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sábado, 23 de junho de 2012

"PÁTRIA DO EVANGELHO"- SERÁ QUE ISMAEL CONSEGUIRÁ CONDUZIR ESSA EMPREITA?


 Para o Espírito Humberto de Campos “o Brasil não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta, mas, também, a facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais do orbe inteiro.” (1) Evidentemente essas idéias não são para já e nem se restringem ao desenvolvimento dos ensinos de Jesus apenas por aqui, até porque a visão doutrinária  do pensamento de Jesus é universalista.
O ilustre filho de Miritiba (município maranhense hoje batizado com o seu nome),  narra que Jesus, “pelas mãos carinhosas de Ismael, acompanha desveladamente a evolução da pátria extraordinária e delegou autoridade aos grandes médiuns, que seriam os portadores da luz do Cristo. Dentre eles, é citada a personalidade de Bezerra de Menezes, aclamado na noite de julho de1895, diretor de todos os trabalhos de Ismael no Brasil.”(2) Há estudiosos que abominam os argumentos do livro , sobretudo porque Humberto faz referência a Roustaing (estudado por Bezerra no século XIX),  sendo esse fato uma “punhalada cruel contra Kardec”! Que exagero! (não sou roustenista, porém divirjo dessa postura intolerante dos adversários da obra).
Acudimo a tese de que Jesus realmente transferiu a Doutrina Espírita, a mais liberal filosofia que o mundo já conheceu, para o Brasil e creio que aqui haverá de ser o celeiro imenso de riquezas espirituais e recursos materiais para os povos mais pobres do planeta. Quanto a isso, não paira dúvida que o Brasil aposta ser hoje o grande exportador do Espiritismo, nas suas teses abençoadas, que valorizam a Terra, as nações, todos os povos e todos os seres.
Quando mencionamos nosso país como "celeiro", materialmente falando,  é importante frisar que até hoje no Brasil somente foi extraído do subsolo aproximadamente 10% do petróleo existente (incluindo o pré-sal). As reservas minerais estão em grande monta intocadas. As reservas florestais ainda são colossais. A plataforma continental brasileira é depósito de recursos quase infinitos. A nossa reserva hídrica e capacidade fluvial é uma das maiores do mundo. As terras imensas, inabitadas, virgens, guardam possibilidades incontáveis de realizações no que tange ao ecossistema global.
O IBGE instituto Brasileiro de Geografia e Estatística calcula que existam 20 milhões de adeptos e simpatizantes da Doutrina Espírita no Brasil. Existem pelo menos 9.000 núcleos espíritas; milhares de instituições kardecianas  de assistência e promoção social; há uns 500 jornais espíritas impressos, milhares de Portais da Internet contento Revistas Eletrônicas, Jornais Virtuais, Blogs, Salas de Estudos espíritas , são centenas de  programas radiofônicos, alguns poucos programas espíritas de televisão (aqui o número é irrisório); são pelos menos 50 as editoras espíritas, editando aproximadamente 4.000 livros (alguns bons e outros que jamais deveriam ter sido publicados); são quase 90 milhões de exemplares de livros editados e vendidos; atualmente, há centenas traduções para dezenas de idiomas dos livros psicografados pelo Chico Xavier. Como se não bastasse, o movimento espírita mundial é incrementado  por brasileiros que se radicaram noutros países.
Pronuncia Humberto de Campos que o Cristo orientou Ismael nos seguintes termos: “doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro.  Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo. Concentraremos todos os nossos esforços, a fim de que se unifiquem os meus discípulos encarnados . Na pátria dos meus ensinamentos, o Espiritismo será o Cristianismo revivido na sua primitiva pureza. Sem as ideologias de separatividade, e inundando todos os campos das atividades humanas com uma nova luz. ”(3)  (grifei)
O “Conselheiro XX”, magno esteta das letras  do Maranhão,   explana: “a Federação Espírita Brasileira, fundada em 1884, aguardava, sob a proteção de Ismael, a ocasião propícia para desempenhar a sua tarefa junto aos grupos do País. Quando Bezerra de Menezes assumiu a direção da FEB e fez da Instituição o porto seguro a todos os corações.” (4) Entretanto, após a sua administração, tem-se a impressão  que o Movimento Espírita Brasileiro ficou sem  orientação.
Com vista a integração nacional do Movimento , no dia 5 de outubro de 1949, por ocasião da Grande Conferência Espírita no Rio de Janeiro, com a participação de vários dirigentes de Instituições Espíritas, foi firmado um acordo, que passou a ser chamado "PACTO ÁUREO". Nessa ocasião foi criado, na Casa–Máter, o Conselho Federativo Nacional, integrado pelas Federações e Uniões representativas dos Movimentos Espíritas estaduais e do DF (o Distrito Federal era no Rio de Janeiro). Tal instância  foi instituído com objetivo de promover a união dos espíritas e a unificação do Movimento Espírita no Brasil.
A bem da verdade os Benfeitores nos ofereceram todas as condições necessárias para o cumprimento da missão (Pátria do Evangelho). Eles fizeram e continuam fazendo a parte que lhes cabe, mas será que a liderança atual está fazendo a sua? Sinceramente? Não percebemos esse empenho com muita clareza! Pronunciamos isso baseado na seguinte premissa: Quando o Mestre enfatiza a revivescência do Evangelho na sua “primitiva pureza” infelizmente constatamos  que as federativas atuais (com raríssimas exceções) estão absurdamente bem longe de alcançar o que significa “PIMITIVA PUREZA”. Basta medirmos os eventos esplêndidos e dispendiosos que obstinadamente são concretizados no Brasil. Paira um infeliz ranço aristocrático  na coordenação do movimento espírita contemporâneo. Como resolver  esse imbróglio?
Ora, que os dirigentes espíritas, sobretudo os comprometidos com órgãos “unificadores”, compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar como insistentemente advertia Chico Xavier.. Devem  primar pela simplicidade doutrinária e evitar tudo aquilo que lembre castas, discriminações, evidências individuais, privilégios injustificáveis, imunidades, prioridades, mercantilismos dos eventos doutrinários, urge melhorar o emprego dos recursos financeiros oriundos do comércio de produtos espíritas (CD’s, DVD’s, Livros e outros...).
É impraticável “um Espiritismo sem Jesus e sem Kardec para todos, com todos e ao alcance de todos, a fim de que o projeto da Terceira Revelação alcance os fins a que se propõe.” (5) A tendência fidalga  nas celebrações  doutrinárias vai sujeitando-nos a dogmatização dos postulados espíritas na configuração do Espiritismo para abastados, para pobrezinhos, para intelectuais, para iletrados, para expoentes (estrelas) da tribuna, para empavonados sabichões (“doutores”), para associações de “notáveis”, e para uma lista colossal de diversos disparates.
Infelizmente, alguns insistem e se perdem nos labirintos das promoções de eventos cognominados  “congressos espíritas” que jamais assemelham-se às reuniões modestas conduzidas  por Jesus há dois mil anos. Realizam  esses festivos encontrões  não raro  em luxuosos Centros de Convenções destinados a espíritas abastados. Sem qualquer inquietação espiritual ou escrúpulos  justificam a cobrança  de taxas (falaciosamente alcunhada de “contribuição espontânea, colaboração ou rateio”) aos interessados, razão pela qual a flâmula  tão “almejada”  da “unificação” se submerge nesse cipoal de incongruências.
Nos chamados eventos grandes, os órgãos “unificadores” devem envidar todos os esforços para que não haja a necessidade de qualquer cobrança de taxa de inscrição dos fortuitos participantes. O ideal será a opção  por eventos menores, com estruturas modestas e eficazes. Muitas vezes temos a impressão que a liderança atual deseja  concorrer com os segmentos evangélicos a fim de abarrotarem de gente os  ginásios e estádios. Detalhe: O expositor-mor que arrebanha milhares de ouvintes para esse desiderato não vai ficar reencarnado 300 anos e já está próximo dos 90.
Batendo sempre na mesmíssima tecla,  recordamos o Cândido Xavier de Uberaba que  alertou: "é preciso fugir da tendência à ‘elitização’ no seio do movimento espírita (...) o Espiritismo veio para o povo. É indispensável que o estudemos junto com as massas mais humildes, social e intelectualmente falando, e deles nos aproximarmos (...). Se não nos precavermos, daqui a pouco, estaremos em nossas Casas Espíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais.” (6)(grifei)
Não queremos ser prisioneiro do pessimismo. Talvez nem tudo esteja perdido. Não ignoramos  que há muitos Centros Espíritas bem conduzidos em alguns  municípios do Brasil. É exatamente por causa desses Núcleos Espíritas e médiuns humildes, que o Espiritismo poderá se manter simples e coerente, no Brasil e, quiçá, no futuro , possamos dizer que o Brasil é concretamente  a “Pátria do Evangelho e Coração do Mundo ”, segundo Jesus determinou e ordenou a Ismael a tarefa de administrar essa empreita.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net
Referências Bibligráficas:
(1)    XAVIER, F. C. Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (pelo Espírito Humberto de Campos). 11. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.
(2)    idem
(3)    idem
(4)    idem
(5)    Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979
(6)    idem

