, o que não for para vós de evidência inegável. Ao aparecer uma nova opinião, por menos que vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica. O que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai corajosamente. Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa”.

Importante ressaltar que Kardec não reencarnaria para ser assistido por um Espírito (Emmanuel), que responderia por ele a todas as perguntas, em todos os momentos, como foi verificado exaustivamente no programa Pinga-Fogo 1. Aliás, o próprio médium disse que compareceu à televisão com a permissão de Emmanuel. A propósito, Emmanuel sempre exortava o médium a respeitar a Doutrina em sua fidelidade e citava Kardec como referência, com reverência. Em nenhum momento, o guia espiritual fez menção ao fato de Chico ser o próprio codificador e nem o tratava como tal. Como ninguém ignora, era comum Emmanuel dar reprimendas no médium, advertindo-o com rigor inúmeras vezes, como no episódio do avião, quando Chico manifestou ruidosamente medo de morrer.
 Enquanto Allan Kardec demonstrava pulso firme e resoluto no trato com as pessoas, sendo denominado até mesmo de “Apóstolo da Verdade”, o médium não sabia dizer “não”, chegando ao ponto de engolir uma barata que se encontrava na sopa para não deixar a dona da casa constrangida (“Lindos Casos de Chico Xavier”, páginas 196-197). O Codificador, certamente, alertaria a todos os comensais do grave fato ocorrido. Certa feita, o querido Chico, com medo de fazer desfeita, comeu desbragadamente por insistência de sua anfitriã e, no final, ainda foi tachado de glutão e guloso.
Kardec apresentava-se equidistante das religiões tradicionais, sendo portador de uma religiosidade marcante, alicerçada na fé raciocinada, separando-a do religiosismo (misticismo, exterioridade, culto), restabelecendo a fé pelo raciocínio, tendo sido morto na fogueira pela Igreja, quando vivenciou a personalidade ímpar do reformador religioso João Huss (século XV d.C.). 
 Chico, quando católico, era extremamente beato e praticava com fervor os sacramentos. Também colecionava ilustrações de santinhos em sua gaveta, o que foi constatado após sua desencarnação. Intensamente místico, carregou na procissão uma pedra enorme na cabeça e, “pagando os seus pecados”, afastando o “diabo”, seguia à risca as receitas paroquiais (repetia mil vezes seguidas a oração da Ave-Maria). Largou a Igreja Católica devido à sua extraordinária mediunidade.
 A calvície, que muito incomodava o Chico, era retocada por uma peruca ou escondida por um vistoso boné. Kardec apresentava uma incipiente calvície e parecia não se incomodar com isso.
 O médium, opostamente ao codificador, sempre se depreciava, intitulando-se “besta”, “um nada”, “capim” e “verme”. Na infância, Chico era espancado barbaramente pela mulher que o acolheu em sua casa, como igualmente teve sua barriga ferida com garfo. E foi, até mesmo, obrigado a lamber as feridas da perna de um primo. Chico, no recreio, sofria muitas surras, apanhando dos colegas a socos e pontapés. O médium era perseguido por obsessores e acometido por perturbações espirituais. 
 Na escola, no Castelo de Zahringenem, em Yverdon-les-Bains, na Suíça, como discípulo do famoso educador Pestalozzi, Kardec com quatorze anos de idade já orientava seus pares, ensinando aos seus colegas menos adiantados.
 A mãe de Chico, em mensagem psicografada, lhe disse que não encarasse a mediunidade como uma dádiva, porque “imperfeito como era não merecia favores de Deus” (“As Vidas de Chico Xavier”, pág. 57). Emmanuel exortou-o à prática da disciplina. O Espírito Eça de Queiroz observou no médium “porções de sofrimentos, pedaços de angústia esterilizadora, recordações tristonhas, lágrimas cristalizadas” (“As Vidas de Chico Xavier”, pág.56). Em outra ocasião, sentindo intensa dor, solicitou a presença de Emmanuel, que duramente lhe disse: Sua condição não exonera você da necessidade de lutar e sofrer, em seu próprio benefício (“As Vidas de Chico Xavier”, pág.74).
 Chico disse a Arnaldo Rocha que o próprio Kardec veio, em Espírito, orientá-lo no início de suas atividades  
 O confrade Arnaldo Rocha (ex-marido de Meimei e amigo íntimo de Chico Xavier desde 1946), falando sobre o saudoso médium, em palestra proferida na União Espírita Mineira, disse que é uma estultice essa ideia de que Chico e Kardec sejam o mesmo Espírito, e fez conhecer um diálogo que tiveram, no qual o médium lhe informou de que ele fora, em verdade, a Srta. Japhet, a médium que teve papel considerável na revisão dos textos da primeira edição de “O Livro dos Espíritos” e que o próprio Kardec veio, em Espírito, orientá-lo nos primeiros meses de sua preparação como espírita iniciante, na cidade de Pedro Leopoldo.    (N.R.: o vídeo dessa palestra pode ser visto clicando-se   em http://vimeo.com/9098617.)
Pode-se afirmar, baseado na veracidade da previsão do Espírito da Verdade sobre a volta muito breve de Kardec (“Ausentar-te-ás por alguns anos”), que o codificador possa perfeitamente ter errado nos seus cálculos, desde que, para a Espiritualidade Superior, alguns anos representam muito mais do que três a quatro dezenas de anos (“a minha volta deverá ser forçosamente no fim deste século ou no princípio do outro”).
A hipótese de Chico ser Kardec também foi repelida por Herculano Pires (“O melhor metro que mediu Kardec”, segundo Emmanuel), na obra “Curso Dinâmico de Espiritismo.

