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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

DESCRIMINALIZAÇÃO DA DROGA - ALGUNS AJUIZAMENTOS ESPÍRITAS


No Brasil há um preocupante movimento para a liberalização da maconha. Infelizmente, algumas pessoas famosas defendem as drogas e oferecem péssimos exemplos para a juventude. Cantores, atores e políticos utilizam-se do horário nobre da TV para desenvolver mentalidade partidária à descriminalização (1) do uso de drogas.
Sustentam os causídicos que o porte e o uso de entorpecentes não devem ser crimes no País, pois a descriminalização é uma “tendência mundial.”!?...) Creem os defensores que a liberação das drogas diminuirá a sua busca. É evidente que a afirmação é trapaceira, pois contraria a lógica fundamental de comércio, que estabelece como regra de mercado que quanto maior a oferta de um produto, maior a sua procura.
Para modificar a atual lei de drogas brasileira, considerada antiquada por alguns, há proposta sobre um regulamento com foco no tratamento dos dependentes não violentos, liberando assim os recursos policiais para o enfrentamento do crime organizado. Dizem que as leis atuais em nível internacional são indulgentes para o usuário e rigorosas para o traficante. No Brasil, atualmente o usuário não é preso. Nem é constrangido a se tratar.
Na prática, para atual legislação, os indigentes sociais (favelados) sempre são classificados como traficantes e os endinheirados da classe “A e B” (filhinhos de papai) como usuários. Argumenta-se que ao invés de oferecer tratamento àqueles que sofrem com a dependência, o sistema brasileiro concentra maciçamente seus recursos policiais em réus primários não violentos, deixando espaço para o crescimento do crime organizado.
Cremos que infinitamente mais importante que discutir a descriminalização de drogas é a urgência de debater a assistência ao contingente assombroso de dependentes químicos que se encontram categoricamente desassistidos pelo Estado.
Nesse imbróglio, como definir quem é usuário e quem é traficante?
Ante esse conflito temático, formatou-se um Novo Código Penal prevendo a “descriminalização do plantio e do porte de maconha para consumo.”.(2) Porém, nunca é demais advertir que a maconha de 50 anos atrás era bem menos devastadora que a de hoje em dia. Naquela época, a concentração de THC (princípio ativo da maconha) era em redor de 0,5%, enquanto que as de hoje são em torno de 15% a 20%. Enfim, a redação organizada por jurisconsultos deverá ser transformada em lei ordinária e seguirá a tramitação no Congresso Nacional.
Eis aí um complexo dilema: o que seria resolver o problema das drogas? Consentir o consumo? Autorizar a compra e venda só de maconha? Permitir o consumo de outros entorpecentes? Ou a solução é erradicar as drogas do planeta? Como fazê-lo? Será possível uma sociedade livre das drogas? Sempre haverá pessoas interessadas no uso de substâncias que alteram a consciência?
Estudiosos acreditam que com a liberalização o consumo será desenfreado. Os defensores, óbvio, não acreditam nisso. Outra questão enigmática: é quem poderá comercializar a droga? Que órgão público controlará essa venda, a ANVISA?
Na falsa ilusão de que o usuário não pode ser considerado criminoso, nos 21 países que resolveram despenalizar o usuário de drogas, como Portugal, por exemplo, os homicídios relacionados aos entorpecentes aumentaram 40%. Isso é fato! É urgente ponderar sobre as ameaças dramáticas que a liberalização das drogas pode ocasionar ao Brasil.
Arrazoamos que as regras que se aplicam às drogas ilegais deveriam ser aplicadas ao álcool (calamitosa droga legal) que deveria ser criminalizada com urgência. Acreditamos que se a maconha for tão acessível para o viciado quanto os alcoólicos, é presumível que desaqueça a bestialidade provinda do tráfico. Entretanto, o consumo alargará, aumentando o número de moléstias e mortes ocasionadas pelo uso permanente de outras drogas.
Infelizmente, de cada 100 consumidores que usam entorpecentes (incluindo alcoólicos), de 10 a 13 apresentarão graves barreiras para abandonar o uso. O álcool, uma tragédia lícita, é responsável por 70% das internações por dependência de drogas e por 90% da mortalidade.
A droga (incluindo os alcoólicos) constitui uma das maiores insensatezes do século XXI. O governo do Uruguai está estatizando a maconha, pasmem! “No Brasil, 1,5 milhão de pessoas usam maconha diariamente, dos quais 500 mil são adolescentes. Dos jovens na faixa de 14 a 18 anos, 17% conseguem a substância dentro da escola. De todos os consumidores, 1,3 milhão reconhecem já ter sintomas de dependência.”. (3)
Imaginem a patética situação: um usuário fumando baseado, cheirando ou injetando cocaína, cachimbando uma pedra de crack defronte da nossa residência, próximo dos nossos filhos. Um policial que pegar em flagrante uma criança de 15 anos com droga “apenas para consumo”, não poderá fazer nada. Isso vai acontecer com a liberalização das drogas, pois o usuário terá o direito de consumir em qualquer lugar e não se poderá impedi-lo.
Os dependentes de drogas (incluindo alcoólicos) são pessoas de personalidade medrosa, fraca, covarde. Em verdade, o uso de drogas (incluindo alcoólicos) para “curtição” poderá acarretar dependência com sequelas arrasadoras por prolongados séculos (séculos, sim! Pois a vida permanece para muito além da tumba).
Logicamente, trancafiar o viciado na penitenciária não resolverá o seu drama nem da sua família; contudo, descriminalizar as drogas será ocorrência bem ameaçadora, principalmente quando o mundo confronta-se com a esfinge do crack. O viciado dessa droga corrompe todas as barreiras éticas: sobrevive na sarjeta, se droga na rua, dorme na imundície, devora restos de comida do lixo e mergulha nos porões da promiscuidade. Enquanto o usuário de outros entorpecentes (maconha, ecstasy ou cocaína) se camufla em nichos e não se expõe socialmente.
Doutrinariamente, compreendemos que todos os tipos de vícios dão campo a ameaçadores micro-organismos psíquicos no domínio da alma. Transgressões violentas como uso de drogas (incluindo alcoólicos) rompem o revestimento magnético das pessoas e as consequências são a devastação da saúde física e até a morte, às vezes precedidas da loucura. “Paralelamente aos micróbios alojados no corpo físico há bacilos de natureza psíquica, quais larvas portadoras de vigoroso magnetismo animal. Essas larvas constituem alimento habitual dos espíritos desencarnados [obsessores] e fixados nas sensações animalizadas. A indiferença à Lei Divina determina sintonia entre encarnado e desencarnado viciados, este [obsessor] agarrando-se àquele [obsedado], sugando a grande energia magnética da infeliz fauna microbiana mental que hospeda, em processo semelhante às ervas daninhas nos galhos das árvores sugando-lhes substancia vital".(4)
As emanações voláteis das drogas (inclusive alcoólicos), ao se evaporarem, são prontamente atraídas pelos obsessores-viciados, os quais aspiram essas emanações, nelas se acomodando e impulsionando o viciado encarnado a consumir cada vez mais... Por isso, os vorazes obsessores-viciados, sempre em falanges, afluem aos lugares frequentados pelos drogaditos encarnados (abrangendo as residências), conectando-se a eles, mente a mente, arrastando-os ao consumo das drogas (inclusive alcoólicos), ou importunando pessoas incautas, permissivas, inobstante ainda não contagiadas pelo vício, para que o cometam. Sem quaisquer escrúpulos, em permuta de qualquer satisfação do vício, todos os desatentos serão jugulados a uma fileira de perversidades.
Sem nunca concordar com a liberalização de quaisquer drogas (incluindo os alcoólicos) o espírita estará sempre acolhendo os desafortunados, cônscios ou inconscientes, algemados às drogas que buscam auxílio para libertarem-se de suas agonias, sejam eles encarnados ou desencarnados. Na instituição espírita, o acolhimento aos viciados de cá e do “além-tumba” é totalmente compatível com o serviço doutrinário. Aí se propõe explicação, inclusão, acolhimento fraterno, bem como passes magnéticos, água fluidificada e palestras pública,s além dos apelos aos zelados para atividades assistenciais junto às famílias carentes.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net


Notas e referências:

(1) Descriminalizar significa retirar de algumas condutas o caráter de criminosas. O fato descrito na lei penal deixa de ser crime. Há três espécies de descriminalização: (a) a que retira o caráter criminoso do fato mas não o retira do âmbito do Direito penal (essa é a descriminalização puramente formal); (b) a que elimina o caráter criminoso no fato e o proscreve do Direito penal, transferindo-o para outros ramos do Direito (essa é a descriminalização penal, que transforma um crime em infração administrativa, e (c) a que afasta o caráter criminoso do fato e lhe legaliza totalmente (nisso consiste a chamada descriminalização substancial ou total).