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A CONEXÃO TELEVISÃO-VIOLÊNCIA-COMPORTAMENTO É PREOCUPANTE



 A violência de todas as gradações conspurca as conquistas sociológicas deste século. Irrompe-se em todos os níveis da sociedade, manifestando-se em múltiplas magnitudes. Lemos um jornal, uma revista; assistimos televisão e a bestialidade é obstinadamente difundida, seja pelos noticiários, pelos documentários; seja pelos filmes (inclusive desenhos “infantis”), pelos programas de auditórios cada vez mais obscuros de valores éticos.
Por quanto tempo teremos que conviver com os aviltantes programas de tevê na Pátria do Evangelho? São que “shows” profanam os princípios fundamentais da moral e da ética. Há programas televisivos brasileiros que estão sendo vetados pelos telespectadores europeus através passeatas contra as licenciosas aberrações que se cometem nas programações importadas destas plagas do Cruzeiro do Sul.
É imperioso que haja, no Brasil, um movimento de conscientização popular robusto, a fim de que ocorra uma alteração na legislação, para que seja devolvido, ao País, o culto dos valores morais elevados veiculados pelas emissoras de TV. Uma mobilização popular será necessária e justa, pois são nossos filhos que estão sendo influenciados pelas programações promíscuas que vêm corrompendo a família brasileira.
Atualmente, é claro que o conflito fundamental não é mais, unicamente, o conflito de classes. Há conflitos de gênero, étnicos, religiosos, regionais, por afirmação de identidade sexual, etc. Que princípio filosófico será capaz de dar conta da relação entre os agentes de socialização – desenvolvimento de opinião pública, de ethos (1) e de sociabilidade – e qual a importância dos meios de comunicação, particularmente da mídia televisiva, nesse processo de harmonização social?
Dois estudos realizados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2009,  mostraram que as telenovelas apresentadas nos últimos 40 anos vêm moldando as famílias em aspectos como número de filhos e divórcios. As telenovelas produzidas no país não estão exclusivamente influenciando e acarretando polêmica no Brasil. Especialistas afirmam que em Angola, na África, por exemplo, as novelas são os programas de maior sucesso. O comércio igualmente é influenciado, desviando centenas de feirantes informais angolanas a atravessarem o Atlântico e desembarcarem em São Paulo à procura de produtos para (re) venda em seu país. Para as pessoas de Angola, as novelas brasileiras são referência sobre o que vestir.
Dizem os especialistas que estamos na “era da alienação”, do estar sozinho e das adesões frágeis, o que facilita a violência. O alcance do produto televisivo, em particular das teledramaturgias (as famigeradas telenovelas), nos juízos e desejos dos brasileiros, suscita empecilhos, superstições, supressões e anuências, que, além de repercussões particulares, acarretam sequelas sociais em nível mundial.
Como se não bastasse, a mídia televisiva tornou-se uma das principais instituições de influência sobre a formação cultural da criança e jovens. Estudos realizados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul demonstra que a exibição de violência na TV tem efeitos inequívocos. Há correlações concretas entre a frequente exposição à violência exibida na Televisão e o comportamento agressivo do telespectador. Pesquisas comprovam que nos Estados Unidos após a entrada da televisão os lares , na década de 40, a taxa de homicídios aumentou 93%.
A televisão ocupa um lugar central nos descaminhos dos rumos que a infância tem tomado. Para desviar-se dos choros e esperneios muitos pais permitem os filhos permanecerem mais tempo defronte da tevê do que o preconizado. Por mais que o filho só assista a programas “infantis”, crianças menores de cinco anos deveriam assistir televisão no máximo duas horas por dia. A recomendação é da Academia Americana de Pediatria (AAP). Os programas invadem as casas, afetam os ouvidos, os olhos, modificam opiniões das pessoas, estabelecem campanhas, decompõem comportamentos. Diante desse dilema foi perguntado a Chico Xavier como era analisado este trabalho dos meios de comunicação pelo Mundo Espiritual?
O médium de Uberaba respondeu: “Na Inglaterra há uma lei que consideramos de muita importância. A própria imprensa, através da cúpula formada pelos homens de responsabilidade que a representam, decidiu formar uma associação de censura, de tudo que tivesse de ser lançado ao público pelos mais novos, pelos jornalistas, pelos radialistas, por todos aqueles que estivessem começando a tarefa de se comunicar com o público. No Brasil, a minha opinião, sem qualquer crítica, mas absolutamente sem qualquer crítica, eu creio que os excessos na televisão, nos jornais e nas revistas são de molde a falsear os sentimentos e pensamentos de muita gente.” (2)
Somos influenciados a partir do bombardeio informativo detonado pelos programas televisivos. Há uma espécie de efeito acumulativo, isto é,  uma exposição exagerada à violência midiática que poderá desenvolver um certo temor e um espécie de complexo  de vítima. Quanto mais violências vemos na tevê, mas facilmente aceitamos  a ideia de que o comportamento agressivo é uma coisa normal.
Embora alguns afirmem que os efeitos da tevê não interferem no comportamento, ou seja, seus efeitos são mais discretos do que se imagina, não concordamos com isso! Afirmam que a violência que a tevê  transmite  não é inventada pelas emissoras, pois sempre existiram gangues, traficância, prostituição, assassinatos,  antes mesmo da TV existir, vociferam os acadêmicos “libertários”! Entretanto entronizar os lixos da sociedade numa ensandecida guerra por audiência, nos leva a refletir sobre a tese da regulação das programações, a fim de diminuir  a exposição das pessoas, sobretudo as crianças,  aos entulhos da violência que a televisão transmite.
A guerra pela audiência, como todo duelo, é demente,  é irracional. E na pugna pela audiência, como em toda batalha, as principais vítimas são as crianças. Numa sociedade de mercado, tudo é tratado como mercadoria. Inclusive a infância. Conquanto seja questão bastante discutida, não há como tampar o sol com peneira, não podemos desconsiderar a nefasta influência da tevê na formação das crianças, tanto na erotização precoce, quanto na antecipação do imaginário social. Hoje isso pode ser considerado uma forma de profunda violência.
Óbvio que o controle é um bom método, sempre a partir da discussão popular possibilitando determinar programas a serem privilegiados ou não na veiculação. Uma regulação (sem a característica de censura), porém de um controle democrático por parte do telespectador sobre as programações que serão exibidas.
A relação televisão-violência-comportamento é evidente que existe! Não obstante seja uma relação extremamente complexa e não confinante. Não há como deixar de relacionar a violência para o conjunto da população e explicar o aumento da violência responsabilizando, em grande monta, aos meios de comunicação em especial a TV. Segundo alguns especialistas, a televisão amolece o corpo e anestesia o espírito. Diante da tevê, o telespectador permanece, fisicamente, inerme, qual androide. Dos seus sentidos, trabalham, somente, a visão e a audição, mas, de maneira, absurdamente, parcial.
É evidente que quem estuda o Espiritismo e pratica seus preceitos vê-se melhor instrumentalizado para a vida em sociedade, nestes tempos atribulados, encontrando conceitos lógicos e racionais para o entendimento da vida numa visão cristã da mesma. Em nome de uma pretensa ruptura com antiga base educacional, modelada nos princípios da austeridade, não podemos abraçar o comodismo na tarefa disciplinadora dos filhos, por preguiça, ou porque não adquirimos as bases necessárias para a tarefa. Em face disso, não podemos permitir que os nossos frágeis rebentos sejam marionetes dos processos de (des)educação alienante da mídia televisiva.
A criança é um adulto que está numa fantasia transitória, conforme afirmava, sempre, Chico Xavier. O adolescente, nos seus 14 e 15 anos, não tem, ainda, perfeito discernimento para fazer opções quanto ao caminho que lhe cabe trilhar; é, geralmente, muito instável, o que é natural. Por essa razão os programas de tevê têm de ser mais bem selecionados pelos pais espíritas, especialmente aqueles que contêm cenas degradantes nos filmes, novelas e em programas de auditório de qualidade duvidosa nos horários impróprios para eles.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

