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segunda-feira, 31 de maio de 2010

O centro espírita pode funcionar num casebre



Sérgio de Jesus Rossi

Brasília-DF

Caro Jorge,

Acabei de ler o artigo inteiro e concordo plenamente.

Lembro-me de que, há pouco tempo, ouvi espíritas comentando, com entusiasmado apoio, que o movimento espírita se tornaria gradativamente mais “atuante” na divulgação de suas idéias e realizações.

Há realmente portais na internet que advogam essa postura, e criticam, com muita ênfase, a “mania” dos espíritas tradicionais de, segundo eles, “ficarem muito na sua”, escondidos, enquanto outras religiões, que, de concreto talvez produzam menos, estão sempre presentes nos meios de comunicação.

São muito mais visíveis pelo público do que o Espiritismo.

Lembro-me também de ter ouvido comentários sobre a “necessidade” de apoios externos na consecução de determinados objetivos; algo como “afinal, há políticos em todas as posições relevantes da administração pública e alguns direitos somente são reconhecidos quando se tem a pessoa certa no lugar certo”.

As palavras são minhas, mas reproduzem o sentido das frases que ouvi.

Respondi a um amigo para explicar que eu discordava dessa possível postura mais “agressiva”; dizia eu que ficaria muito triste se, em algum futuro indesejável, acabasse assistindo a nossa doutrina a disputar espaço nas redes de televisão, em concorrência com irmãos que advogam outras crenças, e, na verdade, já dominam muitos horários.

Disse que preferia a divulgação pelas obras, segundo o ensinamento primevo e magistral de Kardec, pelo qual se conheceria o espírita pelo seu esforço pessoal em se reformar e evoluir.

Em termos mais simples, o centro espírita pode funcionar num casebre, talvez não consiga ajudar a toda uma comunidade, mas auxiliará alguns a obter uma vida mais equilibrada e produtiva.

Segundo Paulo de Tarso, a fé sem obras é morta, e sabemos que a menor ação concreta em favor do irmão necessitado, por ínfima que seja, é suficiente para que ela – a fé – se mantenha viva e presente.

Não tenho mais o texto que escrevi, mas recebi a resposta de que as coisas mudariam, era só esperar.

O ESPIRITISMO DESEJÁVEL É AQUELE DAS ORIGENS, O QUE NOS FAZ LEMBRAR JESUS





Circula pela Internet mensagem atribuída a Frei Beto. Pois bem! "se non e vero, e bene trovato" na essência é possível que sacerdote tenha dito: "as escrituras registram que Jesus passou a vida fazendo o bem , o mesmo se aplica a Francisco de Paula Cândido Xavier, o mais famoso kardecista brasileiro e um dos autores mais lido do País”. Segundo o frei “nos meios católicos contavam-se horrores a respeito do médium de Uberaba. Espíritas e protestantes eram "queimados" na fogueira dos preconceitos até que o papa João XXIII, nos anos 60, abriu as portas da Igreja Católica ao ecumenismo.” Arremata magistralmente o Frei: “Chico Xavier é cristão na fé e na prática. Famoso, fugiu da ribalta. Poderoso, nunca enriqueceu. Objeto de peregrinações a Uberaba, jamais posou de guru. Quem dera que nós, católicos, em vez de nos inquietar com os mortos que escrevem pela mão de Chico, seguíssemos, com os vivos, seu exemplo de bondade e amor".
Como se vê os comentários são atribuídas a um respeitável religioso não-espírita. E, quanto a nós, os espíritas!, como reconhecemos os valores morais de Chico Xavier?
Realizando eventos (congressos)em sua homenagem, excluindo dos “banquetes pomposos” os espíritas pobres com fome de conhecimento? Como está o atual projeto espirita brasileiro? Cremos que deva ser repensado as diretrizes das práticas doutrinárias no Brasil. Para esse escopo consideramos importante trazer para o tema as advertência de Chico Xavier publicado no livro Estudos no Tempo.(1)
Observaremos a seguir que as palavras do Chico são atuais e ecoarão em nossa consciência doutrinária, convidando-nos a um urgente balanço geral, em torno do Movimento Espírita, cujo objetivo deve ser a de reviver o Cristianismo primitivo em sua simplicidade, e que tem na máxima, "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei", a sua expressão maior.(2) E não precisamos fazer um esforço “sobrenatural” para identificar, nas hostes espíritas, um indesejável ranço elitista. Por essa razão Chico alertou "é preciso fugir da tendência à "elitização" no seio do movimento espírita. É necessário que os dirigentes espíritas, principalmente os ligados aos órgãos unificadores, compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar. É indispensável que estudemos a Doutrina Espírita junto às massas, que amemos a todos os companheiros, mas, sobretudo, aos espíritas mais humildes, social e intelectualmente falando, e deles nos aproximarmos com real espírito de compreensão e fraternidade."(3)
Muitas lideranças doutrinárias complicam conteúdos que deveriam ser simples. Coincidentemente, o Cristianismo, durante os três primeiros séculos, era, absurdamente, diferente do Cristianismo oficializado pelo Estado Romano, no Século V. A chama brilhante, nascida na Galiléia, aos poucos, foi esmaecendo, até culminar nas densas brumas medievais. O que se observa, no Movimento Espírita atual, é a reedição da desfiguração do projeto inicial, de 1857. Os comprometidos com o princípio unificacionista brasileiro precisam manter cautela para não perderem o foco do Projeto Espírita Codificado por Allan Kardec, engendrando motivos à separatividade entre os adeptos do Espíritismo. Recordemos que a alma do Cristianismo puro estava estuante nas cidades de Nazaré, Jericó, Cafarnaum, Betsaida, dentre outras, e era diferente daquele Cristianismo das querelas e intrigas de Jerusalém.
Insistimos no tema, lembrando que a ausência de simplicidade observada principalmente nos "centrões espiritas", é lamentável, e, se não formos vigilantes, segundo Chico Xavier, "daqui a pouco estaremos em nossas casas espíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais e confrades de posição social mais elevada. Mais do que justo é que evitemos isso (repetiu várias vezes) a "elitização" no Espiritismo, isto é, a formação do "espírito de cúpula", com evocação de infalibilidade, em nossas organizações."(4)
Chico repreende-nos fraternalmente” quando comenta: "é indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos mensageiros divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios."(5)
Na capital do País há grandes centros onde Kardec é um ilustre desconhecido. São centros que apresentam promessas ilusórias para supostas curas de todos os tipos de “males” físicos e espirituais com as mais estranhas terminologias. Além do que permanecem crescendo em quantidade de frequentadores distantes do conselho sábio de Chico Xavier: "o diálogo entre grupos reduzidos de estudiosos sinceros, apresenta alto índice de rendimento para os companheiros que efetivamente se interessam pela divulgação dos princípios Kardequianos."(6)
Para os que estão comprometidos no projeto "unificacionista", evocamos o médium mineiro, que admoestou com energia: "deveríamos refletir em unificação, em termos de família humana, evitando os excessos de consagração das elites culturais na Doutrina Espírita, embora necessitemos sustentá-las e cultivá-las com respeitosa atenção, mas nunca em detrimento dos nossos irmãos em Humanidade, que reclamem amparo, socorro, esclarecimento e rumo. E acrescenta: "Não consigo entender o Espiritismo sem Jesus e sem Allan Kardec para todos, com todos e ao alcance de todos, a fim de que os nossos princípios alcancem os fins a que se propõem."(7)
Em verdade o Espiritismo sonhado por Kardec era o mesmo Espiritismo que Chico Xavier exemplificou por mais de setenta anos, ou seja, o Espiritismo do Centro Espírita simples, muitas vezes iluminado à luz de lampião; da visita aos necessitados, da distribuição do pão, da “sopa fraterna”, da água fluidificada, do Evangelho no Lar. Sim! O grande desafio da Terceira Revelação deve ser o crescimento, sem perder a simplicidade que a caracteriza como REVELAÇÃO. O evangelho é a frondosa árvore fornecedora dos frutos do amor. Urge entronizar a força da mensagem de Jesus, sem receio dos phd’s espíritas , os kardequiologos de vigília, sem temor das críticas dos espíritas de “gabinete”, dos aventureiros ideológicos que pretendem assumir ou assenhorear as rédeas do Movimento Espírita no Brasil.
O Espiritismo desejável é aquele das origens, o que nos faz lembrar Jesus, ou seja, o Espiritismo Consolador prometido, o Espiritismo em sua feição pura e simples, o Espiritismo do povo (que hoje não pode pagar taxas e ingressar nos Congressos doutrinários), o Espiritismo dos velhos, o Espiritismo das crianças, o Espiritismo da natureza, o Espiritismo “debaixo do abacateiro”. Obrigado, Frei Beto!
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net



Fontes
(1) Xavier Francisco Cândido. Encontros No Tempo, SP: Ed. IDE, 2005
(2) Jo 13,34
(3) Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense: "Um encontro fraterno e uma Mensagem aos espíritas brasileiros"). Da Obra "Encontros No Tempo" - Entrevistas Com O Médium Francisco Cândido Xavier, Assistido Pelo Espírito De Emmanuel.Organização E Notas: Hércio Marcos Cintra Arantes
(4) idem
(5) idem
(6) Entrevista ao Jornal Unificação, de São Paulo/SP, e publicada em sua edição de julho/agosto de 1977, com o título: "Nosso jornal entrevista Chico Xavier"). Da Obra "Encontros No Tempo" - Entrevistas Com O Médium Francisco Cândido Xavier, Assistido Pelo Espírito De Emmanuel. Organização E Notas: Hércio Marcos Cintra Arantes
(7) idem

sábado, 22 de maio de 2010

A REFORMA ÍNTIMA





Roberto Cury

robcury@hotmail.com


João Batista Armani, no seu texto “Reforma Íntima”, publicado no site Portal do Espírito, da cidade de São José do Rio Preto – SP, conta uma pequena história de um doente que padecia de cirrose hepática em consequência da ingestão de bebidas alcoólicas, para, ao final, citar u’a mensagem de Emmanuel: “O pastor conduz o seu rebanho, mas são as ovelhas que andam com as próprias pernas”.