Na legalização, o fato é descriminalizado substancialmente e deixa de ser ilícito, isto é, passa a não admitir qualquer tipo de sanção. Sai do direito sancionatório. A venda de bebidas alcoólicas para adultos, hoje, está legalizada (não gera nenhum tipo de sanção: civil ou administrativa ou penal etc.). A posse de droga para consumo pessoal deixou de ser formalmente "crime", mas não perdeu seu conteúdo de infração (de ilícito). A conduta descrita no antigo art. 16 e, agora, no atual art. 28 continua sendo ilícita, mas, como veremos, cuida-se de uma ilicitude inteiramente peculiar. Houve descriminalização "formal", ou seja, a infração já não pode ser considerada "crime" (do ponto de vista formal), mas não aconteceu concomitantemente a legalização da droga. De outro lado, paralelamente também se pode afirmar que o art. 28 retrata uma hipótese de despenalização. Descriminalização "formal" e despenalização (ao mesmo tempo) são os processos que explicam o novo art. 28 da lei de drogas. Disponível em aceso em 20/08/12

(2) Disponível em aceso em 22/08/12

(3) Estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgado em 1o de agosto de 2012, disponível em aceso em 21/08/12

(4) Xavier, Francisco Cândido. Missionários da Luz, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB 1945

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Hipocrisia, Maconha e Esquizofrenia



LUIZ CARLOS  FORMIGA


Será que a maconha na lei e socialmente aceita retirará dos pais e professores a autoridade moral de ensinar que é prejudicial, como nos fala a revista de Neurociência, que a relacionou em 2011 com a esquizofrenia?

Em cinco anos estamos formando doutores na pós-graduação. Da prisão saem além de estigmatizados, com um outro tipo de “doutoramento”, pois o curso é em horário integral com dedicação exclusiva. Esses vetores, os que são presos e condenados (peixe miúdo), fazem parte do ambiente social facilitador. Por outro lado, no ambiente sócio-familiar também vamos encontrá-los - pais, tios, avós (peixes graúdos, na mente infantil).  Aqui a droga já é socialmente aceita. Também são dignos de conscientização e pena, pelos exemplos de bebedeiras e pelo número de fumantes passivos que fazem.

COMO REBATER ESTES ARGUMENTOS ABAIXO?

Não basta dizer que são falsos os argumentos PRÓ, construídos apenas para confundir ministros. Necessário é oferecer o “contraditório”.
Vejam o que Relator e Advogados de defesa estão fazendo no “Mensalão”.

Argumentos pró,  para serem desconstruídos, um a um.

n  1- É irracional e mesmo contrária ao Estado Democrático de Direito a criminalização do porte para uso pessoal, pois viola a intimidade do indivíduo em conduta que não diz respeito à coletividade.
n   2- A proibição é contraditória com o próprio objeto jurídico (Saúde Pública), uma vez que "cria maiores riscos à integridade física e mental dos consumidores" pela ausência de controles fiscais quanto à qualidade, higiene etc 
n  3- A clandestinidade gera ansiedades no indivíduo que realimentam sua fragilidade, acoroçoando sua tendência à dependência e, dificultando ainda a busca de tratamento.
n  4- O pretenso controle repressivo do tráfico é reconhecidamente ineficiente e sua relação custo/ benefício é deficitária.
n  5- O mercado informal das drogas cria oportunidades de "acumulação de capital e geração de empregos", sendo lógico que a repressão não é capaz de impedir a contínua reposição dos interessados nos seus ganhos e oportunidades, a despeito dos riscos a serem assumidos.
n  6- Os consumidores sofrem "superexploração decorrente dos preços artificialmente elevados", por obra inerente à clandestinidade que torna o produto de difícil acesso e submetido a riscos relevantes. Isto, por seu turno, atua como fator criminógeno porque os usuários frequentemente praticam outros crimes, mormente contra o patrimônio, para possibilitar-lhes poder aquisitivo para obtenção de entorpecentes.
n  7- A criminalização cria um mercado artificial altamente lucrativo que, ao contrário de evitar, incentiva o interesse no ingresso em sua dinâmica, gerando ainda o grave problema da corrupção de órgãos Estatais.
n  8- O Sistema Penal sob o pretexto de fornecer "proteção, tranquilidade e segurança", finda por estimular situações delitivas e criar maiores e mais graves conflitos. Ou seja, pela criminalização das drogas o Estado produz marginalidade e consequentemente mais "criminalidade e violência".
Precisamos fazer nosso trabalho de casa
“enquanto instituição” que representamos o pensamento espírita

VEJAM SE CONSEGUEM DESCONSTRUIR TAMBÉM OS FALSOS ARGUMENTOS UTILIZADOS PARA APROVAR  O ABORTO.
NÃO VALE USAR APENAS ARGUMENTOS RETIRADOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, QUE DEVEM SER ALENCADOS. SÃO NECESSÁRIOS MAS NÃO SÃO SUFICIENTES.
PROCUREM ATENDER AOS AGNÓSTICOS, MATERIALISTAS, ETC

domingo, 19 de agosto de 2012

LAÇOS AFETIVOS


LUIZ CARLOS FORMIGA

O professor ainda terá espaço para trabalhar valores. O jovem se tornará mais apto para enfrentar seus desafios. Eu tive bons professores, na casa espírita e na escola. Mas a família estruturada é fundamental.

Fatores biológicos ou psicológicos podem impulsionar os jovens para a beira do precipício, mas esses impulsos são liberados ou bloqueados através da influência social e o que dá legitimidade às interdições sociais são os laços afetivos familiares. O afeto recebido no período infanto‑juvenil é que os torna capazes de tolerar e se submeterem às normas sociais e familiares, controlando seus impulsos ao invés de por eles serem controlados (1).

De bonde ia ao colégio. Acabei memorizando um cartaz.

“Veja ilustre passageiro, que belo tipo, faceiro, que o senhor tem a seu lado. No entanto, acredite, quase morreu de bronquite, salvou-o Rum Creosotado”.

Do Largo do Tanque nos deixava em Cascadura. Chegou repleto. Encontrei lugar. Inusitado, sentei rápido. Poderia ir no estribo, como todo jovem. O belo tipo, faceiro, tinha as mãos em garra. Olhei discretamente e percebi também orelhas alongadas.

Na volta, chegando a casa relatei a sorte de ter encontrado lugar e falei sobre mãos e orelhas. A mãe falou-me sobre uma “colônia de leprosos” e que não me preocupasse. As pessoas podem apresentar sequelas, mas estão curadas. Não contaminam mais ninguém. Eu estava na era dos antibióticos e nem suspeitava que a minha monografia experimental de graduação seria com treze antimicrobianos. Tornei-me professor da faculdade de medicina e através dos laços afetivos visitava pacientes, na antiga colônia, agora Hospital de Dermatologia Sanitária. Lá funciona uma casa espírita.

Antes da faculdade, eu era jovem espírita, pois minha mãe havia me contaminado. O jovem, mesmo o espírita, tem suas depressões. Era tímido e não tinha coragem de abrir o coração.