(*) Fonte: Revista O Consolador  -  link    http://www.oconsolador.com.br/ano5/209/especial.htm

Intersexualidade, o ser humano não se reduz à morfologia de “macho” ou “fêmea” (Jorge Hessen)


Jorge Hessen

Em 2012, Zainab, uma parteira queniana, fez o parto de uma criança intersexual (que possui órgãos genitais masculinos e femininos). Quando a mãe viu que o sexo do bebê não estava definido, ficou surpresa. O marido pediu para que Zanaide matasse o bebê, mas Zanaide pegou a criança para si e cuidou dela, embora sob riscos, pois na comunidade em que reside, assim como em outras no Quênia, um bebê intersexual é visto como mau presságio, que traz maldição para a família e até para os vizinhos. [1]

A Intersexualidade em seres humanos é alguma alteração de caracteres sexuais, incluindo cromossomos, gônadas e/ou órgãos genitais que dificultam a identificação de um indivíduo como inteiramente feminino ou masculino. Essa variação pode envolver ambiguidade genital, combinações de fatores genéticos e aparência e variações cromossômicas sexuais diferentes de XX para mulher e XY para homem. Pode incluir outras características de dimorfismo sexual, como aspecto da face, voz, membros, pelos e formato de partes do corpo. [2]

Georgina Adhiambo, diretora-executiva da ONG Voices of Women, que trabalha para reduzir o estigma contra pessoas intersexuais no Quênia, disse que o assunto ainda é um tabu. Atualmente as opções de tratamento dos intersexuais variam muito. Alguns pacientes não precisam de cuidados, enquanto outros podem precisar de remédios ou terapia hormonal. Há ainda aqueles que precisam de cirurgia – opção que costuma ser protelada até a puberdade, para que a própria criança possa escolher seu sexo.

A palavra intersexual é preferível ao termo hermafrodita, já bastante estigmatizado, precisamente porque hermafrodita se referia apenas à questão dos genitais visíveis. Alguns intersexuais podem ser considerados como transgêneros. Porém, tanto a intersexualidade quanto a transexualidade são temas polêmicos, e menos discutidos do que deveriam. Talvez por isso não se compreenda exatamente do que se trata, e essa condição seja motivo de tantos casos de preconceito.