Assim, deve ser a questão da Reforma Íntima.

Reforma Íntima e Livre Arbítrio, ligam-se entre si, como se a primeira jamais poderia acontecer sem o exercício do Livre Arbítrio.

Como podemos entender o que é Reforma Íntima?

Há quem responda com as mais variadas expressões, todas muito bem colocadas e elucidativas. Algumas são grandiloquências doutrinárias de auto-afirmação do próprio autor, outras singelas palavras de clareza meridiana e de fácil entendimento.

Certa feita, em conversa com o escritor, palestrante, conferencista espírita e professor universitário de Direito Emidio Silva Falcão Brasileiro, que juntamente com sua esposa, também escritora espírita, possuidora de invejável cultura Marislei Espíndula Brasileiro, formam uma dupla em que a alegria é constante, a segurança nos princípios doutrinários são evidentes e irrestrita a confiança em Deus e na Sua Sabedoria Infinita, concluímos Emídio e eu que a Reforma Íntima, nos termos em que vem sendo colocada não acontece.

O que existe, ao nosso ver, é a Transformação Íntima, porque enquanto na Reforma os vícios e erros permanecem reformados apenas através de alguma luta, muitas vezes inglória, contra eles; na Transformação, como afirmou José Herculano Pires, “o Homem Velho é substituído totalmente pelo Homem Novo”, ou seja, arranca-se o homem velho e instala-se o Homem Novo, ou, ainda, elimina-se, totalmente, tudo o que amarfanhava o ser interior, para expor um novo ser, diferente, luminoso e definitivamente no caminho do Bem.

Ora, direis, caro leitor, isso é ilusão. Ninguém se transforma do dia para a noite.

É comum o dito espírita de que a natureza não dá saltos.

Como um homem vicioso, pode se transformar, de uma hora para a outra, em um ser equilibrado e sábio conquistador de virtudes?

As mais das vezes, queremos nos reformar intimamente. Então nos propomos a fumar apenas 19 cigarros quando fumávamos 20 por dia. A beber, uma dose a menos da bebida alcoólica que ingeríamos. A xingar, a maldizer, a vociferar, a reclamar, a murmurar entredentes, só 23 horas quando assim agíamos durante as 24 horas de cada dia. Agindo destarte entendemos que estamos fazendo uma linda e eficiente reforma.

Ainda, na Reforma, nos propomos a enganar menos os nossos semelhantes. Então a traição e a desídia, são contemporizadas porque apenas nos permitimos a olhar cobiçosamente sem exprimir o que pensamos, ou a afirmarmos que estamos somente descansando, quando a indolência e a preguiça, são velhas e conhecidas marcas do nosso caráter leviano.

Sem sombra de dúvidas que há sinceridade em muitos corações que se propõem caminhar para a Reforma Íntima, mas, infelizmente, muitas vezes há hipocrisia e insinceridade como se fosse possível enganar a Deus que tudo vê, tudo sabe, tudo conhece, pois que é a Suprema Inteligência e Causa Primária de todas as coisas, menos das coisas do mal, porque somente o Bem é Sua Criação enquanto que o mal foi e continua sendo criado, trabalhado e gerido pelo homem.

Ninguém quer se propor em paladino das virtudes, nem em potência capaz de transformar os erros da humanidade em sublimidade dos anjos.

A cada instante nos deparamos em encruzilhadas. De um lado, os erros, de sempre, cometidos e que mantemos, sob a capa da austeridade ou porque nos consideramos sistemáticos, comumente com o objetivo de nos afirmarmos corretos nas atitudes. De outro, o desejo, nem sempre desenvolvido, de caminharmos nas trilhas do Bem.

Busquemos, pois, o auxílio da Lei do Livre Arbítrio, ou das Opções, ou das Escolhas.

Somos produto de nós mesmos.

Somos responsáveis por nossos atos, omissões e pensamentos.

Tudo o que fizermos ou deixarmos de fazer, conta contra ou a nosso favor, dependendo do bem ou do mal, praticado ou omitido.

Se somos viciosos e resolvermos mudar nosso comportamento, não caberá a
Reforma, mas a transformação. Enquanto a Reforma apenas melhora um aspecto ou outro do caráter, a Transformação muda radicalmente. Plagiando mais uma vez J. Herculano Pires, a Transformação arranca, do ser, o homem velho, instalando, no seu lugar, um homem novo e não renovado.

É verdade que, muitas vezes, o homem não está preparado para a Transformação, preferindo partir para a Reforma de alguns dos aspectos que sabe negativos. Então se propõe a ser apenas um homem renovado.

“Para elevar a própria vida, é necessário gastar muitas emoções, aparar inúmeras arestas da personalidade, reajustar conceitos e combater sistematicamente a ilusão”.

Agora, quem quiser, realmente assumir a mudança, partindo do mal, definitivamente para o Bem, que adote a Transformação Íntima e tudo será diferente, porque sua escolha se faz com base na Lei Universal do Livre Arbítrio e nada, nem ninguém, conseguirá impedi-lo de chegar ao desiderato proposto por Jesus: “SEDE PERFEITOS, COMO PERFEITO É O PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS”.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

CHICO XAVIER FOI RUTH-CÉLINE JAPHET


CHICO XAVIER FOI RUTH-CÉLINE JAPHET


Em 2001, inspirado em ideia do meu amigo Hermínio Corrêa de Miranda (no cap. 13 do Eu Sou Camille Desmoulins), iniciei a produção da obra Quem foi Quem, sequenciando cerca de mil e quinhentas reencarnações e perto de setecentas entradas. Compendiei revelações de obras confiáveis, entre clássicas, mediúnicas e de estudiosos sérios do espiritismo, além de alguns casos de tradição consagrada e bem aceita. Hoje, terminado o trabalho mais pesado, devo dizer que dois terços da livro foram completados por meu filho Luciano dos Anjos Filho, bem assim por algumas outras colaborações de membros do Grupo dos Oito, como o Pedro Miguel Calicchio (já desencarnado), a Viviane Albuquerque Calicchio e o Jorge Pereira Braga. Certos percalços de saúde atrasaram bastante o arremate, mas eis que estamos agora na revisão final. É um repositório de fôlego, com breves biografias de cada personagem, sem faltar a fonte em que nos baseamos.
Pois desde aquela época, bem antes de avolumar-se a poluição dessa línguanegra vocalizadora de que Chico Xavier é Allan Kardec, ali já estava inserido o verbete Francisco Cândido Xavier nos seguintes registros cronológicos, alguns nomes anotados nos primórdios da década de 60):

Hatshepsut, rainha faraó (séc. XV a.C.) - Hebreia no Egito (entre o séc. XVIII a.C. e o séc. XIV a.C.) - Judia em Canaã (c. séc. XIII ou posterior) - cidadã grega (c. 600 a.C., séc. VII a.C.) – Chams, princesa (século VI a.C.) - cidadã Síria (período a.C. até d.C.) – cidadã cartaginense (entre os séc. X a.C. e séc. II a.C.) – Flávia Lêntulus (séc. I ) – Lívia (séc. III) – Joana, a Louca (1479-1555) – Verdun, abadessa (séc. XVI) – Jeanne d’Alencourt (séc. XVIII) – Ruth-Céline Japhet (1837) – Dolores del Sarte Hurquesa Hernandez (séc. XIX) - Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier (1910-2002)

Por volta de 1999, enviei para o Chico e, em 2008, também para o Divaldo Pereira Franco, o verbete de cada qual, pedindo-lhes que, se fosse o caso, me indicassem algum reparo aconselhável. Nenhum dos dois se opôs a nada.

A reencarnação do Chico como sendo a Ruth-Céline Japhet me havia sido repassada desde 4.8.1967, quando o Abelardo Idalgo Magalhães esteve com o médium em Uberaba e, lado a lado, foi anotando as vidas pregressas do Chico personificadas nos romances de Emmanuel. Tenho esse quadro comigo até hoje com a assinatura do Abelardo. A Ruth-Céline não aparece porque não foi personagem de nenhum dos romances, mas o Abelardo também falou dela, a meu pedido, e recebeu a confirmação. Eu já sabia desde aquela década, em mero exercício especulativo. Essa mesma confirmação o Divaldo Pereira Franco ouviu diretamente do Chico, que tinha acabado de chegar de Paris, onde visitara o túmulo do Codificador. Ainda mais. Muitos anos antes, foi o mesmo Chico quem fizera igual revelação para um dos seus maiores amigos e confidentes, o Arnaldo Rocha, marido da Meimei, esse espírito maravilhoso que nos ditou mensagens de elevado teor evangélico.

Destaco como importante que, de todos os que andam por aí se jactando de terem ouvido declarações do Chico, ou tirando conclusões por conta própria de que ele era Allan Kardec, nenhum deles viveu a intimidade vivida pelo Arnaldo Rocha. E, ainda este ano, quando mais uma vez esteve aqui em minha residência, o Arnaldo voltou a me afirmar que o Chico era a Ruth-Céline Japhet. Também há pouco menos de um mês, no programa da Globo News em homenagem ao centenário do Chico, ele retomou o assunto e, em resposta a pergunta que lhe foi feita, falou, até com certo enfado, que não passa de bobagem essa ideia de que Chico Xavier era Allan Kardec. Anote-se que o Arnaldo Rocha é reconhecidamente espírita sério, honesto, de inatacável probidade. Ninguém, absolutamente ninguém, no momento, tem mais autoridade do que ele para colocar um ponto final nessa ficção que o bom senso e o conhecimento da doutrina espírita deveriam de há muito ter inumado.