Minha mãe logo percebia o “momento de tristeza”. Era diferente do efeito colateral do anti-histamínico que usava.

Falou-me: “soube que aqui perto virá um palestrante muito bom. Por que você não dá um pulo lá e fica para o passe?”

Cheguei em cima da hora e fiquei na última fileira. Não conhecia ninguém. O dirigente apresentou o palestrante. Minha mãe não se enganara. Pelo visto era pessoa importante para os espíritas do Rio de Janeiro. Depois da prece lhe foi dada a palavra.

De longe parecia com o homem do bonde. Aquelas orelhas, as pálpebras caídas. Uma muleta apontava a deficiência física, mas quando começou a falar... Era um portador do “bem de Hansen”.

Falou-nos da vida e com poesia lembrou Jesus.

Ele comentou que antes da doença havia pensado em ser político. Chegaria à prefeitura de sua cidade, mas a hanseníase votou nele.

O bonde da vida me levou ao biomédico na Faculdade de Ciências Médicas e depois ao magistério superior. Mesmo depois da aposentadoria ainda trilho a estrada do ensino e da pesquisa. Ainda vivo entre teses de ciências e a fé cotidiana. Na dúvida, produzir resultados experimentais ou privilegiar valores morais, mais difíceis de serem sobrepujados?(2)

O domínio cognitivo é traiçoeiro na terceira idade, mas quando penso naquele dia predomina o afetivo. Ele falou como Joanna: “ante as dificuldades do caminho e as rudes provas da evolução, resguarda-te na prece ungida de confiança em Deus, que te impedirá resvalar no abismo da revolta.”(3)

O paciente diz: “Mas, porque eu?”

O palestrante:“um pouco de silêncio íntimo e de concentração, a alma em atitude de súplica, aberta à inspiração, eis as condições necessárias para que chegue aapaziguadora resposta divina.”

“Cria o clima de prece como hábito, e estarás em perene comunhão com Deus,fortalecido para os desafios da marcha.”

Depois de mais de 50 anos, não me lembro de suas palavras. Ficou a emoção como reforço da vacinação recebida no ambiente sócio familiar.

Aquele homem ensinava e emocionava como Renato Teixeira: “ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais”(4)

Sua voz de Hércules, emoldurava o sorriso franco e largo: “é preciso, conhecer as manhas, o sabor das massas e das maçãs. É preciso amor, pra poder pulsar. É preciso paz pra poder seguir, É preciso chuva para florir.

Como se desejasse diminuir a compaixão de alguém, disse com humildade: “hoje me sinto mais forte. Mais feliz, quem sabe, eu só levo a certeza de que muito pouco sei, ou nada sei.”

Falou-nos de suas crenças e revelou que antes desdenhara a imortalidade da alma: “sinto que seguir a vida seja simplesmente conhecer a marcha e ir tocando em frente. Como um velho boiadeiro, levando a boiada, eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou. Estrada eu sou.

Nos fez recordar o bem da vida, a Lei de Ação e Reação: “cada um de nós compõe a sua própria história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz”.

Acalmou-nos a alma falando do reencontro com nossos amores, aqui e no além.

Eu precisava daquelas palavras. Na infância enfrentei o luto. Minha professorinha, irmã mais velha, desencarnara na juventude. Fiquei “filho único” através da dor. No planeta regenerado cientistas e educadores da infância receberão o reconhecimento social.

Aquele palestrante não usava apenas a cognição. Palavras-luzes eram emitidas pelo coração: “todo mundo ama um dia. Todo mundo chora. Um dia a gente chega e no outro vai embora.”

Retornei renovado. Pedi a Deus que pudesse fazer o mesmo algum dia, como retribuição.

Um dia, em 1988, ele me chamou ao Centro Espírita Filhos de Deus. Teríamos uma reunião com o Coronel Edgard Machado. Dela saí com a tarefa de escrever um texto para publicarmos em “cartas dos leitores”. O Jornal foi além. (5)

Obrigado, Amazonas Hércules. (6)



Fontes.


(1) http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/a-influencia-da-midia.html

(2) http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2011/11/universidade-e-espiritualidade-entre_11.html

(3) "Vida Feliz", Divaldo P. Franco, pelo espírito Joanna de Ângelis.

(4) Tocando em Frente. Música de Renato Teixeira.

(5) www.iqm.unicamp.br/~formiga/neu/manchaanestesicasocial.pdf

Mancha Anestésica Social. Publicado como Editorial na Revista Brasileira de Patologia Clínica, 24(2):31, 1988; "O Globo" - País/Ciência e Vida, 19 fev. p.11. ; "O Dia" - Domingo, 31 julho, p.14.; Revista Psicologia - Comportamento, 14: 30; Boletim Informativo do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ), 7(63): e Citado no Pronunciamento do Deputado Elias Murad - PTB-MG. Assembléia Nacional Constituinte. Câmara dos Deputados (17 de maio).

(6) http://www.cefilhosdedeus.blogspot.com.br/

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A DESENCARNAÇÃO É A CERTEZA FUTURA QUE TEMOS.