Ademais, sobre o tema, uma pessoa pode ser cisgênero ou transgênero. O cisgênero se identifica com o gênero correspondente ao sexo biológico, ou seja, se possui órgão sexual feminino é uma menina, se possui órgão sexual masculino é um menino. É o que todo mundo considera regra. Já o transgênero é a pessoa que contesta essa regra, que não tem seu gênero definido pelo sexo biológico. Muitas vezes o transexual se identifica com o gênero oposto ao sexo com que nasceu. Podemos dizer que o transexual é transgênero, mas nem todo transgênero é transexual.

Um estudo realizado pela Universidade de Washington, nos Estados Unidos, publicado pela revista Psychological Science, concluiu que as crianças transgênero começam a reivindicar um gênero diferente, ao mesmo tempo que as crianças cisgênero se identificam com o gênero correspondente ao sexo biológico, por volta dos 2 anos. É como se a criança olhasse no espelho e não se reconhecesse. É uma expectativa constante de que ela vá acordar no corpo certo.

Independentemente das demarcações e definições controversas, a sociedade dará sinais de avanço quando compreender a neutralidade de gênero, e que o ser humano não se reduz à morfologia de “macho” ou “fêmea”.

Ainda sobre a “transexualidade”, por exemplo, Emmanuel adverte que “encontramo-nos diante de um fenômeno perfeitamente compreensível à luz da reencarnação. Inobstante as características morfológicas, o Espírito reencarnado, em trânsito no corpo físico, é essencialmente superior ao simples gênero masculino ou feminino.” [3]

O mentor de Chico Xavier ainda acrescenta que “aprenderemos, gradualmente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade em si exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos ou a deprime pelo mal que causa com a parte que assume no jogo da delinquência.” [4]

Além disso, aprendemos com o autor de “Há dois mil anos”, “que é urgente amparo educativo adequado [aos sexuais e morfologicamente diferentes], tanto quanto se administra instrução à maioria heterossexual”. [5] E para que isso se verifique em linhas de justiça e compreensão, caminha o mundo de hoje para mais alto entendimento dos problemas do amor e do sexo, porquanto, à frente da vida eterna “os erros e acertos dos irmãos de qualquer procedência, nos domínios do sexo e do amor, são analisados pelo mesmo elevado gabarito de Justiça e Misericórdia. Isso porque todos os assuntos nessa área da evolução e da vida se especificam na intimidade da consciência de cada um.” [6]

Referências bibliográficas:

[1]Disponível em http://www.bbc.com/portuguese/internacional-39852313 , acessado em 14/07/2017
[2]Money, John; Ehrhardt, Anke A. (1972). Man & Woman Boy & Girl. Differentiation and dimorphism of gender identity from conception to maturity. USA: The Johns Hopkins University Press. ISBN 0-8018-1405-7.
[3]XAVIER, Francisco Cândido. Vida e Sexo, RJ: Ed. FEB, 1977
[4]idem
[5]idem

[6]idem

terça-feira, 11 de julho de 2017

O Espírita no velório, cerimônia do “até já”,“até logo”, “nos veremos em breve” (Jorge Hessen)



Jorge Hessen

Certa vez, um confrade segredou-me que não permitirá velórios no sepultamento de seus familiares mais próximos, porque é totalmente contra tal tradição mortuária. Não vê lógica doutrinária nesse tipo de cerimonial. Crê que após constatada a desencarnação, em no máximo algumas poucas horas, deveriam ser feitos os preparativos para o sepultamento, sem rituais religiosos.

Busquei esclarecê-lo de que velório ou “velação” não é necessariamente um ritual religioso”, portanto não está associado a religiões, até porque seu início dá-se quando a pessoa está doente e precisa de ser velada, cuidada, vigiada. Pois é! A origem da palavra velar que dá origem a velório vem do latim "vigilare", que dá significado de vigilância. E mais: o termo velar não se refere às "velas", flores, missas, cultos, mas (repito) ao verbo "velar" (de cuidar, zelar).