Já em agosto do ano passado, em entrevista concedida ao site “Espiritismobh”, o Arnaldo havia divulgado, , que, num diálogo acontecido em 1946, o Chico lhe revelara que era a reencarnação da Ruth-Céline. O Arnaldo só não incluiu essa revelação no livro Chico – Diálogos e Recordações, de autoria do Carlos Alberto Braga, porque, transcorridos tantos anos daquele diálogo, ficou em dúvida se se tratava da Céline Japhet ou da outra médium de Kardec, que ele supunha chamar-se Céline Baudin. Na verdade, essa outra se chamava Caroline Baudin. Posteriormente, o Arnaldo dirimiu a dúvida, conforme relatou em entrevista mais recente, divulgada no mesmo site. “Tive a oportunidade de ir ao Rio encontrar um amigo muito querido, Luciano dos Anjos. Questionado por que não coloquei a história da Rute Celine Japhet no livro, respondi que fiquei muito em dúvida com os nomes, pois sabia da existência das duas Celines. Ele então me respondeu que a médium auxiliar de Kardec era a Rute Celine Japhet, judia e desencarnada em 1885.”

Conversamos, sim, sobre o livro. Ele me expôs as razões e eu lhe expliquei que apenas a Japhet se chamava Céline e que, portanto, era a ela que o Chico se referira. Não existiu uma Céline Baudin. Mesmo porque, eu também já tinha essa informação desde há muito tempo e lhe pedira que aguardasse alguns detalhes que eu lhe passaria. Apenas questão de datas, pois o Arnaldo já sabia de tudo.

Ultimamente tem crescido esse movimento que vem fecundando a biografia do Chico com o radicalismo de ideias canonizantes. A personalidade de Francisco Cândido Xavier nunca teve nada, nada a ver com a do Codificador. E o próprio Chico ressaltou essa diferença, em declaração publicada no Diário da Manhã, de Goiás, de 28.8.1998, e que me dispus a propalar pela internet, em nota de 29.3.2010. Chico Xavier, como vimos aqui, no início desta matéria, tem sido sempre mulher. E, diga-se, nesta última vida de médium, foi uma grande mulher, com sentimentos que mostraram ao mundo o valor de saber ser mulher num corpo masculino. Isso é muito difícil, mas o Chico, nesse particular, foi um vitorioso, vencendo tendências naturais que lhe poderiam ter arrastado ao fracasso da missão.

Nesse entrecho, tem acontecido até anedota de humor despudorado. Médica espírita de São Paulo publicou artigo na Folha Espírita, alegando que o Chico não se casou da mesma forma que também Allan Kardec não viveu maritalmente com Amélie Boudet. Teria existido entre o casal apenas um amor platônico, daí não terem tido filhos (?!). A que delirante paroxismo chegamos. Vale tudo para colocar Kardec como santo católico, na mesma vestalidade das fêmeas mais pulcras. Ora, convenhamos: para estar a par de uma intimidade tão grande entre os dois só se admitindo – concluem os piadistas – que a doutora é a Amélie Boudet reencarnada. E já não duvido de que ela venha a público fazer essa fantástica confissão de identidade. A essa altura, espero por qualquer esquizofrenia.

Voltarei ainda à figura de Francisco Cândido Xavier. Por agora, vamos conhecer melhor Ruth-Céline Japhet, sobre quem, aliás, Allan Kardec nos deixou muito poucas informações, o que, de resto, também o fez em relação aos demais médiuns que participaram do preparo de O Livro dos Espíritos. Esclareceu ele que assim agiu para evitar exatamente o que hoje vêm fazendo com Francisco Cândido Xavier, que até procissão pelas ruas de Pedro Leopoldo já ganhou. Tem mais. Já há gente fazendo-lhe romaria ao túmulo para recolher lágrimas que “surgem” dos olhos do busto de bronze. Na continuidade do show carismático, acaba de ser produzido um hino a Chico Xavier, cuja letra, diga-se, é desoladoramente trash. Mas, nada estará perdido. Talvez sirva para acompanhamento nas novenas, que com certeza surgirão. É por isso que creio já ser hora tardia de resgatar da vulgaridade essa atual febre de negativa propaganda do espiritismo.

Ruth-Céline Japhet na realidade se chamava Ruth-Céline Bequet. O sobriquet Japhet ela o adotou para identificar-se como sonâmbula profissional. Reencarnou em 1837, na província de Paris, cujo local exato não consegui localizar. No ano de 1841, ainda morava por lá, com os pais, quando ficou gravemente doente, impedida de caminhar. Sua infância lembra os infortúnios de Chico Xavier, tal a luta que empreendeu pela saúde combalida. Era médium desde pequena, mas só por volta dos 12 anos começou a distinguir a realidade entre este mundo e o espiritual. Na infância, confundia os dois. Acamada por mais de dois anos, foi um magnetizador chamado Ricard quem constatou que ela era médium (sonâmbula, na designação da época), colocando-a em transe pela primeira vez. Mas não fizeram mais do que três sessões. Impaciente com a ineficácia dos remédios que tomava para recuperar os movimentos das pernas, seu irmão resolveu, por conta própria, magnetizá-la, assim tentando durante seis semanas seguidas. O resultado foi fantástico. Ela conseguiu levantar-se e voltou a caminhar com o auxílio de muletas. Nessas condições assim ficou por quase um ano (onze meses), depois do que, afinal, pôde dispensar as muletas, claudicando embora.

Em 1845, quando ainda tinha 2 anos, a família, empolgada pelos

resultados obtidos com os passes magnéticos, resolveu seguir para Paris, à procura do magnetizador Ricard, aquele que houvera feito com Ruth-Céline as primeiras experiências. Então ele a levou ao colega Millet, em cuja residência acabou conhecendo outro magnetizador famoso, o sr. Roustan (não confundir com o grande missionário Roustaing), que estudava o magnetismo de cura desde 1840. Ele morava na rue Tiquetone nº 14 e negociava com joias, na rue des Martyrs nº 19 (outras referências indicam o nº 46).

Foi a partir desse contato e diante de todos os benefícios amealhados, que ela assumiu a condição de sonâmbula profissional (médium profissional), sob o controle de Roustan. E passou a adotar o nome de Ruth-Céline Japhet (srta. Japhet).

Explique-se que, naquela época, e até mesmo hoje, em países como os Estados Unidos, a Inglaterra e a própria França, só existiam médiuns remunerados e era comum a adoção de “nomes de guerra” Ainda estava por surgir a doutrina espírita. Transformado em febre na Europa, o espiritismo se constituía apenas em bases fenomênicas, importado não há muito da América. Allan Kardec é quem vai dar um novo rumo ao seu desenvolvimento prático, acrescentando-lhe o principal, isto é, conteúdo sério e sentido moral.

Daí que, como não poderia deixar de acontecer – e veremos isso adiante –, Allan Kardec não pôde exonerar-se de algumas divergências com suas médiuns, em especial a principal do grupo, srta. Ruth-Céline Japhet.

Ela permaneceu atendendo ao seu público durante quase três anos seguidos, dando consultas médicas que lhe eram transmitidas por Samuel Hahnemann, fundador da homeopatia, Anton Mesmer, fundador do mesmerismo, e por seu próprio avô. Também lhe apareciam, ditando mensagens de orientação, Teresa d’Ávila e outros benfeitores espirituais.

Sigamos a cronologia. Roustan levou-a, em 1849, para uma sessão no palácio do conde d’Ourche, em Vincennes. Estavam presentes: o conde e a condessa d’Ourche, o barão Louis de Guldenstubbé (possuo sua obra em minha biblioteca) e sua irmã Sônia, o casal De Lagia, o filósofo holandês barão Tiedeman-Marthèse, o sr. e a sra. Roustan, e o sr. Japhet, pai de Ruth-Céline. Funcionou como médium Mme. Abnour, que havia acabado de retornar da América e estava mais familiarizada com os fenômenos de magnetismo. Ruth-Céline, com 12 anos, era a mais jovem dos presentes. Ao término dos trabalhos, Mme. Abnour aproveitou aquele encontro para convidar Guldenstubbé, Roustan e a Ruth-Céline para formar um grupo particular que, com mais a integração de Abbé Chatel e das três demoiselles Bauvais, passaram a se reunir na casa onde então morava o sr. Japhet e sua filha, na rue des Martyrs nº 46 . Ao todo eram nove pessoas.

A partir da primavera de 1851, as sessões aconteciam duas vezes por semana, sob a direção do sr. Japhet, que era médium intuitivo, e com Roustan prosseguindo no auxílio médico-espiritual à srta Japhet, cuja saúde, em geral, continuava sempre bastante precária. Ela mesma funcionou ali mediunicamente desde 1851 até 1857, ou seja, dos 14 aos 20 anos.

No ano de 1855, participavam das reuniões: Tierry, Taillandier, Tillman, Ramón De la Sagia, Victorien Sardou e seu filho, o casal Roustan e, naturalmente, o sr. Japhet, a essa altura já viúvo, e a filha Ruth-Céline. Outra importante presença era Adèle Maginot, a médium principal de Alphonse Cahagnet, o maior magnetizador da época. Com ele, praticamente todos os magnetizadores de então iniciaram o aprendizado, inclusive Roustan. Pois bem, Roustan considerava Ruth-Céline médium superior a Adèle Maginot.

Essas sessões copiavam o modelo norte-americano trazido por Mme. Abnour: Ruth-Céline ficava no centro do salão rodeada pelos demais participantes, com as cadeiras em forma de ferradura. Os espíritos se valiam da tiptologia e, às vezes, da psicofonia. Assim aconteceu e se estendeu até meados de 1864, bem depois de já haver sido lançado O Livro dos Espíritos. As comunicações recebidas eram consideradas por todos como excelentes, de alto valor instrutivo.

Em 8 de maio de 1855, Allan Kardec assistiu pela primeira vez a uma sessão de espiritismo (mesas girantes), na residência da sra. Plainemaison, na rue Grange-Batêlier nº 18. Ali conheceu o sr. Japhet e sua filha Ruth-Céline. Ele era guarda-livros (espécie de contador) em casas comerciais.