Quando pessoa querida desencarna é crucial resignar-nos, observando no fenômeno da “morte” a manifestação da Lei de Deus que governa a vida. A desencarnação é a única certeza futura que temos. Todos passaremos por essa provisória despedida. Não há como tapearmos o pensamento a respeito desse impositivo da natureza. Em face disso, permitamos que o pensamento sobre a “morte” componha de forma ininterrupta e serena nossos estados mentais, reflexão sem a qual estaremos desaparelhados, ou para o regresso inevitável ou despreparados para arrostarmos com quietação a “morte” dos nossos entes queridos.
Compreendemos que “nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio. Ver a névoa da morte estampar-se, inexorável, na fisionomia dos que mais amamos, e cerrar-lhes os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo.” (1)
Em verdade, depois do desenlace, sobrevém ao “falecido” um período de inquietação transitória, variando obviamente de espírito a espírito, consoante seu talhe moral, mormente no que tange ao desprendimento das coisas materiais. Em verdade, nem todo Espírito se desune imediatamente da carcaça biológica. Entretanto, em qualquer circunstância, jamais escasseará o socorro espiritual, sobretudo aos que fazem jus, proporcionado pelos bons espíritos. É como elucidou Jesus: "Em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a “morte”." (2)
Quando a desencarnação de ente amado nos bata à porta, dominemos o desespero e dissolvamos a corrente da aflição no manancial da prece, porquanto os desencarnados são tão somente ausentes e os pingos de nossas lágrimas lhes açoitam a consciência como chuva de fel. “Eles pensam e lutam, sentem e choram, inquietam-se pelos que ficam. Ouvem-nos os gritos e as súplicas, na onda mental que rompe a barreira da grande sombra e tremem cada vez que os laços afetivos da retaguarda se rendem à inconformação.” (3)
O luto (4) pode variar muito dependendo das pessoas, do tipo de “morte” e da cultura, mas que o caminho mais comum é entender que a pessoa partiu e redefinir a vida com a ausência do ente querido. Uma das teorias mais consagradas para elucidar a reação humana durante o luto é a dos “cinco estágios”, desenvolvida pela psiquiatra suíça e reencarnacionista Elizabeth Kübler-Ross, em 1969. Segundo Kübler-Ross, até superar uma perda, as pessoas enlutadas passam por fases sucessivas de negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Cerca de 50% das pessoas lidam muito bem com a “perda” e volta à vida normal em semanas. Apenas 15 % de enlutados desenvolvem graves dificuldades que afetam a convivência social, possivelmente porque o “aceitar perdas”, especialmente aquelas referentes aos sentimentos, é enormemente complexo e trabalhoso para tais pessoas.
Se o luto não é essencialmente tão insuportável quanto se concebia, e se a maior parte dos enlutados conseguem suplantar bem uma “perda”, por que razão algumas pessoas não conseguem superar o trauma? Pois os 15% atravessam anos sobrevivendo como nos primeiros e mais complicados períodos do luto. Essas pessoas não conseguem retomar a vida. Cultuam a dor, em uma espécie de luto crônico, chamado pelos psiquiatras de “luto patológico” ou “luto complicado”.
Transportando o sentimento para a família, o luto pode provocar uma grave crise doméstica, pois exige a tarefa de renúncia, de excluir e incluir novos papéis na cena familiar. Sigmund Freud, em “Luto e Melancolia”, remete-nos para ponderações razoáveis sobre o desencadear patológico da “perda” afetiva pela desencarnação. Entre suas teses, o pai da psicanálise assegura que o luto é a resposta emocional benéfica, adequada para a ocorrência da “perda”, já que há necessidade do enlutado de reconhecer a “morte” como evento, como realidade que se apresenta e que naturalmente suscita constrangimento. O “pai da psicanálise” afiança que na melancolia o enlutado identifica-se com o morto e, ao deparar com essa “perda”, a pessoa entende que parte dela também está indo; há uma identificação patológica com o “de cujus”. Vemos então que no enlutamento melancólico há o que Freud chama de estado psicótico, em que o ego não suporta essa ruptura e adoece gravemente.
A revelação Espírita demonstra que “morte” física não é o extermínio das aspirações e anseios no bem, porém o ingresso para a existência autêntica, para a vida real. Sim! A existência física é ilusória, fugaz, transitória demais. A separação do corpo pela “morte” não é uma anomalia da natureza. Simplesmente transfere-se da dimensão física, para o sítio espiritual.
O chamado morto jaz na ligação pelo pensamento, de modo que ele captura as orações que lhe forem direcionadas e se sentirá apoiado com isso. Da mesma forma ficará descansado sabendo que os familiares estão resignados e trabalhando para que a vida terrena continue sem sobressaltos. Não olvidemos que em futuro mais próximo que imaginamos respiraremos entre os falecidos, comungando-lhes as necessidades e os problemas, porquanto terminaremos também a própria viagem no mar das provas terrenas.
Quando a saudade é dolorida, há os que buscam a instituição espírita para obter informações do finado, porém, nem sempre é possível obterem-se notícias sobre os parentes desencarnados; para tanto é necessário que eles tenham condições morais e a permissão dos Bons Espíritos. Mas, para abrando de alguns, existem episódios em que os saudosos poderão ter encontros com seus entes queridos no plano espiritual; isso poderá ocorrer durante o sono, quando os Benfeitores permitem essas aproximações, a fim de que sobrevenha renovação de ânimo entre encarnados e desencarnados.
De qualquer modo, o tema “morte” ainda se revela assunto quase inteiramente incompreendido na Terra. Efetivamente, “morrer” (término da vida biológica) e desencarnar (ruptura do laço magnético que une espírito ao corpo) são fenômenos que nem sempre acontecem simultaneamente. Os intervalos de tempo para desligar-se do corpo variam para cada Espírito. Para uns pode ser mais dilatado, para outros é uma passagem rápida.
A intermitência de tempo entre a “morte” biológica e a desencarnação tem relação direta com os pensamentos e ações praticados enquanto encarnado. Ninguém topará com o “céu” ou o “inferno” do lado de “lá”, porquanto o “empíreo” e a “geena” são conteúdos mentais construídos aqui no plano físico. Após o fenômeno da fatalidade biológica pela “morte”, cada Espírito irá deparar com o cárcere ou a liberdade a que faz merecer como fruto do desleixo ou disciplina mental que cultivou durante a experiência física.
Para os que alcançaram aproveitar a encarnação, sem viciações e apegos, os que cumpriram a lei de amor, tornam-se menos densos os laços magnéticos que prendem o Espírito ao corpo. Nesse caso, a desencarnação será rápida, proporcionando adequada liberdade, até mesmo antes de sua consumação. Todavia, os indisciplinados que se afundaram nos excessos, nas viciações, nos prazeres mundanos, cunham intensas impressões e vínculos magnéticos na matéria, e unicamente alcançarão a liberação após um intervalo de tempo, análogo ao tempo de desequilíbrio vivido na carne. Contudo, mesmo após a ruptura dos embaraços magnéticos, que o algemavam à vida física, padecerá, por tempo indefinido, dos tormentos disseminados nas vias de suas experiências no mal (eis aí a metáfora do inferno).
Ante os impositivos cristãos, devem-se emitir para os desencarnados, sem exceção, pensamentos de consideração, paz e desvelo, seja qual for a sua condição moral. Temos consciência da imortalidade, da vida além-túmulo.
Allan Kardec nos remete a Jesus, e com o Meigo Rabi certificamos que o fenômeno da “morte” é totalmente diferente. No túmulo de Jesus não há sinal de cinzas humanas, nem pedrarias, nem mármores luxuosos com frases que indiquem ali a presença de alguém. Quando os apóstolos visitaram o sepulcro, na gloriosa manhã da Ressurreição, não havia aí nem luto nem tristeza. Lá encontraram um mensageiro do reino espiritual que lhes afirmou: não está aqui. Os séculos se dissiparam e o túmulo [de Jesus] permanece aberto e vazio, há mais de dois mil anos. Seguindo, pois, com o Cristo, através da luta de cada dia, jamais localizaremos a amargura do luto por ensejo da “morte” de pessoa amada, e sim a vida em plenitude.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

Referências bibliográficas:
 (1)       Xavier, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos , ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1960
(2)       JOÃO, 8:51
(3)       _________ Francisco Cândido. Religião dos Espíritos , ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1960
(4)       Luto [do latim luctu] – 1. Sentimento de pesar ou de dor pela morte de alguém.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A velocidade das coisas supérfluas.


Dia 05 de agosto de 2012 estivemos no Lar de Frei Luiz


Em seguida recebemos vários “presentes”, uma poesia está no link


No Frei Luiz divulgamos, voluntariamente, o livro Alcoolismo, A Doença da Negação, de Claudio Leite.

O Dr. Claudio L. "foi o maior cirurgião infantil do Brasil" - nas palavras do neurogirurgião Paulo Niemeyer e da criadora do Instituto Pró Criança, Rosa Célia, prefacistas do livro. Mas por trás do sucesso escondia uma grave doença que atinge milhões de brasileiros ... Um depoimento de coragem e fé, que narra a recuperação de um alcoólatra de renome. Páginas: 48. Formato: 16 x 23 cm. Edição: 1ª. Idioma: português. Ano: 2012

Ontem, Jorge Hessen nos envia suas reflexões


Anteriormente escrevemos esperando que essas informações fossem úteis


Links SOBRE DROGAS

VEJA OS NÚMEROS 11,12,14,47,51,64,90,135..

Clique AQUI!


Que os números corram na WEB, com a velocidade das coisas supérfluas.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