REFERENCIAS:
(1)    Ethos, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo.
(2)    Entrevista com Chico Xavier durante o Programa "Terceira Visão", da Rede Bandeirantes,  São Paulo, exibido em 25/12/1987.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

SOFRIMENTO, A INEXPLICÁVEL REALIDADE E O QUE HÁ DE MAIS CARO NO MUNDO

 Margarida Azevedo

Portugal

Defender que o ser humano só evolui através do sofrimento, ou que este é pelo menos uma parcela fundamental para o seu progresso, é o mesmo que dizer que uma criança só aprende por meio de açoites. Contrariamente aos que defendem tal aberração, as novas correntes pedagógicas já perceberam que a educação é, principalmente, a arte de bem dialogar, donde promovê-la significa acreditar que a palavra é o maior dos bens do Homem.

Daí ser contraproducente e mesmo anti-natura apoiar o progresso humano no sofrimento. Por outras palavras, nem o progresso vem por esses meios, nem se verifica que os mesmos culminem em progresso. Em termos de fé, uma coisa é acreditar em Deus segundo um espírito livre e feliz, vendo Nele o Ser do sumo Bem, outra bem diferente é fazer de Deus uma terapia psicológica para os males que acontecem. Nem Deus é um comprimido, nem um sádico que traça caminhos dolorosos para chegar até Ele.

Por outro lado, fazer do sofrimento a alavanca para desenvolver a fé é demasiado perigoso, pois a História prova até onde nos tem conduzido tal postura. Chegando ao ponto de não querer ser feliz, sob pena de ir parar ao Inferno, muitos houve que procuraram o caminho da dor, associada ao sofrimento, para antecipar a sua entrada no mundo das bem-aventuranças. Ora, nem a dor física é sofrimento, nem o sofrimento é dor física. É muito fácil flagelar o corpo, é bem mais difícil fazer a alma retroceder nos seus vícios, defende o Espiritismo.

Assim, se quisermos definir sofrimento debatemo-nos com a fagilidade da linguagem. Podemos dizer que é um estado d´alma, uma vez que pessoas em situações idênticas têm reacções opostas. E ainda que tracemos excepções, nomeadamente no que diz respeito à dor universal de perder um filho, o sofrimento é sempre mediatizado pelo factor cultural. 

O Espiritismo propõe que é preferível perder um filho a vê-lo nos caminhos do ilícito, o que vem contrariar a máxima de que “enquanto há vida, há esperança.” A Doutrina espírita defende a morte como um bem, isto é, o desencarne, porque, se a vida continua além do corpo, em outra dimensão, então é preferível abandoná-lo a fazer mau uso da vida e do próprio corpo.

Todavia, o assunto não é pacífico, levanta uma infinidade de questões. Vejamos: Não será preferível uma vida difícil a vida nenhuma? Ainda que todos acreditem numa vida além da morte, não é preferível apostar mais nesta, que sabemos como é, a uma outra de que não temos informação, ou pelo menos não a temos de forma precisa? Defender a vida não é um valor prioritário? Desejar a morte, ou preferí-la à vida, não é pecado? Querer a morte por ser dfícil a vida não é uma fuga, um mecanismo de fraqueza? Quem deseja a morte a um filho com base na fé de que no além terá uma vida melhor? Semelhante postura não terá como pressuposto a velha máxima de que, ao morrer, entramos directamente no mundo da luz? Não estará, por ventura, tal desejo, se assim lhe podemos chamar, oposto ao que o próprio Espiritismo defende, a saber, que não entramos num mundo melhor a partir do momento em que neste trilhámos a senda dos vícios?

O que desejamos e o que devemos desejar são por vezes incompatíveis, no sentido de desconformes com os nossos interesses. Vivemos mediatizados por uma infinidade de situações que não construímos, nomeadamente a cultura, além de relações laborais, modelos de consumo normativos que não são nossos. Como contextualizar o sofrimento num mundo que, erroneamente, se tornou global, e no qual cada vez mais se faz o que não se quer nem como quer? Mais, como explicar e justificar a função espiritual do sofrimento quando ele se tornou um artifício manuseado segundo os interesses de quem governa?

Há que perceber que criar sofrimento tornou-se no ganha-pão de uns quantos. Reduzir os salários, a segurança no trabalho, na escola, a criação de ghetos, a identificação dos indivíduos segundo as marcas dos produtos que consomem, a redução do ser ao ter, a produção de novos ignorantes ou analfabetos nas escolas, mercê de métodos e técnicas pedagógicos elaborados em gabinetes e não a partir da experiência da realidade da sala de aula, a falta de perspectivas e de saídas profissionais para os jovens e a violência crescente entre os mesmos, tudo isto se tornou na alavanca dos pulsos de ferro do século XXI.

Ora, é certo e sabido que em situações adversas a fé entra em acção. Ela transforma-se, não em acto livre de crer, mas em mecanismo reactivo, uma resposta contra a prisão “perpétua” em que encerraram toda agente. A fé deixa de ser um meio de o indivíduo lutar pelo bem e elevar-se, para ser a crença de que, no para lá, seja lá onde for, a felicidade espera-o. E é este o pensamento que interessa aos que governam, que dessa forma têm o caminho aberto e livre para criar mais sofrimento. Dito de outro modo, se parte significativa do que comemos já não vem directamente da Natureza, o sofrimento está a ser igualmente criado em estufa.