Victorien Sardou tinha o seu próprio grupo de magnetizadores e há cinco anos vinha frequentando as sessões em casa do sr. Roustan, na rue Tiquetone nº 14. Ele é quem teria passado para Allan Kardec os cinquenta cadernos com as anotações dos espíritos, ponto de partida de O Livro dos Espíritos. Segundo outras fontes, Carlotti, velho amigo do professor Rivail e que também integrava o grupo, é quem teria repassado os cadernos. Frequentavam essas sessões: Victorien Sardou e seu pai, o professor e lexicógrafo Antoine Leandre Sardou; o futuro acadêmico Saint-Renné Taillandier; o livreiro e editor Pierre-Paul Didier; Tiedeman-Marthèse; e outros.

Naquele exato ano, no dia 1º de agosto de 1855, Allan Kardec é levado a participar das sessões em casa do sr. Baudin, cujas filhas Caroline e Julie atuavam como médiuns, na rue Rochechouart nº 7. A primeira reunião com a presença de Kardec realizou-se numa quarta-feira. Baudin era fazendeiro, cultivava açúcar, na ilha da Reunião, território francês no oceano Índico. Nos primeiros momentos, o Codificador quase abandona tudo, dada a frivolidade das sessões. Mas ele mesmo dá novo rumo às reuniões e ali tem início o esboço de O Livro dos Espíritos, seguido da confecção de grande parte da obra. Baudin mudou-se depois para a rue Lamartine nº 32. Ainda em 1855, Allan Kardec é levado por seu amigo Victorien Sardou (outras fontes dizem que o convite partiu do sr. Leclerc) à casa do sr. Japhet, cuja filha contava 18 anos.

Em 1856, Allan Kardec começou a frequentar também as sessões em casa do sr. Roustan, na rue Tiquetone nº 14, onde Ruth-Céline psicografava com a cesta de bico (corbeille-toupie). Durante certo tempo, participou das reuniões nas casas do sr. Roustan e do sr. Japhet. Ruth-Céline Japhet era sempre a médium principal, havendo Allan Kardec assegurado que essas reuniões “eram sérias e se realizavam com ordem”. Tanto mais que ali se manifestou, pela primeira vez, O Espírito da Verdade.

Amélie Boudet (a Gabi, mulher de Allan Kardec) acompanhava-o sempre. Ali, teve início o seu trabalho missionário, quando passou de observador atilado a condutor dos objetivos das reuniões. O professor Rivail logo percebeu que as respostas dos espíritos eram de conteúdo transcendente e deveriam ser conduzidas no melhor aproveitamento. Javary era um dos mentores (na época chamados de guia) das sessões de caráter público. Esse nome encobria um espírito que, na encarnação anterior, havia sido índio americano. A partir de então, a história é bastante conhecida. Assumindo de fato o controle das sessões, Rivail recolhe delas notáveis revelações, que irão comparecer nas páginas de O Livro dos Espíritos. Propõe abrir os trabalhos às 20 horas, com uma prece e introduz novo método de perguntas. Na reunião de 1º de janeiro de 1856, estavam presentes: Zéfiro, Agostinho, João Evangelista, Vicente de Paulo, Sócrates, Fénélon, Swedenborg, Hahnemann. Reuniam-se às quartas-feiras e sábados. Desde abril de 1856, as médiuns passaram a usar a pena de pato em vez da corbelha tupia.

Nos primeiros momentos, a maior parte das respostas vieram pela mediunidade das irmãs Caroline e Julie Baudin, aliás, amigas íntimas de Ruth-Céline. Em 1856, a família Baudin estava morando na rue Lamartine nº 32. Os pontos mais importantes, no entanto, foram psicografados pela Ruth-Céline. Foi também por intermédio dela que o professor Rivail recebeu, no dia 30 de abril de 1856, a primeira notícia sobre a sua missão. E também que soube da sua encarnação passada, ao tempo de Júlio César, nas Gálias, quando havia sido um sacerdote druida chamado Allan. Depois, pelo médium Roze, que irá colaborar na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, os espíritos revelaram que o complemento do nome era Kardec. Esta versão de que o nome foi revelado de maneira fracionada, em duas etapas, é da srta. Japhet, em conversa com Aksakof. Posteriormente é que Rivail teria feito a junção dos dois, na onomatópose que encobriria seu verdadeiro nome e que lhe teria custado algumas críticas, bastante injustas por sinal, durante o famoso Processo dos Espíritas. Allan Kardec narra que foi Z. (Zéfiro), seu espírito protetor, quem revelou o nome e que os dois viveram juntos nas Gálias. Acrescentou, noutra oportunidade, que também as irmãs Baudin eram gaulesas, encarnadas naquela mesma época de Kardec. Por sua vez, quase todos os do grupo da srta. Japhet eram antigos semitas, convertidos ao cristianismo. Já Ermance Dufaux – aproveito para revelar – recebeu de outro guia, noutro local, notícia de que vivera igualmente naquele grupo gaulês de Kardec. Apenas, concluiu-se, Ruth-Céline era egressa doutra região.

As irmãs Baudin foram, portanto, as que mais concorreram para a primeira fase dos trabalhos de composição de O Livro dos Espíritos. Contudo, os espíritos recomendaram que fosse feita uma revisão ampla, de ponta a ponta, trabalho então realizado com a contribuição da srta. Japhet em sessões particulares, na residência de Roustan, na rue Tiquetone nº 14. Essa foi, pois, a tarefa principal, que se estendeu de junho a dezembro de 1856, tendo Alllan Kardec declarado que a médium “se prestou com a maior boa vontade e o mais completo desinteresse a todas as exigências dos espíritos” (Revue Spiriite, 1858, p. 36). Quanto ao desinteresse, parece que não foi bem assim...

Em princípios de 1857, Allan Kardec encaminhou à editora os originais e, em 18 de abril de 1857, como todos sabem, é lançado, no Palais Royal, O Livro dos Espíritos, de repercussão imediata. Kardec arcou com todos os custos, pois o barão Tiedeman-Marthèse, amigo pessoal, “não quis prestar o seu concurso pecuniário”, conforme apelo do Codificador. E aqui começam os contratempos, muito bem escamoteados do público em geral. Ruth-Céline Japhet estava com 20 anos.

Após essa data, Allan Kardec deixou o grupo do sr. Japhet e passou a fazer reuniões na sua própria residência, ali bem ao lado, na rue des Martyrs nº 8, onde morou de 1856 a 1860, ano este em que se mudou para a passage Sainte-Anne nº 59, sede também da Revue Spirite. Ruth-Céline, Caroline e Julie estavam noivas e logo se casaram. Allan Kardec explica, sucintamente, sem entrar em detalhes, que, pelos fins de 1857, as duas Baudin se casaram, as reuniões cessaram e a família se dispersou. Ruth-Céline, não mencionada, também se casou e, estranhamente, nunca mais se falou delas. Há registros de que, por essa ocasião, pretendeu-se realmente fazer descer sobre a médium Japhet uma cortina de silêncio, ao tempo em que se distinguiam, nos círculos de estudiosos, dois pensamentos distintos quanto à questão da reencarnação (espiritualistas versus magnetistas). Concomitantemente, Mme. Japhet, afastada, guardava algumas desolações enquanto espalhavam que ela havia desencarnado, por conta de descompassos com membros do grupo da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Nesse grupo deveria de fato haver pessoas complicadas, pois o próprio Allan Kardec irá escrever, mais tarde, que foi traído dentro da entidade. Sem embargo, apesar de dada como morta, a verdade é que Mme. Japhet prosseguiu dando consultas até pelo menos meados de 1873, época em que morava com o marido em Paris, na rue des Enfants Rouges, G.

Como geralmente acontece (até no seio do apostolado de Jesus aconteceu), o lançamento de O Livro dos Espíritos provocou impacto estrondoso em todos os círculos religiosos e culturais, mas trazendo também no seu bojo algumas dissensões internas entre os integrantes do grupo de Roustan, onde havia permanecido a srta. Japhet, e o grupo que acompanhou Kardec para as sessões na sua residência, onde viria a ser preparada a segunda edição definitiva de O Livro dos Espíritos.

Allan Kardec nunca escondeu que Ruth-Céline Japhet e as irmãs Caroline e Julie Baudin foram suas médiuns principais. O trabalho da srta. Japhet, após passar à modalidade direta de psicografia, era completamente mecânico, pelo que ela tinha inclusive dificuldade em seguir o enredo do que escrevia. Sem embargo de nunca haver sido impedida por seu guia espiritual, ela não se atrevia a escrever a sós. O trabalho final da revisão de O Livro dos Espíritos, inclusive a Introdução e a Conclusão, foi feito quase que integralmente através da mediunidade dela, na casa dela, às vezes com a colaboração do seu pai em alguns pontos considerados mais difíceis. Já a revisão da segunda edição, de 1860, coube em grande parte à médium Ermance Dufaux, realizada na residência do próprio Codificador.

Ainda na conversa que teve, em 1873, com o conhecido pesquisador russo Alexandre Aksakof, a sra. Japhet, já casada, se lamentou de que não havia recebido nenhum exemplar de O Livro dos Espíritos e que Allan Kardec, ao se afastar do seu grupo para montar o próprio, com o médium Roze, levara um maço de manuscritos com os quais, em parte, foi composto O Livro dos Médiuns, em 1861. Tentara reavê-los, mas soube apenas que Allan Kardec havia sugerido que ela reclamasse na Justiça. Essa foi a sua declaração, ao confessar-se magoada com os acontecimentos da época que, no fundo, ocultavam algo pelo menos estranho.

Contudo, não devemos precipitar ilações que podem estar divorciadas das intenções. Em primeiro lugar, seria preciso saber de quem eram os manuscritos. Da médium, ou de Kardec? Mensagens e respostas vinham pela mediunidade dela, mas as questões costumavam ser propostas por Kardec. Provavelmente, não desejando que se criasse uma situação de desconforto para os dois, Kardec preferiu acenar com as leis pretendendo talvez que tudo se resolvesse no âmbito imparcial da Justiça, caminho muito natural para os que almejam contornar pendências pessoais. No fundo, é até justo supor que de fato existia no mal estar uma circunstância importante para ambos. Ruth-Céline também lamentou não ter seu nome e nem o dos demais médiuns nos livros publicados. Seria uma compensação para quem trabalhara de graça. Ora, tendo produzido grande parte do texto e a integral revisão da obra, a médium vivia, no mais, uma época de ignorância em que a mediunidade valia dinheiro. Portanto, ela estaria se considerando prejudicada.