DESONESTIDADE E ESPIRITISMO NÃO SE COADUNAM

DESONESTIDADE E ESPIRITISMO NÃO SE COADUNAM
O termo desonestidade é empregado para descrever os atos velhacos, a corrupção, a falta de probidade, a ausência de integridade, o mentir ou ser deliberadamente falaz. O mau caráter é adverso ao decoro; é indecente; é desonrado; é escandaloso e assim vai...
A propósito, será que realmente somos honestos? Não somos mentirosos? Contemporizamos com a rapina, com as fraudes, a sonegação de impostos, a falcatrua. A rigor, ser incorruptível requer disciplina. Ser honesto demanda disciplina moral e ética, fadiga para abater más tendências, diligência por não se consentir desabar na perdição das trapaças.
A desonestidade remete à fantasia instantânea de levar vantagem inescrupulosa, contudo certamente ficaremos a mercê da inevitável cobrança da consciência e não há como enganá-la. A consciência não se corrompe; nela estão assentadas as Leis de Deus, é ela que nos espicaça e traz a realidade das circunstâncias e atos que praticamos quando agindo de má fé, utilizando-nos da infeliz lei do proveito insensato.
Quando alguma pessoa nos indaga se somos incorruptíveis, normalmente a indignação nos invade a mente, só em ajuizar que alguém hesite de que somos honestos. Muitas vezes nos pronunciamos honrados, mas será que verdadeiramente o somos a todo instante ou é só de fachada essa virtude?
Se raspamos ou amassamos involuntariamente um automóvel no estacionamento, cujo dono não está presente, tendemos fugir do local, em vez de colocarmos um aviso do incidente, deixando nosso telefone num bilhete para contato. Quantos são os que não obedecem a ordem de uma fila dos bancos, cinemas, hospitais etc, e arquitetam  meios escusos para ocupar o local reservado aos que chegaram antes?
Habituamos aquilatar negativamente assaltantes vigaristas, homicidas, encarcerados de penitenciária de forma geral. Todavia, será que fora das prisões há superávit de gente honesta? Quantas vezes compramos produtos de origem duvidosa para sonegarmos impostos? Quantas vezes devolvemos o troco que o caixa do supermercado nos deu a mais? Quantos mecânicos de automóveis, técnicos de geladeiras, de televisão, máquinas de lavar, de computadores, mentem para cobrar mais caro?
Quantas vezes estacionamos na vaga de idoso ou deficiente sem sermos um idoso ou deficiente? Quantos usam de sua autoridade para anular multas de trânsito? Quantos bebem alcoólicos e assumem a direção de veículo nas estradas? Não assombra que administradores se apropriem das verbas publicas, e que empresários demitam para terem máximo lucro.
Segundo estatísticas consagradas, o Brasil é um dos países campeões mundiais em corrupção, fazendo associação a determinados países africanos diminutos. Que tipo de ambição exorbitante e estúpida está na base da deficiência de caráter capaz de olvidar todos os escrúpulos para com a consciência e arremessar-se tão sagazmente no cofre do Estado? Não somos o primeiro, o único ou o último a anunciar esse séquito de vícios, contudo a mídia, frequentemente, noticia e expõe tais fatos francamente execráveis e com grande repercussão negativa.
Algumas vezes pronunciamos da tribuna que o verdadeiro espírita é honesto em tudo que faz. Se for presidente de uma casa espírita, precisa apresentar as movimentações financeiras aos frequentadores. É indispensável haver transparência na prestação de contas, mensalmente, com os contribuintes da casa espírita. Cremos que é simples obrigação afixar, no “quadro de avisos” ao público, a comprovação da correta aplicação dos recursos recebidos. Os dirigentes que assim procedem veem patenteadas a credibilidade da instituição que administram e a pureza de suas intenções.
Quando os dirigentes são omissos e não prestam contas, é evidente que ficamos atônitos e envergonhados, principalmente quando sabemos, pela imprensa, que algumas instituições "filantrópicas" desviam recursos, emitem recibos forjados de falsas doações, deixam de pagar impostos etc...
É imperdoável haver instituições que recebem, à guisa de doações, roupas, calçados, alimentos, eletrodomésticos etc, e os administrantes se apropriem delas. É irredimível existir instituições que aceitem doações, até de objetos valiosos, e seus diretores se apropriem das melhores peças antes de os exporem em bazares ditos "beneficentes".
A prudência continua sendo a nossa melhor conselheira. Por questão de consciência ética, sabemos que um autêntico espírita tem que ser fiel aos princípios que a Doutrina dos Espíritos impõe e ter noção de que honestidade é prática obrigatória para todo ser humano, sobretudo para um cristão. Ou será que devemos reivindicar pedestais nos panteões terrenos por executarmos dignamente aquilo o que é nossa obrigação fazer? É imperiosa a quebra de valores invertidos, com o banho de ética, com a recuperação da honestidade.
Na condição de espíritas cristãos, sabemos que, para a consubstanciação da "Pátria do Evangelho", será imperativa uma renovação mental e comportamental urgente no País. Se quisermos viver um panorama social harmônico, devemos nos empenhar para promover uma reforma ética generalizada, entronizando a força da integridade moral.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