Estamos a viver num aviário gigantesco, carne para consumo de processus de aculturação que nos impelem a apresentações de sofrimento que se sobrepõem às nossas. Exemplo: uma coisa é um indivíduo querer publicar uma obra literária, mas, mercê das suas ocupações com um familiar doente, não ter a disponibilidade necessária para o fazer; bem diferente é querer publicar o dito trabalho mas não o fazer porque, à sua frente, estão as obras fúteis de todos os que pertencem às amizades do editor.

Estávamos habituados a que o sofrimento fosse o meu sofrimento, não o de outro, a minha relação com o meu estado d´alma; uma relação de posse, de intransmissibilidade e intransitividade, e nisto consistia a sua universalidade: ser tanto mais geral quanto mais se particulariza em cada indivíduo. Hoje, continua a haver universalidade, já não como o conjunto dos indivíduos mas como massa anónima de gente que se pretende à deriva, perdida e confusa, e à qual se dá todo o tipo de possibilidades para pensar a sua fé inconsequente, verdadeiras aberrações que em nada contribuem para o progresso da Humanidade. Todos se tornaram expectantes de uma vida melhor no para lá, ou de um castigo mágico para os maus ainda cá deste lado. 

Associar o sofrimento à evolução pode ter as suas vantagens, se com isso querermos dizer que o progresso tem os seus escolhos. Porém, eles não podem ser tidos como elementos do sofrimento. Pelo contrário, são móbeis fundamentais ao processo de investigação. As evidências são por demais perigosas e os escolhos despertam a inteligência para o mais recôndito.

A nossa evolução é, por isso, antes de tudo, uma acção da vontade livre à qual está subjacente uma pré-disposição. Nascemos portadores de mecanismos que nos direccionam para áreas de interesses. Ora, o sofrimento surge quando, exteriores a nós, ou mesmo por nosso intermédio, em resultado da nossa ignorância, outros factores se sobrepõem impeditivos de conscretizar o que naturalmente nos está traçado. Porém, não se confunda tais factores com a noção psicológica de frustração. Esta não se resume apenas à figura paterna ou materna castradora que impede o filho de realizar um desejo; ela consiste igualmente numa barreira do próprio indivíduo impedindo-o de concretizar tarefas, o que, uma vez tratado, remete-o para a efectivação dos seus objectivos. Pelo contrário, os factores externos impeditivos são um conjunto de múltiplas acções, que mercê do seu poder incomensurável, condicionam o indivíduo de forma definitiva, levando-o a agir contra si mesmo e que o impedem de realizar aquilo para que estava vocacionado.

Há que compreender que evoluir é uma decisão que se toma e que fica para sempre. Ninguém decide que vai evoluir durante um mês ou um ano. Trata-se de um querer desmesurado, sem limite, sem ponto de chegada pois está em permanente acontecer e onde é sempre possível acrescentar mais um. 

Por consequência, crescer significa aumentar responsabilidades, desenvolver aptidões, partilhar com maior equidade, contribuir conscientemente para o progresso da sociedade. Como fazê-lo numa cama de hospital, que projectos num país onde, pela fome, a esperança média de vida vai apenas até aos 40 anos de idade? Como pensar a longo prazo? Como idealizar uma vida melhor para os filhos? Que educação lhes facultar? Que fé, que oração, que forma de crença, que disponibilidade para as actividades espirituais na miséria, na falta do mais elementar, do mais básico?

A religião, a ética, a política e tudo o mais com que nos ocupamos quotidianamente é assunto de gente de barriga cheia. Quando cheio de fome, tudo se resume a colmatá-la. Condenar um ladrão que assaltou um banco é uma coisa, condenar alguém que furta um pão para comer é outra bem diferente. Víctor Hugo, esse espírita convicto, percebeu-o com singular lucidez: a universalidade da Lei tem que ser justamente aplicável à singularidade do indivíduo. Os Miseráveis mostram-nos até onde pode ir um homem, quando injustamente acusado de ter cometido um acto perigoso, movido apenas pela fome. 

Em suma, bem mais que a indústria farmacêutica e o negócio das armas, para além do tráfico de droga e todo o tipo de produtos comercializados no mercado negro, o sofrimento supera, e muito, todo esse mundo do ilícito.

Primeiro porque é um negócio legal, ainda que tudo o que lhe seja paralelo possa não o ser; segundo porque não escolhe ninguém. Toda a gente tem o seu sofrimento, em todas as idades, em todas as classes sociais, em todos os sectores da vida. É uma espécie de praga sem antídoto que atravessa continentes, estruturas sociais e políticas. Não conhece raças, etnias, vai para além do factor religioso, da fé. Não tem que ver com a conduta da vida. Gente boa e má sofre de forma idêntica: assassinos, ladrões e gente honrada. Ética, moral, educação, arte, ciência, cultura são-lhe indiferentes. Todos, absolutamente todos estão no mesmo barco. Porquê? Como explicar este mistério?

Se tomarmos em consideração que o mundo cresce para um contencioso com quem trabalha, que a mão-de-obra está cada vez mais dispensável e barata, que se abafa todos os dias a força de quem tem nas mãos a riqueza e o garante de sobrevivência de um país, que são criados todos os meios para desenvolver a insegurança e com ela a crescente fragilização do ser humano em todos os parâmetros e em todas as estruturas básicas, então temos que concluir que estão criadas as condições para manter e aumentar o sofrimento dos povos. Condenando-os ao silêncio, mas criando a ilusão de que são livres de pensar e opinar, a autodeterminação nunca foi tão posta em causa, pois que a interferência nas políticas internas tornou-se o prato do dia.

E como há compradores para tudo, ou consumidores de todos os gostos, também há quem goste de consumir sofrimento. É muito fácil. A imagem de Jesus crucificado deve ser das figuras mais vendidas do mundo. Um instrumento de tortura, Jesus no clímax do sofrimento, a cabeça pendente, a sangrar e com o olhar vítrico tornou-se no grande embaixador da salvação. Trazê-la pendurada ao pescoço, ou fazer dela instrumento de adorno em casa, ou trazê-la como amuleto no automóvel, a cruz, com ou sem Jesus, é dos maiores instrumentos do medo, do sofrimento, bem como de antagonismo à livre expansão do pensamento do crente.

Cada vez mais procurado, o sofrimento é matéria fácil de políticos sem escrúpulos, dos líderes religiosos fanáticos, da publicidade enganosa, de organizações fantasma tais como agências matrimoniais, centros de convívio para conhecer pessoas sob o pretexto de cultivar e desenvolver padrões de socialização e quebrar o isolamento. E estes são os aspectos mais soft. Aumentar o fosso entre ricos e pobres, ver gente a enriquecer à custa do ilícito, criar, por meio de mecanismos psicológicos manipuladores, o aliciamento e a consequente angústia por não poder comprar algum conforto a que, legitimamente, todo o ser humano tem direito é tornar a vida em tortura e cujo objectivo, dos fracos, é viver uma vida sofrível e descurar, por consequência lógica, o seu importante papel de ser mensageiro de uma pequena luz ao fundo do túnel.

No conjunto, é um punhado de gente das trevas a viver à custa de quem precisa de uma resposta para os seus problemas, uma mão amiga, uma ajuda eficaz, mas também de quem quer mostrar o seu valor e fazer alguma coisa pelo outro. É certo que não há uma resposta definitiva, como nada de definitivo existe neste mundo, mas é a resposta possível, a mais viável para um determinado momento; é aquilo que se precisa de ouvir ou fazer naquela hora.