Allan Kardec, por seu turno, que ganhava dinheiro com suas obras pedagógicas (justa remuneração de seu esforço profissional), prontamente despertou para uma visão ética muito mais profunda da nova religião que acabara de codificar. Não poderia concordar, mesmo que quisesse e pudesse – como poderia, é claro, se houvesse falhado na missão – com uma mercantilização que desmoralizaria, na origem, o ensinamento dos próprios espíritos no sentido de que nenhum produto espírita, notadamente mediúnico, deveria ser remunerado. Acresce que o público, embora estivesse acostumado a isso, dificilmente acreditaria numa nova mensagem cristã-espírita sabendo que havia sido obtida à custa de dinheiro. Porém, esse era conceito muito novo para ser entendido de pronto pelos médiuns profissionais da época... Allan Kardec, em sua visão missionária, assimilou muito bem e mais rápido ainda a importância desse critério e não poderia ceder; mas a srta. Japhet e todos os sonâmbulos contemporâneos não tinham a menor capacidade de alcançar todos os valores dessa estranha moral. Há, pois, que se entender o Codificador; e perdoar a mais qualificada médium do período.

Kardec e Japhet eram missionários, mas faltava a ela a visão luminosa que aflorou nele em relação a seus respectivos papeis e à substância dos preceitos da Terceira Revelação. Reencarnacionistas, médium e Codificador não tinham mais nenhuma dúvida a respeito dessa questão fundamental e, pois, estavam do mesmo lado; mas a questão da omissão do seu nome na obra e da renúncia forçada a quaisquer pagamentos profissionais, convenhamos que era demais para o entendimento dela. Nesse ponto, Allan Kardec exibia anos-luz de progresso espiritual e rapidamente assimilou o juízo ético. De qualquer forma, como ninguém tem o direito de alegar desconhecimento da lei, o espírito Ruth-Céline Bequet não se perdoaria, na espiritualidade, desse comportamento e desse inconformismo, impondo-se a si mesma uma nova missão em que, nas mesmas condições de grande médium, pudesse vencer todas as tentações para testemunhar seu desprendimento total, sua humildade extrema e seu amor incondicional em favor da doutrina de Jesus

Assim, aquela crise do século XIX se transformou num cravo para o espírito que, no século seguinte, reencarnaria no Brasil comprometido em ampliar seu esforço mediúnico no trabalho desinteressado de desdobramento da revelação. Ruth-Céline Japhet conseguira evoluir o bastante para cair em si e consertar seu posicionamento anterior. Essa parte da história é recente e todos conhecem. A largueza foi sempre um marco de honra na mediunidade do missionário de Pedro Leopoldo e Uberaba. Viveu a vida toda como prisioneiro de invencível respeito à humildade. Francisco Cândido Xavier refugou sistematicamente qualquer tentativa, direta ou indireta, que pela vida afora foi surgindo em termos de remuneração material. Nunca aceitou qualquer tipo de compensação, e viveu do seu trabalho de escriturário, depois de sua mísera pensão oficial e, mais na velhice, da ajuda que amigos particulares lhe ofereciam, mas sempre em troca de nada. Conheci alguns deles.

Era preciso reparar aquele tropeço do passado. Conseguiu. Chico Xavier foi um vencedor e sabia que teria, agora, de se sacrificar até aos limites do impossível para exemplificar o que poderia ter aprendido, nesse particular, no convívio pessoal com Allan Kardec. Teve sempre repulsa – esse é o termo exato – a qualquer tipo de compensação por seu trabalho. E ele arrostou períodos de grandes dificuldades e de grandes tentações. Mas manteve altaneira a dignidade e a sua credibilidade mediúnica. Nunca teve adrenalina para acompanhar os acontecimentos que lhe envolviam o nome associando-o ao direito de ser recompensado na terra.

Inobstante, é sempre necessário repisar que Ruth-Céline foi uma mulher de muitas virtudes e muito afeto. Simpaticamente romântica, era uma figura que se destacava do biotipo francês. Tinha personalidade, talento próprio e uma alma generosa, reconhecida por todos que privavam da sua amizade e da sua intimidade. Não era sem motivo que Amélie Gabrielle Boudet a tratava de filha. Magrinha, pálida, esculpida de grandes olhos negros e de espessa cabeleira negra, com marcantes traços judaicos dos povos orientais. Muitos a julgavam de origem árabe. Sua vida misturou dor e amor, num caleidoscópio de belas emoções.

Ruth-Céline Japhet teve uma encarnação como hebreia, no Egito; depois, retornou como judia, em Canaã; viveu nova encarnação na Palestina; e uma outra vida como moura, em Portugal. O ramo de sua família descendia remotamente de mouros portugueses, convertidos há séculos ao cristianismo. Essas encarnações, levantadas pelo erudito pesquisador Canuto Abreu, tiveram, por escrito, o endosso de Emmanuel, através do próprio médium.

Bem, essa é a história de Ruth-Céline Bequet, conhecida por srta. Japhet, e que veio reencarnar no Brasil como Francisco Cândido Xavier, conhecido por Chico Xavier.

E, antes de encerrar e para esfriar de vez o fricote dos mais fanáticos, chamo atenção para três fatos capitais:

1. Há uma comunicação de Allan Kardec, ditada em 30.3.1924, e publicada na Revue Spirite de julho de 1924

2. Francisco Cândido Xavier tinha Zilda Gama na conta de médium excepcional, sobre quem escreveu para o presidente da FEB, em 1946, expressando seu contentamento e reconforto pela notícia de mais um livro por ela psicografado. Pois é dela mensagem de Allan Kardec, recebida em 27.12.1912, estampada, com mais outras, no seu precioso livro Diário dos Invisíveis (possuo a 2ª edição de 1943).

3. Na década de 60, Francisco Cândido Xavier admitiu, para um grupo reservado de amigos, que Allan Kardec já estava reencarnado. Nascido no Brasil, foi estudar na Suíça e vive lá até hoje, com dupla nacionalidade (A.L.R.). A hipótese – já completamente descartada – tinha ao menos um mínimo de coerência. Trata-se de professor humanista de notável erudição, principalmente filosófica, e é admirado pelos círculos mais cultos do magistério suíço. Só que ele mesmo não quer nem ouvir falar do assunto.

Relacionei, no início deste texto, estas e outras reencarnações que pude registrar desse espírito maravilhoso. Como pode ser observado, trata-se de espírito que tem voltado sucessivamente na forma feminina, ocorrendo a exceção apenas agora, no Brasil de 1910, tendo em vista a missão com a qual se comprometera. Se mais uma vez tivesse vindo como mulher, principalmente naquele início de século, jamais teria qualquer chance de se fazer ouvido e respeitado. O preconceito era muito marcante e impeditivo de qualquer nivelamento dos sexos.

E cabe a indagação: vindo como veio num corpo masculino, quem cometeria o despautério de achar que aquela personalidade não era uma mulher declarada, em todos os sentidos? Seu psiquismo jamais traiu a aparência, a feminilidade. Sua psicologia behaviorista tinha o carimbo consagrado dos automatismos, dos reflexos, dos gestos, dos meneios, dos maneirismos de delicada, colorida e formosa mulher.

É possível, em sã consciência, identificar nesse perfil dúlcido, dúctil e delicado qualquer sinal da robusta, varonil, vigorosa personalidade de Allan Kardec? Só à conta de intragável degenerescência neurônica de idólatras apedeutas e falastrões. Insistir nesse desconchavo não passa de mais uma ideia desonesta com o espiritismo.


LUCIANO DOS ANJOS

Rio, 5.5.2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

OBSESSÃO ESPIRITUAL NA INFÂNCIA


Roberto Cury

robcury@hotmail.com


Corria o ano de 1974. Vindo do Catolicismo, tinha recém iniciado os estudos da Doutrina Espírita. Maria Inês, minha esposa, ainda encarnada, já estava gravemente enferma por doença que lhe atingiu o sistema nervoso central fazendo-a sofrer terrível cefaléia que a deixava completamente fora de si, inclusive com perda temporária da capacidade racional, causa da sua desencarnação em abril de 1976, um dia após completar 31 anos.

Indicaram-me que a levasse a Palmelo, então conhecida como cidade espírita do nosso Estado goiano, pois, Jerônimo Candinho e Damo, líderes espirituais encarnados (desencarnaram vários anos depois), exerciam, com muito sucesso, atividades de cura em geral.

Assim fiz. A viagem de ida transcorreu dificultosamente porque me encontrava transtornado com o sofrimento da esposa, que gemia alto em plena crise.

Tão logo chegados a Palmelo, Maria Inês se mostrou serena como se as dores tivessem cessado. Apesar de pequena cidade, foi a primeira vez em que estivemos lá. Então me informei onde poderia ver e falar com Jerônimo Candinho. Indicado o local, pra lá rumamos. De imediato atendidos, Jerônimo nos recomendou que ela fosse inscrita no Raio X do meio-dia e que a esposa ficasse internada na pensão de uma senhora cujo nome não me vem à memória. A justificativa foi de que todos que tivessem de passar por tratamento mais longo, lá deveriam ser internados porque era como se fosse um hospital visitado pelo menos duas vezes ao dia pelos médiuns de cura do Centro Espírita Luiz Gonzaga, dirigido por Candinho e por Damo.

Naquele mesmo dia, Maria Inês passou pelo Raio X e por cirurgia espiritual na cabeça, ficando internada na referida pensão.

No dia seguinte, foi internado, juntamente com sua mãe, um menino de 10 anos de idade submetido a terrível subjugação que lhe impunha estar de quatro, berrando como cabrito, sem expressar, vocalmente, qualquer palavra, somente o beééééé.