SOBRE O ARTIGO CENSO DE 2010 , OUTRA OPINIÃO INTERESSANTE

Caro Irmão,


         Seu artigo refere-se aos dados do censo de 2010, que possui dados sobre a filiação religiosa de nossa população, focando especificamente a nossa doutrina.
      É inegável que existem eventos que dificultam imensamente, de modo quase proibitivo, a participação dos segmentos menos favorecidos socialmente.
      Entretanto, creio, em humilde e falível opinião, que não procedem, a partir do perfil majoritário de nossos confrades, determinadas constatações que tendem a apontar um caráter elitista, e até mesmo racista, no conjunto dos irmãos espíritas do Brasil.
      Eu já lera conclusão similar em outras fontes, envolvendo a nossa seara, e também outros aspectos da vida nacional, em que a população “branca” predomina, coincidindo com as camadas com poder aquisitivo e acesso à educação.
      As aspas são devidas à virtual impossibilidade de classificar etnicamente grande parte das pessoas de um país onde a miscigenação é a regra, não a exceção, como ocorre no hemisfério norte; a quase totalidade das famílias é resultado, em nível variado, da colaboração de irmãos das mais diversas procedências.
      Nada existe de casual no cenário desairoso que historicamente tem relegado grande parcela da população negra aos patamares inferiores da sociedade, uma vez que vieram de condições desumanas, de vileza inenarrável, e não receberam qualquer amparo oficial ao adentrarem o mercado de trabalho; porém, independentemente da origem étnica, a verdade é que a educação e o preparo profissional de qualidade sempre estiveram distantes de quem não pudesse pagar por eles.
      Essa omissão, criminosa, continuará com o sistema de cotas raciais e, pior ainda, com a intenção de privilegiar os egressos do ensino público, o que trará para o nível superior as mesmas distorções já conhecidas, que apenas manterão o abismo entre as categorias de renda, com o agravante de o governo alegar, sordidamente, que procura diminuir as diferenças; não o faz realmente, porque teria que ensinar a pescar, mas prefere distribuir pequenos peixes que alimentarão somente o descontentamento e o revanchismo.
      O perfil social do espírita brasileiro é apenas conseqüência desse círculo que sempre foi inercial e tende a se tornar vicioso.
      Colaboram também as características de nossa doutrina, que exige o constante aprimoramento pessoal, motivando o adepto sincero a se manter como estudante dedicado em tempo integral, no esforço, que certamente durará muitas existências, de compreender e praticar os ensinamentos de Jesus.
      Não é, absolutamente, tarefa a que devam arrojar-se aqueles que pretendam resultados imediatos e superficiais.
      Muitos irmãos têm os primeiros contatos com a nossa doutrina na hora da necessidade ainda não atendida por outras vertentes científicas – incluindo a medicina, normalmente dominante –, filosóficas ou religiosas; são bem recebidos, recebem orientação, consolação, esperança e começam, de algum modo, a conhecer os fundamentos espíritas.
      Quase sempre, as leituras iniciais consistem em romances e narrativas vazadas em textos simples e diretos, corretas sob o aspecto doutrinário, mas insuficientes para o constante aprimoramento pessoal, que é uma lei irrenunciável do Espiritismo; raramente, o novato adentra os ensinamentos insubstituíveis das obras obrigatórias para a dedicação efetiva às verdades espirituais, que começariam pelo Evangelho Segundo o Espiritismo.
      Muitos sequer atingem esse patamar, optando pela acomodação inadvertida, situação bem mais confortável que o estudo das complexidades conceituais da verdadeira postura cristã; limitam-se, no mais das vezes, ao comparecimento semanal, se tanto, a palestras para receberem o passe que os “sustentará” por algum tempo.
      Porém, o fator decisivo para a inércia, ou mesmo abandono, é a “exigência” da fé viva, patrocinada pela prática concreta dos ensinamentos cristãos, refletindo-se no cumprimento da assertiva de Kardec de propugnar a reforma íntima como a única prova indiscutível de aceitação do Espiritismo.
      Considere-se ainda o grau de comprometimento e, principalmente, de esforço individual indispensáveis para o bom termo de estudos essenciais, como o ESDE e o ESLE, e concluiremos que somente irmãos dotados de robusta força de vontade e sólida base intelectual estariam à altura da tarefa pretendida.
      O espírita sabe que deve abster-se de comentar criticamente outras religiões, mas, quando parte relevante da própria comunidade espírita lamenta o alcance numericamente inferior de nossos eventos e iniciativas, sob a suposta tendência elitista, entendo válido o cotejo honesto e isento.
      É inquestionável que se devem manter acessíveis a todos os interessados os eventos e as iniciativas de nossa doutrina, oferecendo-os a um custo mínimo ou inexistente; entretanto, não seria surpresa se uma avaliação judiciosa apontasse que o espírita médio talvez "gaste" menos do que os irmãos de outras denominações, muitas vezes às voltas com contribuições pouco espontâneas como dízimos e similares.
      Se for válida essa possibilidade, certamente deveríamos buscar em outros fatores os motivos para a expansão relativamente dosada, conquanto segura, do Espiritismo junto à população brasileira.
      Assim, enquanto irmãos de outra fé prometem a solução de todos os problemas de seus adeptos, por meio da oração, pondo tudo “nas mãos de Deus”, o Espiritismo conclama a atitudes por vezes difíceis, quando não “antipáticas”, como esforço, abnegação, resignação, paciência, caridade, tolerância, propondo o resultado positivo como mérito de cada um.
      Alguns prometem o paraíso para os que seguirem as suas palavras, e a nossa doutrina desvela a lei da evolução constante, pelo trabalho incansável e pela prática cristã incondicional.
      Em várias organizações, o cumprimento de regulamentos e objetivos confunde-se com procedimentos empresariais, a tal ponto que aos mais destacados é oferecida a possibilidade de carreira ascendente no âmbito administrativo e doutrinário; a seara terrena de espiritualização cristã não estabelece dogmas ou restrições pessoais, não mantém clero profissional e nem busca qualquer destaque econômico, social ou político, afastando-se completamente de toda tendência corporativista.
      Em suma, ninguém vive do Espiritismo, mas para ele. 
      Outros predizem o iminente retorno de Jesus, ou a subida até ele, para salvar os bons e condenar os maus a penas intermináveis; o Espiritismo mostra-nos que já estamos na vida eterna, que se tornará cada vez melhor, conforme aproveitemos as incontáveis oportunidades de expiação e reerguimento.
      Existem ainda irmãos, em infeliz e renitente desconhecimento, que enxergam demônios em todos os problemas que não conseguem explicar; nossa doutrina ensina que são, todos eles – esses irmãos e os “demônios” –, filhos do mesmo Pai Criador, que os ama da mesma forma que a nós todos, o que manda que também os amemos e procuremos aliviar-lhes as dores da ignorância.
      Muitos invertem o ditame bíblico e criam um Deus à sua própria imagem e semelhança, em antropomorfismo extremo e conveniente, idealizando um ente supostamente supremo, embora sujeito às emoções humanas, que se compraz com rituais e bajulações, mas é também ciumento e vingativo; o Espiritismo explica o Criador no grau absoluto das virtudes.
      A maioria coloca a Bíblia num pedestal, sempre merecido, porém a interpretação de muitos irmãos é superficial, atém-se ao significado literal de palavras e expressões que são a tradução, “em quarta ou quinta mão”, de idéias expressas há milênios em línguas desaparecidas, como o aramaico, ou completamente modificadas, como o grego e o hebraico.
      O Espiritismo mantém a Bíblia em seu patamar de honra inigualável, e a respeita explicando seus ensinamentos em livros insuperáveis e profundos; não se limita à catequese, mas chega a obras sublimes e complexas como A Gênese, cuja compreensão exige prodígios de dedicação, raciocínio e estudo.
      Sempre será possível argumentar que há muitos seres desprovidos de cultura formal, pouco dados à leitura, que, ainda assim, são praticantes fiéis das verdade evangélicas, porém são reconhecidamente poucos, já vieram a este mundo com a sabedoria inata, provinda de sacrificantes existências anteriores, e exercem a moralidade de modo natural e irresistível.
      Contudo, à parte desses aparentes privilegiados, a maioria de nós precisa assimilar a ética cristã pela maneira mais direta e penosa, compulsando livros e exemplos, para que o conhecimento moral que nos falta seja paulatina e lentamente adquirido e venha a fazer parte de nossa natureza intrínseca.
      O Espiritismo oferece o caminho natural para a futura felicidade crística, sem saltos ou milagres, sem receitas infalíveis, mas propõe-se a ajudar o ser verdadeiramente interessado a superar obstáculos por seus próprios méritos.
      A conseqüência inevitável é que o espírita fica muito exigente consigo mesmo, pois o Espiritismo lhe evidencia que esse é o único caminho, expondo uma verdade que não se tornará popular muito rapidamente para a nossa humanidade, ainda em busca de panacéias para as suas dificuldades, estando mais propensa a acompanhar quem as ofereça.
      A compreensão das verdades eternas – que não são espíritas, são divinas – será um processo gradativo em função das limitações do ser encarnado, e será acelerada à medida que a humanidade se aprimore moral e intelectualmente.
      Retornamos, assim, ao raciocínio inicial: o estudo e a prática do Cristianismo redivivo exigem raciocínio, dedicação e preparo cultural - no mínimo, a disposição para implementá-lo - de irmãos já acostumados a exercer essas capacidades.  Esses são encontráveis em todos os estratos da população, mas é inegável que alguns grupos sociais usufruem facilidades que ainda faltam a outros, e não há motivos para preverem-se melhoras radicais em médio prazo, pois a ação de quem detém os meios e o dever de mitigar as diferenças ainda é incipiente.     
      Porém, não desanimemos, porque alguém já disse que a verdade não precisa de defensores, precisa de praticantes.
      Por isso, se nós, espíritas, estamos convictos do acerto de nossa opção, prossigamos, transmitindo o que aprendemos a quem quiser ouvir, seja uma praça repleta, um auditório lotado ou uma sala singela; o aprendiz sincero sempre saberá onde buscar o professor, a fonte estará sempre ao alcance dos que deploram a sede.
      Mais importante que o emprego maciço dos meios de comunicação é o atendimento às necessidades materiais e espirituais de tantos desfavorecidos da sorte terrena; o nosso investimento preferencial tem que privilegiar o espírito encarnado, sendo secundário o emprego dos recursos tecnológicos de informação, que podem e devem ser utilizados, mas em prioridade menor que a missão da caridade. 
      O Espiritismo não precisa preocupar-se com a inferioridade numérica de seus correligionários, nem com o crescimento pouco acelerado de seus praticantes em relação a outras denominações religiosas; sustenta-o, infalível, a harmonia indissolúvel de sua doutrina religiosa, filosófica e científica.
      O espírito competitivo, para arrebanhar prosélitos e colaboradores, é absolutamente incompatível a qualquer religião que pretenda o progresso moral da humanidade; os espíritas sinceros, genuinamente preocupados com a consolidação terrena de nossa doutrina, precisam observar os bons exemplos, em nossa seara e também em outras organizações, assumindo aqueles que incentivam a prática da virtude maior da caridade.
      Os espíritas devem, sim e sempre, observar criticamente a si mesmos, para que exercitem, no limite de sua capacidade, o mandato de amor que o Mestre Divino outorgou a todos que desejarem segui-lo.
O comportamento correto, a caridade incondicional e a fraternidade indiscriminada constituem a melhor divulgação de nossa doutrina, que chegará, a seu tempo, a todas as mentes sensíveis à sua evocação de paz e felicidade.
Sergio de Jesus Rossi