É facto que o Homem é um ser de problema, mas é simultaneamente um ser de resoluções. Num mundo onde os animais são tão mal tratados e ainda trabalham, não conhecemos que os mesmos se tenham organizado em associações contra os maus tratos dos humanos. Assim, se estes não aprenderem a utilizar a inteligência em seu favor, se não a aplicarem no alívio do sofrimento, cada um de per si e em prol de todos, então em nada serão superiores aos animais.

sábado, 9 de junho de 2012

“Antecipação Terapêutica de Parto”

LUIZ CARLOS FORMIGA



Reencarnação existe? O carma existe? Conceição S. F. Medina diz que “Na USP, no curso de especialização de medicina, a disciplina de Reencarnação é obrigatória, por que a ciência já provou que a reencarnação é um fator natural, biológico! O precursor destas pesquisas foi o Dr. Ian Stevenson, professor de Neurologia e Psiquiatria na Universidade de Virgínia, EUA. Ele escreveu a obra Twenty Cases Sugestive of Reincarnation” (1).
Se o câncer é uma doença cármica, de que tipo de erro é proveniente? O tipo de erro é muito variável para qualquer doença. Um corsário que singrava os mares e roubava mulheres é um leproso moral. A expressão cármica pode se ligar ao leproestigma. Isto é, pode corresponder a uma Hanseníase Virchowiana. A Lei é corretiva e atua primariamente no campo psicológico, sendo que as circunstâncias físicas são apenas um meio pelo qual a finalidade educativa é alcançada. A reação no plano físico não é exata. Derramar sangue pode corresponder a uma anemia irreversível (2).
Como será essa correspondência com o uso da técnica e da política seguinte?
A Técnica. 1. com o Cytotec. Elas nascem vivas, mas acabam morrendo e são despejadas na lata de lixo. 2. "Aspiração Manual Intra-Uterina" (AMIU), onde se suga o bebê em pedacinhos. 3. raspagem do útero, com duas lâminas afiadas em forma de foice (curetagem). Esquartejamento, em pedaços grandes. 4. dose enorme de hormônios que desestabiliza a parede do útero impedindo o implante. Ocorre sangramento abundante e o feto é descartado. (3).
A Política. Cruz (4) diz que: grande é a pressa do governo federal de pôr em prática a execução dos inocentes (fetos até o nono mês), que no dia seguinte ao do julgamento, 13 de abril, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, informava: Hoje, temos 65 hospitais credenciados pelo Ministério da Saúde para fazer o aborto legal, ou seja, que a Justiça autoriza. E temos mais 30 hospitais sendo qualificados para isso. Nossa meta é que, até o fim do ano, tenhamos 95 hospitais preparados em todo o país para esse serviço. Note-se bem: Dilma havia cortado R$ 5,4 bilhões da dotação orçamentária para a Saúde neste ano. Mesmo com tão poucos recursos, o governo encontra verba suficiente para capacitar mais 30 hospitais para a prática do aborto. De fato, para a nossa presidente o aborto tem prioridade sobre a saúde. Como tais abortos serão feitos? Alguém poderia imaginar, ingenuamente, que o Ministério da Saúde não faria outra coisa senão “antecipar o parto” da criança anencéfala induzindo contrações uterinas. Essa era a primeira impressão que dava a sigla ATP – “antecipação terapêutica de parto” – criada pelos abortistas. Pura ilusão. No mesmo dia 13 de abril, o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital, disse que os procedimentos usados serão os mesmos que os dos outros casos de aborto, incluindo a curetagem (esquartejamento) e a aspiração (sucção em pedaços). Até o nono mês de gestação, a criança anencéfala, com o coração batendo, remexendo-se no útero e reagindo a estímulos nervosos, poderá ser trucidada com as mais sanguinárias das técnicas.(4)
Um livro de grande valor na atualidade é o “romance do imortal francês, Victor Hugo, que retorna pela psicografia de Divaldo P. Franco convidando os leitores a meditações profundas em torno dos problemas da vida. O centro da narrativa é uma jovem médica de origem judia. O livro é um brado de alerta contra o aborto delituoso” (5).
Seria melhor evitar a gravidez, para não correr o risco da “tentação” de uma ATP? Certamente a técnica, onde se pode usar o dispositivo de titânio, teria correspondência mais branda considerando a Lei de Ação e Reação. (6). E, ainda, o Brasil não correria o risco de “um ciclo de guerras”. Vamos orar para que o Chico tenha se enganado (7).


(3)  http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/a-norma-do-aborto.html

(4)  http://www.jornalopcao.com.br/colunas/cartas/aborto-de-anencefalos

(5)  http://mensageirosdeluz.com.br/index.php?/vmchk/Divaldo-Pereira-Franco/Do-Abismo-as-Estrelas/flypage-ask.tpl.html


             (7)  http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=626260

quarta-feira, 6 de junho de 2012

AOS ESCRAVOS DAS BEBIDAS ALCOÓLICAS RECOMENDAMOS JESUS – “VINDE A MIM...” ( Mateus 11:28-30)