A mãe, garantiu que até os 6 anos de idade era uma criança normal, alegre, risonha e falante. De repente, como se fosse uma maldição, deixou de falar, perdeu o porte ereto e caiu a andar de quatro como um animal quadrúpede e passou a berrar como um caprino. Parecia, também, nada entender da conversa entre pessoas. Nunca mais sorriu. A mãe, desdobrava-se em ternura e carinho por aquele desventurado ser que perdera a identidade humana e agia tal qual um cabrito, saltando, berrando, e dando cabeçada nas pessoas. E aquela criança só tinha 10 anos.

Ainda neófito nas questões espirituais, conhecendo praticamente nada de mediunidade, não entendia, nem mesmo aceitava que Deus pudesse “punir” uma criança inocente, uma vez que sempre acreditei na existência de nosso Pai Celestial, como o Senhor de Bondade e de Misericórdia.

Só depois de algum tempo, quando já havia estudado as obras básicas: O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Livro dos Médiuns, A Gênese e O Céu e o Inferno, comecei a compreender que Deus, ao criar a Lei do Livre Arbítrio, nunca puniu, como jamais puniria qualquer dos seus filhos, pela simples razão de que sob a égide dessa Divina Lei, o homem tem sempre o direito da escolha dos seus caminhos, ou, por outras palavras tem liberdade para plantar, mas, a colheita do que plantou também é obrigatória.

No estudo das obsessões aprendi que a primeira coisa que precisamos ter em mente, para melhor compreendermos os mecanismos de ação, utilizados nos processos obsessivos, é que o obsessor está ligado ao seu desafeto por razões emocionais, seja por ódio, por desejo de vingança ou até mesmo por sentir-se desprezado ou traído por este. Assim, tomado pelo ódio, depois de um simples e automático processo de sintonia vibratória, o obsessor se vê atraído, inconscientemente, para junto daquele que é o objeto de suas angústias. Basta isso, ou seja, a presença de um espírito carregado de energias profundamente perturbadoras para prejudicar o obsediado.

Uma vez que ambos os seres estão sintonizados pelo mesmo padrão vibratório, aquele que está mergulhado no corpo de carne começará a captar as emissões de ódio do seu perseguidor e, a depender de sua conduta moral e mental, essa captação poderá trazer desordens graves ao funcionamento de seu organismo físico.

O obsessor é um obstinado perseguidor de sua vítima, muitas vezes, anteriormente seu algoz que permanecendo ou renascido na carne, agora, com as vibrações do encarnado, se encontram no conúbio desastroso da vingança, do revide, da intemperança e da infelicidade tanto para um quanto para o outro, que só agravam seus mútuos débitos.

Então, para obsediar, basta a simples presença do obsessor junto de sua vítima.

Caramba! diria o leitor estupefato, como pode uma criança de poucos anos ser submetida a uma obsessão? E o pior, uma subjugação que transforma e mantém a vítima num simulacro de cabrito saltador e berrante?

A priori, sabemos que a morte física, infelizmente, nem sempre apaga da lembrança o rancor que perturba o espírito inferior ainda menos esclarecido e que, incapaz de perceber as luzes do Evangelho, curte e resfolega no seu imo a mágoa e o ódio incontroláveis.

No afã do seu ódio, de sua vingança, o obsessor não consegue ver a criança momentaneamente fragilizada e ingênua em nova e recente encarnação, enxergando apenas o espírito imortal responsável pelo delito cometido ou que imagina tenha sido culpado pela mágoa, pela ofensa ou qualquer outra causa de sua desgraça atual.

Muitas vezes os familiares resistem em admitir a hipótese de obsessão da criança, imaginando-a livre do assédio invisível. Quando acontece essa ou qualquer outra situação similar no seio da família do pequeno obsidiado, lamentavelmente, o engano traz seriíssimas repercussões, pois quanto mais tempo se passar entre o primeiro ataque do obsessor à constatação do quadro da obsessão, várias e irremediáveis sequelas estarão acontecendo.

Inúmeras vezes, na experimentação mediúnica, tratamos com espíritos que engendraram investidas contra os pais, ferindo com a obsessão, diretamente, a criança e indiretamente os genitores. O obsessor incide seus fluidos mórbidos negativos que comprometem a saúde física ou mental de um dos filhos comprazendo com o sofrimento dos pais.

A sensibilidade infantil e a aproximação do espírito obsessor, provocam, muitas vezes o choro, a inquietude, a irritabilidade e até erupções cutâneas que fazem o pediatra confundir com quadros clínicos buscando causas no organismo da criança como verminoses, otalgias, erupção dentária e outras mazelas.

Tivemos um caso em que uma nossa confreira que dera a luz a um menino e enquanto bebê foi levado ao centro com frequência e durante sua permanência na nave, chorava o tempo todo, gerando desconforto e sofrimento à mãezinha, só se acalmando quando tomava o passe magnético.

Hoje com 14 anos, o menino ouve vozes, vê e conversa com espíritos sem receio algum.

Os distúrbios infantis requerem cuidados urgentes dos pais. Primeiramente, os pais devem buscar os procedimentos médicos e só depois de descartadas todas as hipóteses da medicina da Terra é que se deve buscar a Casa Espírita afeita às curas e tratamentos com o auxílio da Espiritualidade.

Mesmo havendo o sustentáculo da Casa Espírita, com os recursos dos passes e da água fluidificada, é importante, também, que o Evangelho seja implantado semanalmente na residência da família, em dia e hora marcados, inclusive com a participação de vizinhos que manifestarem interesse.

A confiança em Deus por lema e a disposição de servir aos nossos irmãos encarnados e desencarnados com o Amor Universal que une a todos, eis a fórmula para a união fraterna entre todos os povos deste Mundão Terreno.

sábado, 15 de maio de 2010

DOUTRINA ESPÍRITA QUER DIZER DOUTRINA DO CRISTO




A convicção religiosa é importante, mas, se elegemos a Doutrina Espírita, como base de prática mediúnica, por exemplo, “não podemos negar-lhe fidelidade.”(1) Por isso é importante preservar a fidedignidade a Kardec nas funções educativas da mediunidade. Cremos que “só a Doutrina Espírita permite-nos o livre exame, com o sentimento livre de compressões dogmáticas, para que a fé contemple a razão, face a face”.(2)
Considerando outros credos religiosos , sabemos que, se as religiões "preparam" as almas para punições e recompensas no além-túmulo, só os conceitos espíritas elucidam que todos colheremos conforme a plantação que tenhamos lançado à vida, sem qualquer privilégio na Justiça Maior. A Doutrina dos Espíritos, codificada pelo mestre de Lyon, nos oferece a chave precisa para a verdadeira interpretação do Evangelho e da mediunidade, por representar em si mesmo a liberdade e o entendimento.
Estranhamente conhecemos confrades que afirmam ser o Espiritismo obrigado a misturar-se com todas as fantasias aventureiras de outros credos e com todos os exotismos religiosos, sob pena de fugir aos impositivos da fraternidade que veicula. Isso é falácia! É mister acautelar-nos sobre esse sedutor ecletismo, “buscando dignificar a Doutrina que nos consola e liberta, vigiando-lhe a pureza e a simplicidade para que não colaboremos, sub-repticiamente, nos vícios da ignorância e nos crimes do pensamento.”(3)
O legado da tolerância cristã não nos exime da necessária advertência verbal ante às enxertias conceituais e práticas anômalas que alguns confrades intentam impor nas hostes kardecianas. Não obstante repelir as atitudes extremas, não podemos prescindir da vigilância exigida pela beleza dos postulados espíritas e não hesitemos, quando a situação se impõe, no alerta sobre a fidelidade que devemos a Kardec e a Jesus.
Importa não esquecermos que nas mínimas concessões descaracterizamos o projeto da Espiritualidade. É óbvio que o esforço pela fidelidade doutrinária sem vivê-la é consolidar focos de confusão, impondo normas para os outros, despreocupados da própria vigília. Desta forma, para evitarmos determinadas práticas perfeitamente dispensáveis em nome do Espiritismo, entendamos que prática de fidelidade aos preceitos espíritas é processo de aprendizagem com responsabilidade nas bases da dignidade cristã, sem quaisquer resquícios de fanatismo, tendente a impossibilitar discussão sadia em torno de questões polêmicas. Não esqueçamos, entretanto, que médium espírita-cristão deve ser o nosso caráter, ainda mesmo nos sintamos em reajuste, depois da queda. Médium espírita-cristão deve ser a nossa conduta, ainda mesmo que estejamos em duras experiências. Médium espírita-cristão deve ser a marca do nosso ser, ainda mesmo respiremos em aflitivos combates conosco mesmo.
Assumir compromissos, em qualquer área de ação dos arraiais espíritas, constitui possibilidade de engrandecimento espiritual, se compreendermos o caráter divino do Consolador Prometido. Lamentavelmente, contudo, no movimento espírita ainda existe enorme percentagem de confrades desinformados, relativamente à grandeza da Doutrina Espírita. Grande número de médiuns procura prazeres envenenados ante os apelos sedutores da vida terrena nesse particular. Os que se identificam, contudo, na perseguição à ilusão arrasadora vivem ainda distantes das legítimas noções de responsabilidade e devem ser colocados à margem de qualquer apreciação. Até porque os conceitos doutrinários não falam aos espíritos (infantilizados), embriões da espiritualidade, mas às inteligências e corações que já se mostram suscetíveis de receber-lhes a lição.
Os médiuns, admitidos nos grupos espíritas, precisam compreender a complexidade e excelsitude do trabalho que lhes assiste. É compreensível que se interessem pelo mundo, pelos acontecimentos do dia a dia, todavia, é imprescindível não perder de vista que o compromisso no lar e junto ao centro espírita que frequenta é de grave responsabilidade, onde se deve atender aos desígnios divinos, no tocante aos serviços mais importantes que lhes foram conferidos.
Receber encargos na mediunidade é alcançar nobres títulos de confiança. Por isso, educar e exercitar os atributos psíquicos e aperfeiçoá-los não é serviço do menor esforço. Muitos médiuns vivem desviados, através de vários modos, seja nos comportamentos místicos ou na demasia de exigência fenomênica. Todavia, à luz do Ensinamento do Cristo, caminharão todos no rumo da era do espírito, compreendendo que, se para ser médium são necessários profundos exercícios de disciplinas, à frente dessas qualidades deve brilhar o necessário esforço do equilíbrio.
“Doutrina Espírita quer dizer Doutrina do Cristo. E a Doutrina do Cristo é a doutrina do aperfeiçoamento moral em todos os mundos. Guardemo-la, pois, na existência, como sendo a nossa responsabilidade mais alta, porque dia virá em que seremos naturalmente convidados a prestar-lhe contas.”(4)
Jorge Hessen
Fonte
(1) Xavier, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ:Ed. FEB, 2003
(2) idem
(3) idem
(4) idem