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

BEBER ALCOÓLICOS É UM FLAGELO SOCIAL



BEBER ALCOÓLICOS É  UM FLAGELO SOCIAL

Se analisarmos atentamente os flagelos da sociedade, na base dos “homicídios”, quase sempre estão ocorrências atreladas ao consumo de álcool. Os tribunais estão abarrotados de processos em face dos delitos oriundos do consumo de alcoólicos. As penitenciárias estão superlotadas por questões vinculadas ao consumo de bebidas alcoólicas. Muitas famílias estão aniquiladas, desestruturadas por causa dos alcoólicos de vários arranjos (destilados ou fermentados), a saber, tequila, vodca, rum, cachaça, gim, cerveja, vinho.
Os alcoólicos não matam a sede, não aquecem no frio, não relaxam músculos. Revoguemos esses e outros mitos de que os alcoólicos podem ser bebidos com moderação – isso quase sempre não é verdade. Sob o escudo das desculpas esfarrapadas, um espantoso número de pessoas tem absolvido a devassidão do consumo de bebidas alcoólicas em suas práticas usuais. Muitos são os paranoicos de plantão que se abeiram da insensatez para afiançar que até mesmo o Cristo bebeu vinho. Nada mais hediondo que essa forma leviana de rebaixar o Mestre até as alamedas de imoralidade e morbidez em que estagiam os viciados.
Beber é histórica e culturalmente considerado um hábito social “inofensivo”, um prazer, uma curtição. Tudo muito irônico, até no escárnio das piadas sobre os bêbados. A rigor, o alcoolismo é uma enfermidade grave e crônica que, como qualquer dependência, não tem cura, porém tem tratamento. Desde 2003, os cientistas já afirmavam ter descoberto um gene importante para a explicação dos inúmeros efeitos do álcool no cérebro, e esperavam poder produzir um medicamento que desativasse alguns dos efeitos de prazer ligados à ingestão do álcool, e talvez tentar combater o alcoolismo com remédio. Não deu certo!
O vício, seja revestido de que caráter for, e onde for e por quem for cometido, nunca deixará de ser um ato nefasto, carecendo ser eliminado a fim de que se reerga o sujeito a ele jugulado, para conseguir seus apropriados caminhos de renovação e exultação.
Nessas vias em que o vício se oferece como coisa admitida, existem os que fazem questão de se despontar impassíveis a quaisquer advertências do bom senso, sinalizando com o livre-arbítrio, enquanto outros perpetram deboches dos que pregam virtudes, provocando-os com a ridícula exposição de suas moléstias, tão logo acabam de ouvir ou de ler qualquer admoestação ponderada.
Ingerir alcoólicos apenas para manter companhias sociais, ou para que tragam excitações artificiais para a desinibição ou para o que for, poderá denotar longo período de destrambelhamento e de agonias nos imperiosos desagravos do corpo e da mente, em função dessas autodestruições que se vão perpetrando à sombra de muitas falácias que encachaçam os ouvidos com citações de efeito, bem arranjadas, mas que não impetram apaziguar a consciência, onde agitam as Sublimes Leis.
Num contexto social permissivo, o vício da ingestão de alcoólicos torna-se expressão de "status", atestando a decadência de um período histórico que passa lento e doído. Vale ressaltar que ao reencarnarmos trazemos conosco os remanescentes de nossas faltas como raízes congênitas dos males que nós mesmos plantamos. O Espiritismo também relata e adverte sobre a influência espiritual oculta, ou seja, o meio espiritual que respiramos pode contribuir para o surgimento de um determinado vício. O viciado em álcool quase sempre tem a seu lado entidades inferiores que o induzem à bebida, nele exercendo grande domínio e dele usufruindo as mesmas sensações etílicas.
Há o mito de que a nefasta maconha leva os jovens a outras drogas. Mas é o álcool que faz esse papel. E a própria família incentiva o consumo. O “álcool gera uma doença de longa evolução (dez anos em média) e o abuso entre jovens os leva a drogas maiores – uma delas é o ecstasy, encontrado em dois tipos de pastilha: a MAP (meta-anfetamina) e a MDMA (metil-dietil-MA), esta com propriedades alucinógenas. O adolescente se expõe hoje muito mais ao álcool. Está se formando uma geração de dependência de álcool. Além dos riscos à saúde, há os perigos de dirigir embriagado, da violência e de traumatismos decorrentes do abuso de álcool.
Sabemos que tudo se inicia no primeiro gole. Depois vem a necessidade do segundo, do terceiro e o alcoolismo se instala em nossas vidas. A sede, o sabor, a oportunidade social, as comemorações, a obrigatoriedade em aceitar um drinque oferecido por um “amigo”, são as muitas desculpas nas quais nos apoiamos para ingerir as doses que, mais tarde, serão letais. Precisamos estar atentos para não cometer exageros, abusos, e não resvalar por esse “hábito social”, que pode terminar por nos condicionar a ele e nos transformar num trapo de gente, num farrapo humano. Ressalte-se que os limites entre o uso "social" e a dependência nem sempre são claros.
Allan Kardec indagou à Espiritualidade se o homem poderia, pelos seus próprios esforços, vencer suas inclinações más. Os Espíritos, de maneira objetiva,  responderam afirmativamente, explicando que  o que falta nos homens [sobretudo nos viciados] é a força de vontade e a legítima fé em Deus.
Jorge Hessen

FRATERNIDADE NO ESPIRITISMO SIM, SINCRETISMO NUNCA!




Por Artur Felipe Azevedo

Vez por outra surge alguém ou algum grupo atacando a coerência espírita e defendendo certas idéias de fundo ecumenista dentro e fora do movimento espírita. Alegam-nos que o Espiritismo - e consequentemente os espíritas - devam estar "abertos" a outras concepções e ensinos, sem o qual correm o risco de tornarem-se intolerantes e antifraternos, e, portanto, em dissonância com o que prega a Doutrina.

Nada mais falacioso.

Não devemos confundir fraternidade e tolerância com ecumenismo, ao quais os ramatisistas, aliás, deu erroneamente outro nome, o de "universalismo". O que chamam eles de "universalismo" não passa de sincretismo, fenômeno bastante presente e comum na cultura brasileira. A definição de sincretismo é de "uma fusão de doutrinas de diversas origens, seja na esfera das crenças religiosas, seja nas filosóficas", exatamente aquilo estimulado por Ramatis e seus simpatizantes.

No caso da Doutrina Espírita, obviamente reconhecemos alguns pontos em comum com outras correntes filosóficas e até mesmo com algumas crenças religiosas, porém analisando com mais profundidade tais similitudes, veremos que a visão espírita possui nuances próprias que as ligam a outros princípios não abraçados por essas outras filosofias e religiões. Evocar semelhanças sem considerar a Doutrina Espírita como um todo, mas em partes, certamente conduz a essas frustradas tentativas de comparação e adaptação.

Verifica-se daí que a confusão geralmente ocorre entre aqueles que ainda não compreenderam a Doutrina Espírita em profundidade, assim como não abarcaram em detalhes todos os seus princípios, confundindo-os com suas próprias concepções pessoais advindas de suas vivências em movimentos religiosos, geralmente no Catolicismo e na Umbanda.

A falta de leitura e estudo sistemático dos livros da Codificação Espírita, somado ao fato de que boa parte da população brasileira é constituída de analfabetos funcionais com grande dificuldade de interpretação de textos simples, só agrava a situação e dão armas àqueles que insistem que deva o Espiritismo assimilar idéias, práticas e conceitos estranhos ao seu corpo doutrinário.