O dicionarista define o verbo velar como "ficar acordado ao lado de (alguém)", "ficar acordado durante (um tempo)" e ainda "manter-se de guarda, vigia" dentre outras definições. O termo tem uma conotação exata se de fato as pessoas que vão "velar" o falecido, realmente o fazem com atitude de zelo, vigília, respeito e de despedida do corpo que serviu ao espírito durante a experiência que se encerra.

É evidente que velar o defunto é atitude respeitável. No velório devemos orar respeitosamente ao amigo que se despoja do corpo físico, dirigindo-lhe por exemplo (como sugestão) a prece indicada por Allan Kardec contida no cap. XXVIII, item 59 do Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado “Pelos recém-falecidos”. [1] Protocolarmente ou não, no velório nos solidarizamos com os parentes e amigos do “morto”, auxiliando no que for preciso, seja ofertando um abraço fraterno ou apenas a presença serena, numa empatia repleta de misericórdia, na base da paciência e do estímulo, da consolação e do amor, como nos instrui Emmanuel. [2]

Em contrapartida, em muitos casos essa celebração se desviou, e muito, do sentido ético, pois acima das emoções justificáveis por parte dos parentes e amigos, ostenta-se um funeral por despesas excessivas com coroas de flores, santinhos, escapulários, velas que podem ser usados em doações a instituições assistenciais, conforme instrui André Luiz. Ouçamo-lo: Os espíritas devem dispensar, nos funerais, as honrarias materiais exageradas e as encenações, pois considerando que "nem todo Espírito se desliga prontamente do corpo", importa, porém, que lhe enviemos cargas mentais favoráveis de bênçãos e de paz, através da oração sincera, principalmente nos últimos momentos que antecedem ao enterramento ou à cremação. Oferenda de coroas e flores deve transformar-se "em donativos às instituições assistenciais, sem espírito sectário". [3]

Social, moral e espiritualmente, quando comparecemos a um velório exercemos abençoado dever de solidariedade, proporcionando consolação à família. Infelizmente, tendemos a fazê-lo por desencargo de consciência formal, com a presença física, ignorando o decoro espiritual, a exprimir-se no respeito pelo recinto e no esforço de auxiliar o desencarnado com pensamentos elevados.

Ora, o desencarnado precisa de vibrações de harmonia, que só se formam através da prece sincera e de ondas mentais positivas. Em o livro Conduta Espírita, o Espírito André Luiz mais uma vez adverte-nos para "procedermos corretamente nos velórios, calando anedotário e galhofa em torno da pessoa desencarnada, tanto quanto cochichos impróprios ao pé do corpo inerte. O recém-desencarnado pede, sem palavras, a caridade da prece ou do silêncio que o ajudem a refazer-se. “É importante expulsar de nós quaisquer conversações ociosas, tratos comerciais ou comentários impróprios nos enterros a que comparecermos". Até porque a "solenidade mortuária é ato de respeito e dignidade humana". [4]

Deploravelmente, poucos se dão ao cuidado de conversar baixinho, principalmente no momento da remoção do cadáver do recinto para a “catacumba”, quando se amontoam maior número de pessoas. Temos motivos de sobra para a moderação, cultivemos o silêncio, conversando, se necessário, em voz baixa, de forma edificante.

Podemos fazer referências ao finado com discrição, evitando pressioná-lo com lembranças e emoções passíveis de perturbá-lo, principalmente se forem trágicas as circunstâncias do seu falecimento. Oremos em seu benefício, porque “morre-se” como “se vive”. Se não conseguirmos manter semelhante comportamento, melhor será que nem compareçamos ou nos retiremos do ambiente, evitando alargar o estrepitoso coro de vozes e vibrações desrespeitosas que afligem o recém-desencarnado, até porque o “morrer” nem sempre é o “desencarnar”.

Referências bibliográficas:

[1]     Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXVIII, item 59, RJ: Ed. FEB, 1939
[2]     Xavier, Francisco Cândido. Servidores no Além, SP: Editora – IDE, 1989
[3]     Vieira, Waldo. Conduta Espírita, RJ: Ed FEB, 1999
[4]     Idem