quarta-feira, 5 de maio de 2010

SOLIDARIEDADE NA PERSPECTIVA KARDECIANA





O que é solidariedade? Para os egoístas a palavra reverbera perturbadora. Incomoda porque o seu verdadeiro significado impõe mobilização de recursos em favor do próximo. Fundamenta-se em valores que não conseguimos quantificar. Mas, o que é ser solidário? É sentir a necessidade íntima de partilhar, é querer ir mais além, é perceber que a alegria de dar é indiscutivelmente superior à de receber; é estender a mão ao próximo sem olhar sua raça, condição gênero, conta bancária. A internalização do sentimento solidário torna-nos efetivamente pessoas melhores. A solidarização é o “sentimento de identificação com os problemas de outrem, o que leva as pessoas a se ajudarem mutuamente”(1). É uma maneira de assistência moral e espiritual que se concede a alguém, seja por simpatia, piedade ou senso de justiça. No sentido de laço de união fraternal que une as pessoas, pelo fato de serem semelhantes, chamamos de solidariedade humana. É compromisso pelo qual nos sentimos em obrigação umas em relação às outras, ou seja, é a interdependência e a reciprocidade.
Infelizmente vivemos num ambiente social de quimeras postergadas, de sonhos frustrados, de mentes cansadas, numa sociedade de nódoas morais, de “mentes vazias” e atoladas nas futilidades hodiernas, isoladas no cipoal do “ego” enregelado. Vivemos completamente mergulhados na vida egocêntrica, que nos remete irreversivelmente à solidão. O Espírito Emmanuel ressalta que “a técnica avançou da produção econômica em todos os setores, selecionando o algodão e o trigo por intensificar-lhes as colheitas, mas, para os olhos que contemplam a paisagem mundial, jamais se verificou entre os encarnados tamanha escassez de pão e vestuário. Aprimoraram-se as teorias sociais de solidariedade e nunca houve tanta discórdia”(2).
Os males que afligem a Humanidade são resultantes exclusivamente do egoísmo (ausência de solidariedade). A eterna preocupação com o próprio bem-estar é a grande fonte geradora de desatinos e paixões desajustantes. A máxima "Fora da Caridade não há Salvação"(3) é a bandeira da Doutrina Espírita na luta contra o egoísmo. A solidariedade é a caridade em ação, a caridade consciente, responsável, atuante, empreendedora. Os preceitos espíritas contribuem para o progresso social, deteriora o materialismo, faz com que os homens compreendam onde está seu verdadeiro interesse. O Espiritismo destrói os preconceitos “de seitas, de castas e de raças, ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos”(4). Destarte, segundo os Benfeitores espirituais, “quando o homem praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade”(5).
A recomendação do Cristo “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”(6) assegura-nos o regime da verdadeira solidariedade e garante a confiança e o entendimento recíproco entre os homens. A solidariedade na vida social é como o ar para o avião.
O avião, apesar de toda tecnologia, se não tiver ar ele não voa. A prática desse sentimento vivifica e fecunda os germens que nele existem, em estado latente, nos corações humanos. A Terra, local de provação e de exílio, será pacificada por esse fogo sagrado e verá exercido na sua superfície a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor e da solidariedade.
É imprescindível darmo-nos, através do suor da colaboração e do esforço espontâneo na solidariedade, para atender, substancialmente, as nossas obrigações primárias, à frente do Cristo(7).
Ante as responsabilidades resultantes da consciência doutrinária, que nos impõe a superar a temática de vulgaridade e imediatismo ante o comportamento humano, em larga maioria, a máxima da solidariedade apresenta-se como roteiro abençoado de uma ação espírita consciente, capaz de esclarecer e edificar os corações, com a força irresistível do exemplo.

Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

Fontes:

(1) Cf. Dicionário Caldas Aulete
(2) Xavier, Francisco Cândido. "Fonte Viva" ditada pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1992
(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. XV
4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, pergunta 799
(5) idem perg.
(6) Jo 15.12
(7) Xavier, Francisco Cândido. "Fonte Viva" ditada pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1992


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sábado, 1 de maio de 2010

DICAS NECESSÁRIAS PARA O CENTRO ESPIRITA




Reunimos na formatação deste trabalho, à guisa de sugestões e subsídio, às atividades dos Centros Espíritas, algumas lições dos Mentores espirituais e, principalmente, as recomendações contidas no opúsculo “Orientação ao Centro Espírita”(1), publicado pela Federação Espírita Brasileira. Lembrando que, em função das realidades próprias de cada Centro Espírita, poder-se-á aceitá-las e/ou adotá-las, parcial ou totalmente, consoante suas conveniências e necessidades.

Cumpre-nos esclarecer, primeiramente, a diferença entre Doutrina Espírita e Movimento Espírita. Doutrina Espírita é um conjunto de conhecimentos científicos, filosóficos e morais, além de uma estrutura metodológica e tem como base o estudo do Espírito e sua comunicação com o homem. O Movimento Espírita, por sua vez, é o conjunto de ações e interações humanas vinculadas ao Espiritismo. Desenvolve-se através de atividades realizadas pelos Centros Espíritas, pelo movimento de unificação, pelas editoras, pelas instituições assistenciais, etc.

As nossas argumentações são destinadas aos dirigentes, aos médiuns, aos colaboradores e, também, aos que freqüentam a Casa Espírita, para incentivá-los a algumas reflexões prático-didáticas (2) e colaborar nas suas diversas tarefas doutrinárias.

Uma instituição espírita só alcançará, plenamente, seus objetivos se as aspirações de cada trabalhador se consubstanciar num único objetivo, ou seja, no “amai-vos uns aos outros”, observadas a tolerância e a simplicidade de coração, como práticas de virtudes evangélicas.

Não podemos esquecer, porém, que todos nós estamos sujeitos às influências do mal. Muitas vezes, a obsessão, o personalismo exagerado ou a ignorância de princípios fundamentais interferem na dinâmica do Centro e, para não ficarmos vulneráveis a essas sugestões, importa que vigiemos, sempre, nossas atitudes para com os nossos semelhantes, não confundindo liberdade, com deliberações particulares, com licença para praticar um “Espiritismo” exótico, e o que bem se entenda por Casa Espírita. “Para busca da unidade de princípios, de fazer adeptos esclarecidos, capazes de espalhar as idéias espíritas” (3) é fundamental o Estudo Sistematizado da Doutrina, com programação, previamente, elaborada, com base na Codificação, recordando que “O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá (...)” (4)

Emmanuel enfatiza que “a maior caridade que podemos ter para com a Doutrina Espírita é a sua própria divulgação”. (5) Sem proselitismos, claro! Daí a importância da reunião pública destinada a palestras ou conferências, para difusão do Espiritismo, no seu tríplice aspecto, através de explanações doutrinárias realizadas por integrantes do Centro, ou convidados, visando, neste caso, ao intercâmbio e à troca de experiência com outros grupos coirmãos. Nesse sentido, ressalte-se que a tribuna espírita deve ser oferecida, apenas, a pessoas que tenham conduta moral-evangélica segura, razoável conhecimento doutrinário e capacidade de comunicação (sem exigência, do dom da oratória) a fim de que possa inspirar confiança e respeito aos freqüentadores.

Essas providências são imprescindíveis para que não ocorram pregações de princípios estranhos aos projetos espíritas, ressaltando-se, aqui, que é dever do dirigente da reunião esclarecer o assunto ao publico, com fundamento doutrinário, se o expositor se equivocar com afirmações estranhas. Nas páginas de “Conduta Espírita” (6), André Luiz dedica-nos espaço importante em profícuo comentário sobre os aplausos, que devem ser evitados após palestras. Para não gerar desentendimentos e desequilíbrios vários, que a harmonia seja favorecida pelo silêncio. Até porque, uma palestra não é show ou espetáculo para entretenimento. Orador consciente não espera e nem necessita de elogios e bajulações.

Não permitir, que, da tribuna espírita, haja ataques ou censuras a outras religiões, bem como “Impedir (...) discussões de ordem política nos centros,”, [para que aí] não se transforme em palanque de propaganda política “(7). Dessa maneira, repelir justificativas de políticos oportunistas que “pretextem defender os princípios doutrinários ou aliciar prestígio social para a Doutrina, em troca de votos ou solidariedade a partidos e candidatos. O Espiritismo não pactua com interesses puramente terrenos “(8).
Outro assunto a ser observado é com relação à reunião de desobsessão que, impreterivelmente, deve ser privativa, visando o auxílio aos Espíritos desencarnados e aos encarnados, envolvidos em dramas de reajuste. Outro detalhe importante, na defesa do Centro Espírita, contra as investidas das falanges de espíritos obsessores, é a oração, no início e no fim dos trabalhos. Porém, devem ser evitadas, quanto possível, sessões sistematizadas de desobsessão, sem a presença de dirigentes moralizados e com suficiente conhecimento doutrinário. Em que pese suas nuanças complexas, cada Templo Espírita deve e precisa possuir a sua equipe de servidores da desobsessão, destinada a socorrer as vítimas da desorientação espiritual”.(9) Infere-se, portanto, que desobsessão deve ser praticada no Templo Espírita, ao invés de ambientes outros, de caráter particular.