O consumo de alcoólicos pelo ser humano não é hábito recente; é tão antigo quanto o próprio homem das cavernas. Seja qual for o período histórico e em que sociedade com a qual se relacionou ou a cultura que recebeu, o homem tem bebido. Há 3700 anos “Código de Hamurabi” já trazia normativos sobre as situações, lugares e pessoas que podiam ou não fazer a ingestão de bebida alcoólica. Há 2500 anos os chineses perdiam – literalmente – a cabeça por causa da bebida alcoólica – a prática era punida com a decapitação. Configura-se um costume extremamente antigo e que vem persistindo por milhares de anos.
Paulo escreveu para os cristãos de Efésio: “e não vos embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do Espírito.”.(1) O álcool é a droga “lícita” mais consumida no mundo contemporâneo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda de acordo com a OMS, a bebida alcoólica é a droga legalizada de escolha entre crianças e adolescentes. Estima-se que o uso desse tóxico tenha início aos 10 a 12 anos. Os males gerados pelo alcoolismo são a terceira causa de morte no mundo.
Estudos encontrados na literatura científica mostravam que os homens bebiam mais que as mulheres em todas as faixas etárias, e que jovens consumiam mais álcool do que idosos. Porém, outras pesquisas apontam para o aumento anual, no Brasil e no mundo, do porcentual de mulheres dependentes. No passado, pontuam os especialistas, para cada cinco usuários problemáticos de álcool existia uma mulher na mesma condição. O estudo demonstra que atualmente a razão comparativa é de 1 para 1. Elas já bebem tanto quanto eles, mas concentradas em fases distintas. É mais recente a aceitação social do uso do álcool pelas mulheres. Realmente, antes elas não bebiam tanto. Com isso, o foco das campanhas preventivas ficou muito centrado nos homens. As mulheres ficaram negligenciadas nessa abordagem. Raros são os ginecologistas, por exemplo, que questionam se as suas pacientes bebem.
As grandes vítimas são os filhos, envolvidos numa rotina de restrições e constrangimentos. Filhos de mulheres que consomem álcool em excesso durante a gravidez estão sujeitos à síndrome alcoólica fetal, que pode provocar sequelas físicas e mentais no recém-nascido. Crianças e adolescentes filhos de pais com o vício estão mais sujeitos a desequilíbrios emocionais e psiquiátricos. Normalmente, o primeiro problema identificado é um prejuízo severo na autoestima, com repercussões negativas sobre o rendimento escolar e as demais áreas do funcionamento mental. Esses adolescentes e crianças tendem a subestimar suas próprias capacidades e qualidades.
Os dados atuais sobre alcoolismo são devastadores. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas (HC) de São Paulo, ligado à Secretaria de Estado da Saúde, mais de 9% dos idosos paulistanos consomem bebida alcoólica em excesso. O levantamento feito com 1.563 pessoas com 60 anos ou mais apontou que 9,1% dessa população abusa do álcool, o equivalente a 88 mil idosos da capital paulista.
Demonstrado cientificamente que o álcool é pernicioso em qualquer faixa etária, seus danos entre os adolescentes são patentes, sobretudo, durante a fase escolar, uma vez que o uso sucessivo da substância impede o rendimento, além de provocar desordem mental, falta de coordenação, problemas de memória e de aprendizado. Consequentemente, esse processo resulta também em dores de cabeça, alteração do ciclo natural do sono, da fala e do equilíbrio.
A dependência ao álcool pode ser hereditária, havendo uma predisposição orgânica do indivíduo para o seu desdobramento, no qual o Espírito imortal traz em seu DNA perispiritual as marcas e consequências do vício em outras experiências reencarnatórias, sendo compreensível, então, que o alcoolismo seja transmissível de pais para filhos. As matrizes dessas disfunções estão no passado, seja de forma hereditária ou espiritualmente, em decorrência de experiências infelizes, remanescentes de pregressas existências.
Segundo André Luiz, “ao reencarnarmos trazemos conosco os remanescentes de nossas faltas como raízes congênitas dos males que nós mesmos plantamos, a exemplo, da Síndrome de Down, da hidrocefalia, da paralisia, da cegueira, da epilepsia secundária, do idiotismo, do aleijão de nascença desde o berço.” (2) “O corpo perispiritual, que dá forma aos elementos celulares, está fortemente radicado no sangue. O sangue é elemento básico de equilíbrio do corpo perispiritual”. (3) Em “Evolução em dois Mundos” o mesmo autor espiritual revela-nos que “os neurônios guardam relação íntima com o perispírito.”(4) Portanto, a ação do álcool no perispírito é letal, criando fuligens venenosas que saturam no perispírito, danificando tanto as células perispirituais quanto as células físicas.
As substâncias dos alcoólicos ingeridos caem na corrente sanguínea, daí chegam ao cérebro, atacam as células neuronais; estas refletirão nas províncias correlatas do corpo perispiritual em configuração de danos e deformações apreciáveis que, em alguns casos, podem chegar até a desfigurar a própria feição humana do perispírito.
Infelizmente a liberalidade de muitas famílias com o álcool é um dos maiores problemas para a prevenção: é mito considerar que maconha leva os jovens a outras drogas. São as bebidas alcoólicas que fazem esse papel. Nefastamente é a azada família que estimula a ingestão dos “inofensivos destilados e/ou fermentados”. Não são poucos que começaram a beber quando o patriarca (pai), orgulhoso do filho que virava homem, os atraía para os drinques dos “machões”.
O vício de beber cria rotinas que envolvem cúmplices encarnados e desencarnados que compartilham do mesmo hábito e manias. Bares, restaurantes, lanchonetes, clubes sociais e avenidas estão repletos de jovens que, displicentemente, fazem uso, em larga escala e abertamente, das tragédias engarrafadas ou enlatadas. A instalação do alcoolismo envolve três características: a base genética, o meio e o indivíduo. Filhos de pais alcoólatras podem ser geneticamente diferentes, porém só desenvolverão a doença se estiverem em um meio propício e/ou características psicológicas favoráveis.
Os infelizes “canecos carnais” não só desfiguram e arrasam o corpo como agridem e violentam o caráter e deterioram o psicossoma através das obsessões, acendidas por espíritos beberrões que compartilham junto do bêbado os mesmos vícios e se alimentam através dos vapores alcoólicos expelidos pelos poros e boca numa simbiose mortificante. É precisamente esse vampirismo incorpóreo que ilustra o motivo de o alcoolismo ser avaliado como moléstia progressiva e de certo modo incurável. É verdade! Parar de beber, dizem membros do AA’s (Alcoólicos Anônimos), é a vitória maior para o dependente, mas a doença não acaba. Se ele voltar a dar uns goles, em pouco tempo recupera um ritmo igual ou até maior do que o mantido antes da pausa. “Não existe ex-alcoolista nessa história”, sustentam os frequentadores dos AA’s.
Essas são razões suficientes para que nas celebrações e festejos com amigos nos bares da vida, fugir do compromisso da vã tradição da bebedeira a fim de divertir-se. O oceano é constituído de pequenas moléculas de H2O, e as praias se formam com incontáveis grânulos de areia. É indispensável, portanto, desatar-se daquele clichê do “é só hoje”, e quando arrastados a comportamentos para “distrair”, não se deve aceitar a perigosíssima escapadela do "só um golinho", até porque não se pode esquecer que uma miúda picada de cobra peçonhenta, conquanto em acanhada porção, pode produzir a morte imediata, portanto ao invés de se distrair vai se destruir.
Sem dúvida que é mais fácil é evitar-lhes a instalação do que lutar depois pela supressão do vício (como dizem os membros dos AA’s: não há ex-alcoólatra). A questão assenta raízes densas na sociedade, provocando medidas curadoras e profiláticas nos círculos religiosos, médicos, psicológicos e psiquiátricos, necessitando de imperiosa assistência de todos os segmentos sociais para (quem sabe!) minimizar seus efeitos flagelantes. Destarte, faz-se urgente assentar a questão da alcoolfilia no foco dos debates públicos. Até porque o problema da consumação alcoólica precisa ser atacado sem trégua, a fim de que sejam encontradas soluções para a complexa epidemia do “tóxico legal”.
Para todos jugulados pelos vícios recomendamos Jesus. Sim! O Messias que prometeu: “vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”(5)
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net
 
Referências bibliográficas :
(1) Efésios, 5:18.
(2) Xavier, Francisco Cândido. Nos domínios da mediunidade, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB, 2000, p.139-140
(3) Xavier, Francisco Cândido. Missionário da Luz, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 2001
(4) Xavier, Francisco Cândido. Evolução em, Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 2003
(5) Mateus 11:28-30

terça-feira, 5 de junho de 2012

ANENCÉFALOS, ARGUMENTOS DE MINISTROS E “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”