Conscientes dessa realidade, espíritos pseudossábios e muitas das vezes mal intencionados, interessados na disseminação da confusão e do divisionismo, insistem nessa absurda proposta de desfiguração do Espiritismo, através de ditados repletos de sentimentalismo piegas e sem conteúdo, induzindo o leitor à idéia de que o espírita deva aceitar enxertias, à prática espírita, de ritualismos e cultos exteriores sem nenhuma fundamentação doutrinária e lógica, sob a alegação de que devamos estar "abertos" e dispostos a contribuir com o progresso e com uma suposta evolução do ideário espiritista. Mas, que evolução é essa que acaba por incentivar o retorno e/ou permanência das mentalidades em torno do pensamento mágico? "Pensamento mágico" significa interpretar dois eventos que ocorrem próximos como se um tivesse causado o outro, sem qualquer preocupação com o nexo causal. Por exemplo, se a pessoa acredita que cruzar os dedos trouxe boa sorte, ela associou o ato do cruzamento de dedos com o evento favorável subsequente e imputou um nexo causal entre os dois. Psicólogos já observaram que grande parte das pessoas é propensa ao pensamento mágico e, assim, o pensamento crítico fica frequentemente em desvantagem. O que se vê, mais comumente nas religiões cristãs dogmáticas tradicionais, são lideranças religiosas explorando essa tendência a fim de auferir vantagens, na medida em que estimulam os seus fiéis a procurarem resolver seus problemas por meio de promessas, ofertas em dinheiro, sacrifícios, etc. Já no espiritualismo esotérico e nas práticas feiticistas dos cultos afro-brasileiros, a solução da maioria dos problemas hodiernos estaria nas oferendas, no uso de talismãs, amuletos, realização de rituais, consagrações, etc. Embora, pois, se diferenciem quanto à forma, todas essas práticas são oriundas do pensamento mágico, ou, como diriam alguns, do misticismo.

Já asseverava Ary Lex que “no movimento espírita costuma haver certa condescendência para com as pequenas deturpações, condescendência essa rotulada como ‘tolerância cristã’. Estão errados. Tolerância deve haver para as falhas das pessoas, que devem ser esclarecidas e apoiadas, ajudando-as a saírem do ciclo erro-sofrimento. Tolerância com as pessoas, sim, com as deturpações, jamais”. E conclui: “É urgente e fundamental que todos aqueles que tiveram a ventura de entender o Espiritismo lutem, dia a dia, pela manutenção da pureza doutrinária.”

O alerta de Ary Lex nada mais representa do que uma tentativa de convidar os espiritistas a manterem o pensamento mágico distante das práticas espíritas dentro e fora dos Centros.

A questão 554 de “O Livro dos Espíritos” corrobora essa posição. Confiramos:

P.: “Que efeito pode produzir fórmulas e práticas mediante as quais pessoas há que pretendam dispor do concurso dos Espíritos?”

R.: “(...) Todas as fórmulas são mera charlatanaria. Não há palavra sacramental nenhuma, nenhum sinal cabalístico, nem talismã, que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porquanto estes são só atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais”. E continua mais adiante: “Ora, muito raramente aquele que seja bastante simplório para acreditar na virtude de um talismã deixará de colimar um fim mais material do que moral. Qualquer, porém, que seja o caso, essa crença denuncia uma inferioridade e uma fraqueza de ideias que favorecem a ação dos espíritos imperfeitos e escarninhos”.

Em “O Livro dos Médiuns”, é perguntado aos Espíritos Superiores:

“Certos objetos, como medalhas e talismãs, têm a propriedade de atrair ou repelir os Espíritos conforme pretendem alguns”?

R.: “Esta pergunta era escusada, porquanto bem sabes que a matéria nenhuma ação exerce sobre os Espíritos. Fica bem certo de que nunca um bom espírito aconselhará semelhantes absurdidades. A virtude dos talismãs, de qualquer natureza que sejam, jamais existiu, senão, na imaginação das pessoas crédulas”.

O Codificador Allan Kardec comentou, concluindo e reiterando a total desvinculação do Espiritismo com o pensamento mágico propalado pelas religiões e crenças fetichistas:

“Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento e não por objetos materiais (...). Em todos os tempos os Espíritos superiores condenaram o emprego de signos e de formas cabalísticas; e todo Espírito que lhes atribui uma virtude qualquer ou que pretende dar talismãs que denotam magia, por aí revela a própria inferioridade, quer quando age de boa-fé e por ignorância, (...) quer quando conscientemente (...). Os sinais cabalísticos, quando não são mera fantasia, são símbolos que lembram crenças supersticiosas na virtude de certas coisas, como os números, os planetas e sua correspondência com os metais, crenças nascidas no tempo da ignorância e que repousam sobre erros manifestos, aos quais a ciência fez justiça, mostrando o que há sobre os pretensos sete planetas, os sete metais, etc. A forma mística e ininteligível de tais emblemas tem o objetivo de os impor ao vulgo (...), aquilo que não compreende.”

A seu turno, verificamos nas obras de Ramatis uma proposta inversamente contrária, constantemente presentes em seus ditados como podem notar abaixo e em inúmeras passagens dos livros psicografados pelo médium Hercílio Maes:

“Rituais, mantras, sincronizações entre adeptos ou despertamento da vontade; o comando nas quais podereis alcançar o Cristo Planetário!”

"Os amuletos e talismãs, quando realmente dinamizados por magos experientes, obedecem aos mesmos princípios dos minerais radioativos, mas a sua ação é mais vigorosa e específica no campo etéreo-astral invisível aos sentidos humanos."

"Há fundamento lógico e científico no preparo de amuletos e talismãs, quando isso é feito por meio de magos autênticos (...)"

"Há certos tipos de ervas cuja reação etérica é tão agressiva e incômoda, que torna o ambiente indesejável para certos espíritos, assim como os encarnados afastam-se dos lugares saturados de enxofre ou gás metano dos charcos."

"Só as pessoas rudes ou confusas podem considerar a defumação benfeitora uma superstição ou dogma."

"Os espíritos subversivos ou obsessores fogem espavoridos do ambiente onde atuam, quando a queima de pólvora é feita por médiuns ou magos experientes, pois alguns deles são bastante escarmentados em tais acontecimentos."

Em outras passagens, Ramatis procura rebaixar o Espiritismo frente às crenças orientalistas:
“Da mesma forma, reconhecemos que há, entre o neófito espírita, exclusivamente submerso na sua doutrina, e o espiritualista afeito ao conhecimento iniciático, um extenso abismo de compreensão.”

Abaixo, vemos claramente a intenção de incentivar o sincretismo:
“Sem dúvida, apesar de o Espiritismo ser doutrina corporificada para libertar os homens das superstições e dos tabus infantis, ele pode estacionar no tempo e no espaço, tal qual acontece com a Igreja Católica. É acontecimento fatal, caso seus adeptos ignorem deliberadamente o progresso e a experiência de outras seitas e doutrinas vinculadas à fonte original e inesgotável do Espiritualismo Oriental.”

Herculano Pires, à época, reagiu corajosamente a esse tipo de proposta:
 
"Só um setor do conhecimento, nesta hora de transição, não necessita renovações, e esse setor é precisamente o Espiritismo. O que ele exige de nós não é renovação doutrinária, mas apenas expurgo de infiltrações espúrias nos Centros, produzidas pela leviandade de praticantes que se desvairam da orientação doutrinária, adotando atitudes, fórmulas e práticas antiquadas. (...) O terror místico proveniente de um longo passado religioso de mistérios e ameaças não tem mais razão de ser. Não obstante, encontramos no meio espírita um pesado lastro desse terror em forma de traumatismos inconscientes que geram comportamentos antiespíritas".

Já dizia Bossuet: "O maior desregramento do espírito é crer nas coisas porque se quer que elas existam".

Por nossa vez, diríamos que a superstição e as crendices são exemplos desse desregramento, doenças da alma, autênticas amarras que prendem o espírito às trevas da ignorância, conduzindo-o aos descaminhos advindos da fuga da realidade. Se há uma maneira dos falsos profetas da erraticidade e espíritos pseudossábios atacarem o Espiritismo é justamente desfigurando-o através do estímulo ao culto exterior, do pensamento simplista, da crendice, todos representantes do caminho mais fácil, porém inócuo, que tanto atrai aqueles indivíduos desinteressados em promover em si aquilo que realmente interessa que é a transformação moral, que advém justamente do esforço e do avanço da inteligência, conforme puderam claramente ensinar os Espíritos Superiores nas questões 192, 365, 780 e 780a de "O Livro dos Espíritos".