O Centro Espírita é local de trabalho onde nos reestruturamos, despojando-nos dos vícios, transformando-nos para o bem e não um lugar para entretenimento, nem clube recreativo, e, muito menos, lugar para se exercer o "compromisso" da semana, desobrigando-nos da "prática religiosa”. Não admite, de forma alguma, paramentos, uniformes, e nem “imagens ou símbolos de qualquer natureza nas sessões” (10) para que seja assegurada a incolumidade da Fidelidade Doutrinária. Até porque, “os aparatos exteriores têm cristalizado a fé em todas as civilizações terrenas”. (11) Nas suas instalações, não existem cerimônias à consagração de esponsais ou nascimentos e outras práticas estranhas ao Espiritismo, tais como velórios, colações de grau, etc.

Devem ser implementadas reuniões semanais, quinzenais ou mensais, com todos os trabalhadores que atuam nas diferentes atividades da Casa, a fim de se manter a unidade, tanto doutrinária quanto administrativa, e para que cada área de atuação obtenha os possíveis e melhores resultados. A direção do Centro Espírita deverá incentivar campanha para a implantação do “Culto do Evangelho” nos lares dos freqüentadores, principalmente nos dos recém-chegados, cabendo a uma equipe, devidamente preparada, prestar assistência e colaboração a esses cultos, em fase inicial, por meio de visitas programadas a essas famílias.

Diz o Evangelho: “Então, perguntar-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? - Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? - E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? - O Rei lhes responderá: Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes.”(12) Todo Centro Espírita deverá realizar serviço assistencial sem prejudicar sua finalidade essencial espírita, conjugando-se ajuda material com ajuda espiritual, e entendendo que toda e qualquer assistência material aos mais necessitados deva ser realizada sem prejuízo das atividades prioritárias do Centro, ou seja: tudo que diga respeito à nossa evolução moral e às necessidades dos nossos irmãos desencarnados.

Havendo instiuições espíritas instaladas próximas umas da outras, interessante seria que, unidas no mesmo ideal, fizessem, previamente, um levantamento sobre as necessidades do meio, para, em seguida, estudarem a viabilidade, ou não, de promoverem obras assistenciais que atendam, dignamente, irmãos carentes naquela região. É redundante dizer que é preferível fazer pouco, mas de boa qualidade, a se precipitar a maiores realizações dentro da improvisação e da imprevidência. No que refere às obras de maior envergadura, poderão ser desmembradas do Centro, constituindo-se entidade com personalidade jurídica própria, sem perda de seu caráter espírita, filiada, ou não, ao Centro Espírita de origem. E quanto aos Centros Espíritas recém-fundados e de pequeno porte, optarão por um serviço assistencial espírita eventual, sem criarem compromissos financeiros para o futuro, crescendo, segura e gradativamente, em suas formas de atuação, segundo os recursos humanos e financeiros disponíveis.
Os departamentos responsáveis pelos trabalhos assistenciais devem apresentar, periodicamente, relatórios estatísticos e financeiros e demonstrativos dos donativos e contribuições recebidos. A colaboração financeira, em espécie ou em serviços, que descaracterize, a qualquer título, o cunho espírita da obra, deve ser evitada. Dessa forma, impõe-se uma rigorosa prudência na seleção dos meios de consecução dos recursos financeiros, evitando tômbolas, rifas, quermesses, bailes dançantes beneficentes ou outros meios desaconselháveis ante a Doutrina Espírita.

O Centro Espírita, mantenedor de serviço assistencial a necessitados e enfermos, inclusive com receituário e distribuição de medicamentos, deverá ter, como responsável por ele, médico habilitado, em pleno exercício da medicina.

A vivência do Evangelho é o objetivo a ser alcançado por toda a humanidade. Por isso, em resumo, o Centro Espírita, basicamente, precisa promover, com vistas ao aprimoramento íntimo de seus freqüentadores, o estudo metódico e sistemático e a explanação da Doutrina Espírita, no seu tríplice aspecto - científico, filosófico e religioso – consubstanciada na Codificação Kardequiana. Deve promover a evangelização de crianças e incentivar e orientar os jovens para o estudo e prática da Doutrina e lhes favorecer a integração nas tarefas da Instituição.

Uma Casa Espírita precisa promover a divulgação da Doutrina, também, através dos livros já consagrados, selecionando as demais obras com responsabilidade; promover o estudo da mediunidade, visando oferecer orientação segura para as atividades mediúnicas; realizar atividades de assistência espiritual, mediante a utilização dos recursos oferecidos pela Doutrina, inclusive através de reuniões mediúnicas privativas de desobsessão; manter um trabalho de atendimento fraterno, através do diálogo, com orientação e esclarecimento às pessoas que buscam o Centro Espírita; promover o serviço de assistência social espírita, assegurando suas características beneficentes, preventivas e promocionais, conjugando ajuda material com ajuda espiritual, fazendo com que este serviço se desenvolva, concomitantemente, com o atendimento às necessidades de evangelização; incentivar e orientar a instituição sobre o Culto do Evangelho no Lar.

O Centro Espírita precisa manter organização própria, segundo as normas legais vigentes, compatível com a sua maior ou menor complexidade, e precisa estar estruturado de modo a atender às finalidades do Movimento Espírita; estimular o processo de trabalho em equipe; zelar para que as atividades exercidas em função do Movimento Espírita sejam gratuitas, vedada qualquer espécie de remuneração. Deve possuir Atividades de Comunicação, a saber: promover a difusão do livro espírita; utilizar os meios de comunicação - inclusive jornais, revistas, boletins informativos e volantes de mensagens, rádio e televisão - na propagação da Doutrina Espírita e do Evangelho, de maneira condizente com os seus princípios.

A propósito da Evangelização da Infância, Allan Kardec, na pergunta 383, de “O Livro dos Espíritos”, pergunta: “Qual, para o espírito, a utilidade de passar pelo estado de infância?” Obteve a seguinte resposta: “Encarnado, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo.”(13)

Nesse sentido, todo Centro Espírita e outras Instituições Espíritas, que lidem com crianças, deverão promover a evangelização da infância, com o objetivo de educar e iluminar a mente infantil através das orientações kardecianas. A Diretoria da Casa Espírita indicará, para as atividades de Evangelização da infância, um supervisor com experiência neste setor, que terá a incumbência de formar o grupo de evangelizadores. O trabalho de evangelização deverá funcionar semanalmente, com aulas ministradas no período ideal de uma hora, e poderá interromper as suas atividades por dois meses, se o considerar conveniente, a título de férias (janeiro e fevereiro, por exemplo).

As obras infantis da literatura espírita, de autores encarnados e desencarnados, devem estar, sempre, disponíveis às crianças, colaborando de modo efetivo na implantação essencial da Verdade Eterna. “O livro edificante vacina a mente infantil contra o mal.” (14)

Com relação à juventude, é fundamental que haja reuniões de Estudos Doutrinários e Atividades da Mocidade ou Juventude Espírita. Essa reunião deve congregar jovens, com idade aproximada de 13 a 25 anos, cujo objetivo é o estudo da Doutrina Espírita e atividades correlatas. As reuniões da Mocidade, no Centro Espírita, são imperiosas na vida da Instituição, porquanto, além de oferecerem aos jovens condições adequadas de estudo e aprendizagem da Doutrina Espírita, já os familiarizam com as atividades do Centro, preparando-os para os encargos que deverão assumir no futuro. É muito importante frisar que não deverá haver manifestação de Espíritos ou atividades mediúnicas nessas reuniões. Os jovens que necessitarem de assistência, nesse sentido, serão encaminhados às reuniões destinadas a atendimentos dessa natureza. Somente deverão fazer parte dessas reuniões os jovens que já adquiriram maturidade psicológica e conhecimento suficiente sobre os mecanismos da mediunidade.


Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com


Fontes:
(1) Orientação ao Centro Espírita representa a Conclusão do Conselho Federativo Nacional, da FEB, por resolução unânime, nos dias 4 a 6 de julho de 1980, em sua sede, em Brasília (DF), publicado em 1980, pela editora da FEB. (Diploma esse elaborado após vários anos de consulta a todo o movimento nacional da Doutrina, resultando assim de conselho marcantemente democrático)
(2) O Centro Espírita é uma escola de formação espiritual e moral segundo "Orientação ao Centro Espírita", de 1980, editado pela FEB. Infere-se daí que também é consensual a convicção de que a Casa Espírita seja, ou deva ser, uma escola. Isto é, destinada a educar, formar e edificar almas, tendo por endereço pedagógico como educando todos os seus trabalhadores e freqüentadores. O Centro, exercendo a função básica de escola, leva o homem a trabalhar o seu mundo emocional, através do autodescobrimento, da reflexão. Dessa maneira é consensual a convicção de que o centro seja, ou deva ser, uma escola. Isto é, destinado a educar, formar e edificar tendo por endereço pedagógico como educando todos os seus trabalhadores e freqüentadores
(3) Kardec, Allan.Obras Póstumas, RJ: Ed FEB, 1999 - Projeto 1868
(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 1980 – 50 ª edição, Introdução, VIII
(5) Xavier, Francisco Cândido. Estude e Viva, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 1999, cap. 40
(6) XAVIER, Francisco Cândido. VIEIRA, Valdo. Conduta Espírita. Pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: FEB, 2001.
(7) Idem
(8) Idem
(9) XAVIER, Francisco Cândido. VIEIRA, Valdo. Desobsessão. Pelo Espírito André Luiz, Rio de janeiro: FEB, 2000,INTRÓITO
(10) XAVIER, Francisco Cândido. VIEIRA, Valdo. Conduta Espírita. Pelo Espírito André Luiz, Rio de janeiro: FEB, 2001
(11) idem
(12) (MATEUS, 25:37 A 40.)
(13) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1997, perg. 383
(14) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, RJ: Ed. FEB, 7 ª edição 1979

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