Luiz Carlos D. Formiga



A concepção pode dar origem a fetos teratológicos, aqueles sem aparência humana e ausência de órgãos que funcionem. Na realidade são apenas corpos, para os quais nenhum espírito foi destinado. A inexistência de um modelo organizador biológico humano aponta na direção da inexistência de um espírito. Sem espírito não há vida e, portanto, nenhum atentado é possível contra ela. O ministro Celso Melo enfatiza: “o crime de aborto pressupõe gravidez em curso e que o feto esteja vivo”. Diante de um feto teratológico há “dor na alma”. O sofrimento psíquico é inerente à vida humana, mas não é coisa que lhe degrade a dignidade. Por isso o ministro Cezar Peluso disse que “a natureza não tortura”.
Não podemos comparar fetos sem aparência humana e sem órgãos em funcionamento com anencéfalos. Pode-se até desejar desumanizar anencéfalos com objetivos políticos, mas é impossível fazê-lo, sob o ponto de vista biomédico. Por outro lado, toda criança que sobrevive é um espírito encarnado, porque senão, não seria humano, não importando o tempo de sobrevivência. Aparentemente, não podemos mensurar a importância desse tempo, mas a comunicação mediúnica fala de seu valioso significado. Se o feto tem controle automático dos batimentos cardíacos e outras vísceras é porque possui estruturas neurais compatíveis com as funções. Anencéfalos podem demonstrar partes do encéfalo preservadas, havendo danos com graus variados. O termo anencéfalo é enganoso, ao sugerir “ausência total”. Isso influenciou o voto de, pelo menos, dois daqueles ministros.
Sabe-se que há relação direta entre fetos anencéfalos e o abortamento espontâneo. Cerca de 65% morrem no período intra-útero. Dos que sobrevivem, cerca de 2/3 falecem nas primeiras três horas. O registro mostrou que, de 180 anencéfalos vivos, 58% não sobreviveram após as primeiras 24 horas. Quando a alma está presente?
Que é a alma? A resposta no “Livro dos Espíritos”, está na questão 134 e diz que é “um espírito encarnado”. Mas, que era a alma antes de se unir ao corpo? “Um Espírito”.
O corpo pode existir sem alma, não sendo homem, mas massa de carne sem inteligência (q.136).
Peluso argumenta que “o ordenamento jurídico reconhece o indivíduo ainda no seio materno como sujeito de direito, enquanto portador de vida. Ele não é uma coisa, mas sujeito de direito. Não sendo também objeto de direito alheio. A mãe não tem poder jurídico de disposição sobre o filho ou filha anencéfalo!”
Nas questões deste capítulo, de "O Livro dos Espíritos", encontramos “de novo” o vocábulo (alguns/algumas) na q. 356. Nela verificamos que entre os natimortos há alguns onde não foi destinada a encarnação de espíritos. Isso pressupõe que para outros pode ser diferente (q. 356 b).
O espírito em experiência na carne e na agonia, algumas vezes, já tem deixado o corpo havendo apenas vida orgânica. Sob o ponto de vista prático, como saber se o espírito já deixou o corpo? Como saber também se está ligado ao corpo, diante da possibilidade do automatismo biológico?
São questões aparentemente difíceis de responder como o problema que é determinar com absoluta segurança uma anencefalia. Por outro lado, a vida é inviolável, mas se você a relativiza, dizendo que o feto não tem condições para viver e por isso lhe aplica a pena de morte, estará autorizando o mesmo procedimento no sentido da eutanásia, diante do “paciente terminal”, que vive enquanto morre.
O reconhecimento do indivíduo ainda no seio materno como sujeito de direito é elemento complicador diante da possibilidade do erro médico. A possibilidade do erro jurídico nos afasta da pena de morte. A do erro médico deveria fazer o mesmo. No Brasil podemos dizer que “a criança respirou, mas estava juridicamente morta.”
O Livro dos Espíritos é claro quando informa que se a criança vive após o nascimento ela tem forçosamente encarnado em si um espírito e é um ser humano (q 356b). Essa informação que nos conduz ao período anterior ao nascimento, quando teremos que tomar decisões, parece explicar a posição, mesmo que minoritária, dos dois ministros.
As informações dadas a Allan Kardec auxiliam a entender os percentuais acima referidos.
O ministro Peluso acrescenta: “a alegação de que a morte possa ocorrer no máximo algumas horas após o parto em nada altera a conclusão segundo a qual, atestada a existência de vida em certo momento, nenhuma consideração futura é forte o bastante para justificar-lhe deliberada interrupção. De outro modo, seria lícito sacrificar igualmente o anencéfalo neo-nato.” “A curta potencialidade ou perspectiva de vida em plenitude com desenvolvimento perfeito segundo os padrões da experiência ordinária, não figura sob nenhum aspecto razão válida para obstar-lhe a continuidade.”
Uma mulher tem o direito de levar a termo uma gestação com uma criança seriamente afetada, quando isso representa uma carga financeira e social imensa para toda a sociedade?
Voltemos ao discurso do ministro Peluso. “O doente de qualquer idade, em estado terminal, portador de enfermidade incurável de cunho degenerativo por exemplo, sofre e também causa sofrimento a muitas pessoas parentes ou não, mas não pode por isso ser executado”. “Na ínfima possibilidade de sobrevida, na sua baixa qualidade ou na efêmera duração pressuposta, argumento para ceifa-la por impulso defensivo, por economia ou por falsa piedade, é insustentável à luz da ordem constitucional que declara, sobreleva e assegura valor supremo à vida humana”. Aqui, “a atuação avassaladora do ser poderoso e superior e detentor de toda a força infringe a pena de morte ao incapaz de pressentir a agressão e de esboçar qualquer defesa.”
Espíritos em provas de limitação mental sofrem o constrangimento dos órgãos defeituosos (q. 372).
No momento de decisão devemos nos debruçar sobre a resposta dos Espíritos Superiores (q. 356b) – “há forçosamente um espírito encarnado”. O ministro Peluso diz que “o bebê anencéfalo pode viver segundos e até meses, o que é inquestionável.” Em seguida pergunta: “a compreensão jurídica do direito à vida legitima a morte, por causa do curto espaço de tempo da existência humana? Por certo que não!” E completa: “a ausência dessa perfeição ou potência, embora tenda a acarretar a morte nas primeiras semanas, meses ou anos de vida, não é empecilho ético nem jurídico ao curso natural da gestação, pois a dignidade imanente à condição de ser humano não se degrada nem se decompõe só porque seu cérebro apresenta formação incompleta.”
Um bebê anencéfalo passou o primeiro dia em casa em estado estável, em Patrocínio Paulista (SP). Alguns advogam que não era anencefalia. Nesse ponto também estamos com Peluso: “Nem sempre a Medicina pode garantir que o caso seja de anencefalia. Se há dúvidas sobre o diagnóstico, possível e provavelmente, muitos abortos serão autorizados para casos que não são de anencefalia.”
Marcela de Jesus completou cinco meses no dia 20 de abril de 2007 e respirava sozinha, até dois anos.
“É importante comparar o caso do anencéfalo com outras situações, mas que não autorizam de per si a decretação da morte do paciente. A vida humana provida de intrínseca dignidade anterior ao próprio ordenamento jurídico, fora das hipóteses legais específicas, não pode ser relativizada nem pode classificar de seus portadores, segundo uma escala cruel que defina com base em critério subjetivos e sempre arbitrários, quem tem ou não direito a ela”. “Havendo vida e vida humana, atributo do feto e bebê anencéfalo, se está diante de um valor jurídico fundante e inegociável que não comporta margem alguma para esta transigência.”
“Independentemente das características que assuma, na concreta e singular organização de sua unidade psicossomática, a vida vale por si mesma, mais de qualquer bem humano supremo como suporte pressuposição de todos os demais bens materiais e imateriais”
Para não desgastar a sua saúde, Marcela de Jesus Ferreira contava com auxílio de um capacete fornecedor de oxigênio. Afinal, “tem dignidade qualquer ser humano que esteja vivo, ainda que sofrendo de doença terminal ou potencialmente causando sofrimento ao outro, como o anencéfalo. O feto anencéfalo tem vida, ainda que breve, sua vida é constitucionalmente protegida.”
No entanto, se o desumanizarmos poderemos adormecer as consciências (1).
“Aborto, auxílio ao suicídio, homicídio apresentam objetivamente os mesmos resultados físicos que é subtrair a vida de um ser humano por nascer ou já nascido, sob o argumento de diversas origens tais como liberdade, dignidade, alívio de sofrimento ou direito a autodeterminação.”
Peluso ainda diz que “a natureza não tortura, o sofrimento é elemento inerente à vida humana e não lhe degrada a dignidade.” Há sofrimento junto ao paciente terminal e também com a mulher que ficou grávida depois da violência.
Espero que aceitem a minha posição contra a eutanásia. Que aceitem o fato de que o paciente enquanto morrendo/vivendo precisa de ajuda para ampliar e valorizar o seu passado, diante do futuro aparentemente pequeno. Sou contra, mesmo na doença em estado avançado, disseminada, com prognóstico severo, onde já se esgotou todo o arsenal terapêutico, cirurgia, radioterapia, quimioterapia, onde a equipe médica não tem mais nada a oferecer. Onde não há mais lucro. Onde há dor, aparente incurabilidade e inutilidade.
Penso que a eutanásia é, sempre e em qualquer hipótese, um homicídio. O "direito de matar" ou "de se fazer matar" não pode configurar-se diante de uma lógica ou de uma necessidade ético-jurídica, pois direito é aquilo que está cristalizado na tradição; nos costumes e no interesse social. Desse modo, não se pode falar em "direito de matar" ou em "direito de morrer", pois a racionalização e a humanização do direito tutelou e consagrou a vida como o mais valioso dos bens.
Difícil conciliar uma medicina que cura com uma medicina que mata. Ensinava Kant que a melhor maneira de se medir a licitude de uma ação era imaginá-la como regra geral. Caso se concluísse pela negativa, a ilicitude seria manifesta. Imagine-se a eutanásia legalizada e nas mãos de todos os interesses: políticos, religiosos, econômicos, eugênicos, entre outros (2).
Os que justificam a prática da eutanásia o fazem baseados na incurabilidade que é um dos conceitos mais movediços e duvidosos. No sofrimento, mas a dor é algo controlável e extremamente pessoal. Na inutilidade, que nestas condições, é mais uma concepção preconceituosa e consumista do que um meio científico de decisão.
No julgamento, a autoridade da sentença está na razão da autoridade moral do juiz que a pronuncia. Vamos fazer um exercício bioético. Agora você é ministro/juiz. Aceitaria o aborto para “salvar a vida” da gestante, soro convertida (HIV), grávida pelo estupro? Pensemos (3). A ética visa mais o bem a ser conquistado e garantido que ao mal que deve ser evitado. A bioética é a ética aplicada aos novos problemas que se desenvolvem nas fronteiras da vida. Ela vem em salvaguarda do ser humano. Leva em conta a singularidade da individualidade e também a universalidade da sua humanidade. Não pretende ser restritiva, mas tem a tarefa de colocar limites éticos a fim de salvaguardar a pessoa humana, sua vida singular e humanidade.
No exercício acima, depois de profunda reflexão, incluído a violência sofrida pela mulher, é possível que um profissional ético chegasse a conclusão de que esta é uma matéria sem resposta definitiva (influência da sorologia positiva) no processo gestacional e da própria saúde do feto (singularidade e humanidade manifestas). Depois de muito caminhar na estrada da bioética, poderia concluir que ainda não existe nenhum argumento ético, jurídico ou técnico, capaz de fundamentar a interrupção de uma gravidez numa mulher soro-convertida ou já doente de AIDS, a não ser que suas condições de saúde sejam agravadas pela gestação, que cessada a gravidez cesse o perigo e que não haja outro meio de salvar-lhe a vida (3).
Alguns casais já estiveram diante da gravidez complicada pela rubéola. A possibilidade de terem filhos defeituosos levaram muitos a optarem pelo aborto como solução. Certa vez ouvi um casal dizer que resolveram receber o filho da forma que viesse. O final foi feliz, mas a criança poderia nascer surda e cega ou seria um deficiente físico semelhante a Stephen Hawking. Na tela da memória vemos Leonardo DaVinci, Albert Einstain, Charles Darwin, Winston Churchill (dislexia), o pintor Francisco Goya (deficiencia auditiva) e a admirável escritora Helen Keller (deficiencia auditiva e visual).
No Brasil temos a Rede SACI. A Rede é um “projeto do Programa USP Legal, da Pró Reitoria de Cultura e Extensão Universitária – Universidade de São Paulo. Atua como facilitadora da comunicação e da difusão de informações sobre deficiência, visando a estimular a inclusão social e digital, a melhoria da qualidade de vida e o exercício da cidadania das pessoas com deficiência.”(4)
Lá vamos encontrar um texto sobre Helen Keller, que discute preconceitos comuns e também a divulgação de um evento “diferente”.(5) Refiro-me ao “Primeiro Congresso Internacional de Cegos Espíritas”, semana santa, 17 de abril de 2003, e que teve como tema Central: "O Cego e o Terceiro Milênio".
“O pior cego é aquele político que não quer ver”.

O ministro Ricardo Lewandowski, que votou contra a descriminalização do aborto de anencéfalos, disse que “não é dado aos integrantes do Poder Judiciário promover inovações no ordenamento normativo como se parlamentares eleitos fossem”. Disse ainda que “não era lícito ao maior órgão judicante do país envergar as vestes de legislador criando normas legais.”
A propósito: o Congresso pode anular essa decisão, com base no artigo 49, inciso 11 da Constituição? O ministro Lewandowski, quando disse que “não temos competência para decidir”, estaria pensando no artigo 103, segundo parágrafo da mesma Constituição. Houve uma invasão de competência da Justiça no Legislativo?
Julgar é muito difícil. Quando fazia a Faculdade de Educação, aprendi que a avaliação é difícil porque chega a níveis de complexidade altos do domínio cognitivo. É por isso que uma banca de tese de doutorado ou de concurso para professor adjunto-doutor, na Universidade, é composta, geralmente, por cinco examinadores, de competência comprovada, diante de seus pares. Como elemento complicador, sempre há influência de um domínio sobre o outro e, em certas ocasiões, o afetivo fica agitado, beliscando o cognitivo. Como sofreram pressões aqueles ministros no Supremo! O ministro Gilmar Mendes até teve coragem de dizer: “argumentos de organizações religiosas podem e devem ser consideradas pelo Estado porque também se referem a razões públicas”. O Estado é laico mas não é ateu, como se percebe nas primeiras páginas da Constituição.
Você acha que o Congresso deveria, mesmo em ano eleitoral, examinar essa questão?
Avaliar é difícil. Até no julgamento do movimento espírita podemos cometer injustiças! Mas, é melhor do que ser indiferente.
Com tristeza recebemos do Supremo Tribunal Federal o placar de 8 a 2. Embora o Brasil tenha hoje um expressivo número de espíritas, ainda não somos capazes de influenciar e ajudar ministros.(6)
O que liga o comportamento suicida ao aborto de anencéfalos?



Fontes

1. http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/A_POLITICA_DO_ABORTO_LCF.html
http://aeradoespirito.sites.uol.com.br/A_ERA_DO_ESPIRITO_-_Portal/ARTIGOS/ArtigosGRs3/A_POLITICA_DO_ABORTO_LCF.html
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.2.htm
http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/F_autores/formiga_Luiz_politica_aborto.htm
2. http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.29.htm
3. http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/etica-sociedade.html
4. http://saci.org.br/
5. http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=2789
6. http://visaoespiritabr.com.br/reencarnacao/suicidio-e-aborto-de-anencefalos